Caminho do Mar: o filme do rio Paraíba do Sul.
por Juliana de Carvalho –
Foi fazendo a edição de um livro
sobre os cursos hídricos da cidade do Rio de Janeiro que me deparei
com a história da transposição do rio Paraíba do Sul para
abastecer de água a cidade. Parece estranho, mas essa é uma
informação que a maioria dos cariocas desconhece, ou não entende a
importância e o perigo do fato. Diante da minha ignorância e
surpresa, pensei: isso vale um filme. Assim nasceu o argumento
Paraíba do Sul , o filme que mais tarde se chamaria Caminho do Mar,
por sugestão do diretor convidado Bebeto Abrantes, inspirado em um
verso do poema O Rio, de João Cabral de Melo Neto.
Caminho do Mar, que estreia nos
cinemas do Rio e de São Paulo, no dia 7 de junho, na Semana do Meio
Ambiente, não é um documentário-denúncia, que quer revelar os
culpados, é um grito de alerta contra o descaso das autoridades
brasileiras frente ao desgaste de nosso meio ambiente e dos nossos
recursos naturais. Em especial, a esse rio que abastece uma das
regiões mais populosas do Brasil: a região Sudeste.
É natural uma relação de conflito
entre as cidades e o uso de suas águas. Mas no caso do rio Paraíba
do Sul um desastre ambiental acontece diariamente e estamos ignorando
a gravidade da situação. Depois do que aconteceu com o rio Doce,
não é alarmismo dizer que o Rio de Janeiro pode um dia acordar sem
ter água para beber. Como disse Paulo Canedo, nosso consultor em
hidrologia para o filme: “Dói no coração ver nossos rios sendo
mortos”.
O rio Paraíba do Sul nasce em São
Paulo, por entre um rico fragmento de Mata Atlântica, na Serra da
Bocaina, e ao longo de um bom percurso desliza das regiões de
maiores altitudes para as mais planas em meio a duas serras, a do Mar
e a da Mantiqueira. Nesse percurso recebe águas de inúmeros
afluentes até desaguar no litoral fluminense, em Campos dos
Goytacazes e São Francisco do Itabapoana. Como dados numéricos ele
também é majestoso. Ao todo, são 5,5 milhões de habitantes, sendo
1,8 milhão no estado de São Paulo, 2,4 milhões no Rio de Janeiro e
1,3 em Minas Gerais. Ao todo são 184 municípios que dependem da
água da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul. Esse contingente
aumenta quando incluímos os 8,7 milhões de habitantes da região
metropolitana do Rio de Janeiro, uma vez que também consomem a água
dessa bacia hidrográfica.
No entanto, apesar da sua
expressividade nacional, seja populacional seja econômica (detêm o
maior PIB – Produto Interno Bruto), o índice de tratamento do
esgotamento sanitário é menor que 11,3 % (Fonte: CEIVAP). Além
desse aspecto, outros contribuem para o desequilíbrio ambiental na
bacia como: despejos de efluentes industriais, os inúmeros
barramentos hidrelétricos, os desmatamentos, o uso irregular do
solo, dentre outros.
Inevitavelmente, tal descaso
interfere na biodiversidade aquática. Em relação aos peixes, o
Paraíba do Sul ainda possui uma grande variedade de espécies, mas é
na porção terminal desse rio que as espécies são mais diversas,
nos cursos médio inferior e o baixo Paraíba do Sul. Esses trechos,
além de não serem industrializados, ainda possuem como rotas
migratórias para possibilitarem a reprodução dos peixes, e também
rotas de escape para os peixes durante os recorrentes acidentes
químicos, inclusive mantendo espécies ameaçadas de extinção,
como a piabanha (Brycon insignis), o surubim-do-Paraíba
(Steindachneridiom parahybae) dentre outros. É por esse e outros
motivos é que temos que preservá-lo.
Nossa missão é trazer para o
debate político e popular o futuro do Paraíba do Sul, e quem sabe
alterar o curso dessa história. Parafraseando o clássico filme
brasileiro do mestre do documentário Eduardo Coutinho, “Cabra
marcado para morrer” ( 1984) não vamos deixar o Paraíba do Sul
ser mais um rio marcado para morrer.
Juliana de Carvalho,
idealizadora e produtora do documentário, e Guilherme
Souza, depoente do filme e biólogo do Projeto Piabanha.
Fonte:
ENVOLVERDE
Nenhum comentário:
Postar um comentário