terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Conexão CDP 2017: Sinergia público/privado aponta caminhos para o futuro.
por Reinaldo Canto, da Envolverde, especial para o CDP – 

A construção de um futuro sustentável passa necessariamente pela redução das emissões de carbono em empresas e na gestão pública.

No final de novembro a organização Carbon Diclousure Program – CDP – reuniu empresas e representantes de cidade em diversos países para dialogar sobre exemplos de boas ações em mitigação das mudanças climáticas e em uma economia de baixo carbono. O evento realizado em 30/11, no Teatro Vivo, em São Paulo mostrou que existem experiências em lugares bastante diversos como metrópoles brasileiras, municípios médios e cidades latino-americanas.

O encontro, que reuniu empresas, gestores públicos e organizações da sociedade civil, o discurso proposto foi de otimismo, “há sinais suficientes para uma transição para uma economia de baixo carbono”, afirmou Juliana Lopes, diretora do CDP Latin America. Ela deixou claro que ainda falta muito para alcançar resultados que sejam capazes de segurar o aumento médio da temperatura do planeta somente em 2ºC. Os recentes números apresentados na Conferência do Clima na Alemanha (COP 23/Bonn) que deram conta do aumento das emissões nos últimos anos é o exemplo mais claro, “esse é o maior desafio da nossa geração“, enfatizou Dal Marcondes, diretor-executivo da Envolverde, ao abrir os trabalhos do encontro mediando a primeira mesa de discussões.

Durante um dia inteiro o Conexão CDP propôs exatamente esse enfrentamento convergindo à atuação dos atores capazes de transformar a realidade e construir um novo caminho. Para isso, é preciso que todos sejam apresentados, busquem sinergias e, claro cheguem também aos financiadores que desejam e precisam investir em bons projetos.

Experiências que inspiram

Na primeira parte do Conexão CDP foram relatadas iniciativas internacionais de cidades que tem obtido bons resultados no combate às mudanças climáticas e que concomitantemente resultam em melhoria na qualidade de vida de seus moradores.

Lucía Yolanda Alonso, diretora geral de planejamento e coordenação de políticas do governo da Cidade do México, uma das mais importantes e poluídas cidades da América Latina, afirmou que os mexicanos da capital estão comprometidos com ações climáticas. “Estamos focados na transição para energias renováveis”, exemplificou Lucia, destacando os benefícios que essas mudanças trazem para a população, “projetos ambientais tem conexão direta com a qualidade de vida das pessoas”, completou a mexicana. Entre os diversos programas podemos destacar as políticas que visam controlar a poluição atmosférica como a de controle veicular de motores verificados duas vezes ao ano e o manejo de recursos naturais como a conservação de espécies endêmicas (cerca de 60% da Cidade do México possui atividades agropecuárias). Mas o que chamou a atenção foi o projeto de bônus verdes que tem obtido ótimos resultados para os investidores graças à transparência das informações e efetividade na aplicação dos recursos. Um bom exemplo é a destinação desse dinheiro em apoio ao transporte público e investimentos em novas linhas de BRT (Bus Rapid Transit).

Green bounds ou se preferirem bônus verdes também aparecem como aposta de Washington, capital norte-americana, cujos detalhes foram apresentados por Gabriel Thoumi, diretor da Climate Advisers. Como no caso dos Estados Unidos, Gabriel acha que importante também é alertar e orientar os investidores quanto as melhores opções, “procuramos passar informações sobre os riscos econômicos das mudanças climáticas”, explica ele, e completa. “eles precisam ser bem entendidos e que além do mais deixar claro que eles representam boas oportunidades de negócios com reais possibilidades de se obter lucro”. A comercialização de títulos de green bounds com vencimento de 100 anos foi apontado, pelo norte-americano, como um exemplo concreto da aposta de longo prazo dos investidores.

