Conexão
CDP 2017: Sinergia público/privado aponta caminhos para o futuro.
por Reinaldo Canto, da Envolverde,
especial para o CDP –
A construção de um futuro sustentável passa
necessariamente pela redução das emissões de carbono em empresas e na gestão
pública.
No final de novembro a organização Carbon
Diclousure Program – CDP – reuniu empresas e representantes de cidade em
diversos países para dialogar sobre exemplos de boas ações em mitigação das
mudanças climáticas e em uma economia de baixo carbono. O evento realizado em
30/11, no Teatro Vivo, em São Paulo mostrou que existem experiências em lugares
bastante diversos como metrópoles brasileiras, municípios médios e cidades
latino-americanas.
O encontro, que reuniu empresas, gestores
públicos e organizações da sociedade civil, o discurso proposto foi de
otimismo, “há sinais suficientes para uma transição para uma economia de baixo
carbono”, afirmou Juliana Lopes, diretora do CDP Latin America. Ela deixou
claro que ainda falta muito para alcançar resultados que sejam capazes de
segurar o aumento médio da temperatura do planeta somente em 2ºC. Os recentes
números apresentados na Conferência do Clima na Alemanha (COP 23/Bonn) que
deram conta do aumento das emissões nos últimos anos é o exemplo mais claro,
“esse é o maior desafio da nossa geração“, enfatizou Dal Marcondes,
diretor-executivo da Envolverde, ao abrir os trabalhos do encontro mediando a
primeira mesa de discussões.
Durante um dia inteiro o Conexão CDP propôs
exatamente esse enfrentamento convergindo à atuação dos atores capazes de
transformar a realidade e construir um novo caminho. Para isso, é preciso que
todos sejam apresentados, busquem sinergias e, claro cheguem também aos
financiadores que desejam e precisam investir em bons projetos.
Experiências que inspiram
Na primeira parte do Conexão CDP foram relatadas
iniciativas internacionais de cidades que tem obtido bons resultados no combate
às mudanças climáticas e que concomitantemente resultam em melhoria na
qualidade de vida de seus moradores.
Lucía Yolanda Alonso, diretora geral de planejamento
e coordenação de políticas do governo da Cidade do México, uma das mais
importantes e poluídas cidades da América Latina, afirmou que os mexicanos da
capital estão comprometidos com ações climáticas. “Estamos focados na transição
para energias renováveis”, exemplificou Lucia, destacando os benefícios que
essas mudanças trazem para a população, “projetos ambientais tem conexão direta
com a qualidade de vida das pessoas”, completou a mexicana. Entre os diversos
programas podemos destacar as políticas que visam controlar a poluição
atmosférica como a de controle veicular de motores verificados duas vezes ao
ano e o manejo de recursos naturais como a conservação de espécies endêmicas
(cerca de 60% da Cidade do México possui atividades agropecuárias). Mas o que
chamou a atenção foi o projeto de bônus verdes que tem obtido ótimos resultados
para os investidores graças à transparência das informações e efetividade na
aplicação dos recursos. Um bom exemplo é a destinação desse dinheiro em apoio
ao transporte público e investimentos em novas linhas de BRT (Bus Rapid
Transit).
Green bounds ou se preferirem bônus verdes também
aparecem como aposta de Washington, capital norte-americana, cujos detalhes
foram apresentados por Gabriel Thoumi, diretor da Climate Advisers. Como no
caso dos Estados Unidos, Gabriel acha que importante também é alertar e
orientar os investidores quanto as melhores opções, “procuramos passar
informações sobre os riscos econômicos das mudanças climáticas”, explica ele, e
completa. “eles precisam ser bem entendidos e que além do mais deixar claro que
eles representam boas oportunidades de negócios com reais possibilidades de se
obter lucro”. A comercialização de títulos de green bounds com vencimento de
100 anos foi apontado, pelo norte-americano, como um exemplo concreto da aposta
de longo prazo dos investidores.
