‘MP do Trilhão’, que concede
isenção fiscal a empresas petrolíferas, é alvo de ação judicial.
Os corredores do Congresso Nacional têm estado
agitados nos últimos dias. O recesso legislativo se aproxima e os parlamentares
tentam aprovar a toque de caixa todos os projetos pendentes do ano. Um dos
temas mais polêmicos é a Medida Provisória 795, aquela que dá subsídios
trilionários à indústria do petróleo – a famosa MP do Trilhão. Por apenas 24
votos de diferença, a Câmara dos Deputados aprovou na última semana o
texto-base da medida, que aguarda agora a votação no plenário do Senado
Federal. A proposta consta como o primeiro item da pauta na próxima terça-feira
(12), e divide opiniões dos senadores, prometendo outra votação apertada.
Após denúncia de organizações da sociedade civil e Ação Popular na Justiça Federal, medida que concede isenção fiscal a empresas petrolíferas aguarda votação pelo Senado Federal na próxima semana.
Na tarde de ontem, as mais de 150 organizações da
sociedade civil contrárias à medida protocolaram uma carta endereçada ao
presidente do Senado, Eunício Oliveira, pedindo o arquivamento da MP. Nicole
Figueiredo de Oliveira, diretora da 350.org Brasil e América Latina, uma das
organizações signatárias da carta e que encabeça a campanha, ajuizou na Justiça
Federal do DF, também nesta quinta-feira (07), uma Ação Popular requerendo a
nulidade do trâmite da MP.
A ação alega que, “conforme Nota Técnica nº 39/17
da Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados, a
renúncia fiscal não foi considerada na estimativa de receita do Projeto de Lei
Orçamentária, ao contrário do que determina a legislação brasileira.” Para
Nicole, a medida desrespeita não só os cidadãos como também a Constituição. “A
estima do governo Temer pela indústria petrolífera é tamanha que querem aprovar
essa medida a qualquer custo, passando por cima do rito processual do próprio
Congresso. Não dá para confiar no processo legislativo, por isso estamos
recorrendo ao judiciário”, explicou.
Suhellen Prestes, assessora jurídica da 350.org
Brasil e COESUS (Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida),
justificou que não basta a MP dizer que “irá considerar” a renúncia na
estimativa de receita do Projeto de Lei Orçamentária, ela deve efetivamente
considerá-la e dar-lhe publicidade, e que qualquer ato diferente disso viola o
princípio constitucional da legalidade.
“Adotamos essa medida a fim de
restabelecer a lógica legal do processo legislativo, que, neste caso, deixa de
atender suficientemente ao que preceitua a LDO [Lei de Diretrizes
Orçamentárias] e a Lei de Responsabilidade Fiscal, quando deixa de apontar as
efetivas perdas e compensações decorrentes da MP.”
Impacto aos cofres públicos
Com a medida, o governo federal pretende abrir
mão de todo o dinheiro investido em produção de óleo pelas multinacionais até
2040, além dos impostos para a importação de equipamentos para o setor. Segundo
estimativas, a renúncia fiscal pode chegar a R$ 300 bilhões em 25 anos apenas
com os blocos ofertados no pré-sal nas últimas rodadas de leilões, podendo
ultrapassar R$ 1 trilhão se considerados todos os blocos para exploração de
petróleo.
Isso ocorre em plena recessão econômica, quando
diversos setores governamentais têm sofrido cortes orçamentários, a exemplo do
próprio Ministério do Meio Ambiente, que teve redução de cerca de 50% em seus
recursos para 2018. Outra medida polêmica, a reforma da Previdência prevê uma
suposta economia de R$ 480 bilhões em dez anos para os cofres públicos, o que
significa menos da metade dos incentivos às petroleiras. Segundo uma análise da
Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara, somente entre
2018 o governo deixará de arrecadar R$ 16,37 bilhões caso a MP 795 seja
aprovada.
Além do rombo nos cofres públicos, a medida ainda
expõe o Brasil a um aumento das emissões de gases do efeito estufa sem
precedentes. Isso porque somente as camadas do pré-sal contêm cerca de 75
bilhões de toneladas de gás carbônico, o que corresponde a 18% de tudo o que a
civilização ainda pode emitir se quiser estabilizar o aquecimento global em
1,5oC, como prevê a meta final do Acordo de Paris, do qual o país é signatário.
“Nunca foi dado um volume de isenção fiscal tão
grande quanto este a um setor no país. Ver isso acontecer num contexto de grave
crise econômica e climática é um completo absurdo. Uma irresponsabilidade com a
população, que é quem paga as contas no final – tanto em termos financeiros
quanto de saúde e qualidade de vida. Só nos resta agora torcer para que ainda
haja um pouco de discernimento no Senado Federal, porque do Planalto não dá
para esperar mais nada”, defendeu Nicole Oliveira.
Fonte: EcoDebate
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