Infográfico do CDP revela o longo trajeto que ainda temos pela frente

O CDP aproveitou o encontro para lançar um infográfico inédito com indicadores de como empresas e cidades na América Latina gerenciam recursos sustentáveis. Segundo Lauro Marins, Gerente Sênior de Relacionamento com as Empresas, “o Infográfico também tem a missão de popularizar e descomplicar as informações para que sejam facilmente entendidos por todos”. Com o Infográfico foi possível saber que das 155 cidades consultadas, 38 reportaram suas emissões, oito delas possuem metas de redução de emissões e outras 32 administrações municipais firmaram compromisso de reduzir em breve as suas emissões. Um dado promissor foi o de que 70% das cidades consultadas enxergam oportunidades de bons negócios na transição para uma economia de baixo carbono.

Em relação ao setor privado, das 95 empresas presentes no infográfico 70% possuem metas de redução das emissões. Uma informação muito relevante mostrada no Infográfico foi que as ações listadas com investimentos na ordem de R$ 896 milhões para melhoria nos processos produtivos incindiram em uma economia de R$ 3,6 bilhões.

Para o gerente Lauro Marins do CDP, o Infográfico apresenta algumas boas notícias, mas deixa claro que muita coisa ainda precisa ser feita, “tanto em relação a cidades como empresas é preciso um maior engajamento e mais trabalho para chegar onde queremos e desejamos”.

Rick Stathers, Head Global de Iniciativas com Investidores do CDP enfatizou em sua apresentação a evolução do investimento responsável e acredita que levar mais informações para a comunidade global, premiar e reconhecer os esforços de empresas e lideranças que tem liderado esse processo é fundamental, além é claro, apontar os riscos para aqueles que acham desnecessárias ações de mitigação, “a biocapacidade do planeta de suportar os altos níveis de consumo e de desperdício já foi superada e as consequências estão aí como as mudanças climáticas e a acidificação dos oceanos, por exemplo”. Um outro ponto destacado por ele foi o de que o mercado de capitais precisa reconhecer os riscos financeiros desses impactos e envidar esforços e claro investimentos naqueles responsáveis por projetos sustentáveis.

Exatamente por isso, o CDP elegeu empresas como MRV e Braskem e cidades tais como Niterói e Rio de Janeiro, La Serena (Chile) e Cidade do México (a melhor da América Latina) para serem premiadas por projetos de sustentabilidade que já conseguem obter ótimos resultados.

Luiz Carlos Xavier, gerente de Desenvolvimento Sustentável da Braskem, destacou a participação no Conexão CDP como a oportunidade de, “encontrar opções e alternativas entre o poder público e a iniciativa privada buscando soluções para caminhar juntos em prol da sustentabilidade”.

Troca de informações e experiências

No que poderemos chamar de segunda parte do Conexão CDP as experiências, boas práticas e ações sustentáveis puderam ser trocadas e discutidas entre os participantes. Nas Rodas de Negócios de 20 minutos cada foram colocados frente a frente empresas, cidades e investidores para aproximar e facilitar os contatos e possíveis parcerias.

Entre números, bons exemplos e riscos cada vez maiores, o Conexão CDP deixou claro que o enfrentamento do aquecimento global e das mudanças climáticas terá que ser uma missão de todos. 

Impactos globais exigem ações globais, mas que começam na cidade, na empresa, mas para chegar a toda sociedade é preciso também o engajamento do setor financeiro, do capital que investe e tem o poder de alavancar e expandir os bons projetos. O CDP Conexão contribuiu para apresentar alguns desses caminhos bastando agora o engajamento de mais investidores conscientes para a roda da história girar no sentido certo!

O CDP é uma organização internacional sem fins lucrativos, formada por grandes investidores interessados na avaliação do desempenho das empresas em função dos desafios ambientais de mudanças climáticas, recursos hídricos e florestas. Atualmente é formada por 827 investidores que administram um total de US$ 100 trilhões em ativos. A organização tem ainda em sua base de respondentes mais de 570 cidades no mundo todo reportando seus dados em 2017.


Fonte: ENVOLVERDE

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