Infográfico do CDP revela o longo trajeto
que ainda temos pela frente
O CDP aproveitou o encontro para lançar um
infográfico inédito com indicadores de como empresas e cidades na América
Latina gerenciam recursos sustentáveis. Segundo Lauro Marins, Gerente Sênior de
Relacionamento com as Empresas, “o Infográfico também tem a missão de
popularizar e descomplicar as informações para que sejam facilmente entendidos
por todos”. Com o Infográfico foi possível saber que das 155 cidades
consultadas, 38 reportaram suas emissões, oito delas possuem metas de redução
de emissões e outras 32 administrações municipais firmaram compromisso de
reduzir em breve as suas emissões. Um dado promissor foi o de que 70% das
cidades consultadas enxergam oportunidades de bons negócios na transição para
uma economia de baixo carbono.
Em relação ao setor privado, das 95 empresas
presentes no infográfico 70% possuem metas de redução das emissões. Uma
informação muito relevante mostrada no Infográfico foi que as ações listadas
com investimentos na ordem de R$ 896 milhões para melhoria nos processos
produtivos incindiram em uma economia de R$ 3,6 bilhões.
Para o gerente Lauro Marins do CDP, o Infográfico
apresenta algumas boas notícias, mas deixa claro que muita coisa ainda precisa
ser feita, “tanto em relação a cidades como empresas é preciso um maior
engajamento e mais trabalho para chegar onde queremos e desejamos”.
Rick Stathers, Head Global de Iniciativas com Investidores
do CDP enfatizou em sua apresentação a evolução do investimento responsável e
acredita que levar mais informações para a comunidade global, premiar e
reconhecer os esforços de empresas e lideranças que tem liderado esse processo
é fundamental, além é claro, apontar os riscos para aqueles que acham
desnecessárias ações de mitigação, “a biocapacidade do planeta de suportar os
altos níveis de consumo e de desperdício já foi superada e as consequências
estão aí como as mudanças climáticas e a acidificação dos oceanos, por
exemplo”. Um outro ponto destacado por ele foi o de que o mercado de capitais
precisa reconhecer os riscos financeiros desses impactos e envidar esforços e
claro investimentos naqueles responsáveis por projetos sustentáveis.
Exatamente por isso, o CDP elegeu empresas como
MRV e Braskem e cidades tais como Niterói e Rio de Janeiro, La Serena (Chile) e
Cidade do México (a melhor da América Latina) para serem premiadas por projetos
de sustentabilidade que já conseguem obter ótimos resultados.
Luiz Carlos Xavier, gerente de Desenvolvimento Sustentável da Braskem, destacou a participação no Conexão CDP como a oportunidade de, “encontrar opções e alternativas entre o poder público e a iniciativa privada buscando soluções para caminhar juntos em prol da sustentabilidade”.
Troca de informações e experiências
No que poderemos chamar de segunda parte do
Conexão CDP as experiências, boas práticas e ações sustentáveis puderam ser
trocadas e discutidas entre os participantes. Nas Rodas de Negócios de 20
minutos cada foram colocados frente a frente empresas, cidades e investidores
para aproximar e facilitar os contatos e possíveis parcerias.
Entre números, bons exemplos e riscos cada vez
maiores, o Conexão CDP deixou claro que o enfrentamento do aquecimento global e
das mudanças climáticas terá que ser uma missão de todos.
Impactos globais
exigem ações globais, mas que começam na cidade, na empresa, mas para chegar a
toda sociedade é preciso também o engajamento do setor financeiro, do capital
que investe e tem o poder de alavancar e expandir os bons projetos. O CDP
Conexão contribuiu para apresentar alguns desses caminhos bastando agora o
engajamento de mais investidores conscientes para a roda da história girar no
sentido certo!
O CDP é uma organização internacional sem fins
lucrativos, formada por grandes investidores interessados na avaliação do
desempenho das empresas em função dos desafios ambientais de mudanças
climáticas, recursos hídricos e florestas. Atualmente é formada por 827
investidores que administram um total de US$ 100 trilhões em ativos. A
organização tem ainda em sua base de respondentes mais de 570 cidades no mundo
todo reportando seus dados em 2017.
Fonte: ENVOLVERDE
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