segunda-feira, 14 de maio de 2018


Caminho do Mar: o filme do rio Paraíba do Sul.


por Juliana de Carvalho – 

Foi fazendo a edição de um livro sobre os cursos hídricos da cidade do Rio de Janeiro que me deparei com a história da transposição do rio Paraíba do Sul para abastecer de água a cidade. Parece estranho, mas essa é uma informação que a maioria dos cariocas desconhece, ou não entende a importância e o perigo do fato. Diante da minha ignorância e surpresa, pensei: isso vale um filme. Assim nasceu o argumento Paraíba do Sul , o filme que mais tarde se chamaria Caminho do Mar, por sugestão do diretor convidado Bebeto Abrantes, inspirado em um verso do poema O Rio, de João Cabral de Melo Neto.

Caminho do Mar, que estreia nos cinemas do Rio e de São Paulo, no dia 7 de junho, na Semana do Meio Ambiente, não é um documentário-denúncia, que quer revelar os culpados, é um grito de alerta contra o descaso das autoridades brasileiras frente ao desgaste de nosso meio ambiente e dos nossos recursos naturais. Em especial, a esse rio que abastece uma das regiões mais populosas do Brasil: a região Sudeste.

É natural uma relação de conflito entre as cidades e o uso de suas águas. Mas no caso do rio Paraíba do Sul um desastre ambiental acontece diariamente e estamos ignorando a gravidade da situação. Depois do que aconteceu com o rio Doce, não é alarmismo dizer que o Rio de Janeiro pode um dia acordar sem ter água para beber. Como disse Paulo Canedo, nosso consultor em hidrologia para o filme: “Dói no coração ver nossos rios sendo mortos”.
O rio Paraíba do Sul nasce em São Paulo, por entre um rico fragmento de Mata Atlântica, na Serra da Bocaina, e ao longo de um bom percurso desliza das regiões de maiores altitudes para as mais planas em meio a duas serras, a do Mar e a da Mantiqueira. Nesse percurso recebe águas de inúmeros afluentes até desaguar no litoral fluminense, em Campos dos Goytacazes e São Francisco do Itabapoana. Como dados numéricos ele também é majestoso. Ao todo, são 5,5 milhões de habitantes, sendo 1,8 milhão no estado de São Paulo, 2,4 milhões no Rio de Janeiro e 1,3 em Minas Gerais. Ao todo são 184 municípios que dependem da água da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul. Esse contingente aumenta quando incluímos os 8,7 milhões de habitantes da região metropolitana do Rio de Janeiro, uma vez que também consomem a água dessa bacia hidrográfica.

No entanto, apesar da sua expressividade nacional, seja populacional seja econômica (detêm o maior PIB – Produto Interno Bruto), o índice de tratamento do esgotamento sanitário é menor que 11,3 % (Fonte: CEIVAP). Além desse aspecto, outros contribuem para o desequilíbrio ambiental na bacia como: despejos de efluentes industriais, os inúmeros barramentos hidrelétricos, os desmatamentos, o uso irregular do solo, dentre outros.

Inevitavelmente, tal descaso interfere na biodiversidade aquática. Em relação aos peixes, o Paraíba do Sul ainda possui uma grande variedade de espécies, mas é na porção terminal desse rio que as espécies são mais diversas, nos cursos médio inferior e o baixo Paraíba do Sul. Esses trechos, além de não serem industrializados, ainda possuem como rotas migratórias para possibilitarem a reprodução dos peixes, e também rotas de escape para os peixes durante os recorrentes acidentes químicos, inclusive mantendo espécies ameaçadas de extinção, como a piabanha (Brycon insignis), o surubim-do-Paraíba (Steindachneridiom parahybae) dentre outros. É por esse e outros motivos é que temos que preservá-lo.

Nossa missão é trazer para o debate político e popular o futuro do Paraíba do Sul, e quem sabe alterar o curso dessa história. Parafraseando o clássico filme brasileiro do mestre do documentário Eduardo Coutinho, “Cabra marcado para morrer” ( 1984) não vamos deixar o Paraíba do Sul ser mais um rio marcado para morrer.

Juliana de Carvalho, idealizadora e produtora do documentário, e Guilherme Souza, depoente do filme e biólogo do Projeto Piabanha.

Fonte: ENVOLVERDE

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