‘O Pacto
Global aproxima atores importantes e traz a sustentabilidade para uma esfera
prática e sustentável’.
Em sua entrevista, a Presidente da Rede Brasil do
Pacto Global e Superintendente de Sustentabilidade e Negócios Inclusivos do
Itaú Unibanco, Denise Hills, ressalta o trabalho da Rede Brasil como espaço de
aprendizado e troca de experiências entre empresas e organizações. Além disso,
destaca a visão estratégica da iniciativa em juntar diferentes atores para a
construção colaborativa de práticas sustentáveis. Ela ainda conta como será seu
mandato como a primeira mulher na presidência.
CONFIRA:
A Rede Brasil do Pacto Global fará 15 anos em 2018.
Na sua opinião, qual o principal legado que a iniciativa vem deixando para as
empresas brasileiras?
Denise Hills: A Rede Brasil do Pacto Global é a quarta maior
rede do mundo, com mais de 700 signatários. Para além deste número, podemos
perceber a mobilização gerada pela Rede Brasil em nosso país. Considerando a
diversidade das empresas e organizações signatárias, os impactos são bastante
significativos. Nesse sentido, o principal papel que o Pacto Global pode
cumprir a partir de toda essa diversidade, é continuar promovendo articulações
entre governos, empresas e organismos sociais, auxiliando a conectar diferentes
perfis em prol dos desafios sociais, ambientais e econômicos para a
sustentabilidade. São poucas as iniciativas no país que conseguem promover esse
tipo de articulação de forma tão produtiva, efetiva e consistente. Portanto,
completar 15 anos sendo umas das redes mais ativas, prezando pelo
comprometimento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) por parte
das empresas, é um verdadeiro legado.
Denise Hills
Desde o lançamento dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS), há dois anos, o Pacto Global da ONU tem sido seu principal
interlocutor para o setor privado. Qual a importância da Agenda 2030 para a
estratégia das empresas nos próximos anos?
DH: Desde o lançamento dos ODS, o Pacto Global
passou a ter o compromisso de realizar esse diálogo, buscando estimular o setor
privado a atuar de forma sustentável a partir da construção de suas estratégias
de negócio. Tendo em vista que os Objetivos Globais fazem emergir questões que
envolvem todos os setores da economia, o desafio dessa interlocução é fazer com
que todos nós enderecemos os ODS e seus indicadores como parte das nossas
estratégias, em conjunto com a sociedade e com o país. E os ODS são um
excelente mecanismo para enfrentar os desafios sociais, ambientais e econômicos
tão urgentes. Nesse sentido, o Pacto Global consegue conectar as empresas com
os ODS, para que eles sejam de fato aplicados no Brasil. E claro, isso requer o
engajamento das empresas signatárias em termos de trocas de experiências e
aprendizados quanto ao uso de ferramentas, definição de estratégias,
diagnósticos e implementação. Ao compartilhar erros e acertos, as empresas
acabam inspirando outras a terem os ODS como referência. Dessa forma, acredito
que a Agenda 2030 é estratégica porque firma o compromisso na busca por uma
nova sociedade, pautada na sustentabilidade e envolvendo todos os setores e
públicos.
Pode-se dizer que a Rede Brasil do Pacto Global
instaurou novos parâmetros de negócios no Brasil?
DH: Claro. A Rede Brasil tem vários exemplos de
como isso foi possível e isso não vem de hoje.
Desde a Rio+20 e a COP 21,
empresas signatárias vêm promovendo e disseminando suas práticas e aprendizados
em sustentabilidade. E isso está intrinsecamente relacionado ao ODS 17
(Parcerias e meios de implementação), que tem como prerrogativa a articulação
entre parceiros e o fortalecimento dos meios de implementação, atitudes
essenciais para o Pacto Global. As redes locais, em especial a Rede Brasil, possuem
o poder de mobilizar e inspirar as empresas para por em prática a aplicação de
mecanismos sustentáveis. E isso contribui para uma nova economia, gerando
práticas de mercado mais conscientes, em que os ODS são valorizados e
disseminados. Mais que buscar instaurar novas práticas de mercado, acredito que
a Rede Brasil vem auxiliando nas formas de atingir as metas dos ODS e
contribuir para o desenvolvimento sustentável de diferentes formas, seja em
pequenas ou grandes empresas. Além disso, promove a aproximação entre governos,
empresas e demais instituições em busca de objetivos em comum: trazer a
sustentabilidade para uma esfera prática e mensurável.
Como idealizadora do GT ODS, qual tem sido a
contribuição da Rede Brasil do Pacto Global para avanços na área?
DH: Os resultados chegam de forma crescente, com
avanços desde o lançamento dos ODS, em 2015, até hoje. Acredito que a principal
contribuição do Grupo Temático é articular e disseminar os ODS de forma que
empresas e instituições estejam comprometidas a atuar em seus modelos de
negócios para endereçar os 17 Objetivos Globais e suas 169 metas. Primeiro,
temos trabalhado em difundir as metodologias que desenvolvemos, com a intenção
de promover os ODS como estratégia empresarial. Um exemplo disso foi o
lançamento do guia SDG Compass, que busca auxiliar empresas a maximizarem sua
contribuição para os ODS e minimizar os impactos negativos, orientando suas
estratégias para criar negócios sustentáveis e reduzir riscos, e do estudo
Integração dos ODS na Estratégia Empresarial – Uma Contribuição do Comitê
Brasileiro do Pacto Global para a Agenda 2030, que demonstrou a forma como
ações de empresas do Comitê Brasileiro do Pacto Global têm impactado o
cumprimento da Agenda 2030, seja de forma positiva ou negativa. Além disso, o
GT tem sempre buscado promover encontros e workshops para que as empresas e
organizações reflitam sobre seus papéis em uma agenda tão significativa. É
trocando experiências, exercitando a aplicação dos ODS nas práticas
empresariais e tendo diagnósticos e estratégias tangíveis sobre quais Objetivos
são mais relevantes para uma determinada atividade que conseguiremos
alcançá-los. Afinal, todos os 17 ODS estão interligados, basta cada empresa
perceber em qual deles a contribuição pode ser mais efetiva.
Como a nova Presidente da Rede Brasil do Pacto
Global – e a primeira mulher a liderar a iniciativa – quais os seus principais
objetivos e como como acredita que a iniciativa pode seguir fazendo a diferença
em sustentabilidade corporativa nos próximos anos?
DH: Como Presidente da Rede Brasil do Pacto Global,
um papel ainda mais desafiador me foi atribuído de fazer da nova gestão um
espaço de renovação de ideias, estimulando a contribuição dos membros do Comitê
Brasileiro do Pacto Global (CBPG) para novas estratégias de governança e
fazendo com que os ODS sejam cada vez mais integrados aos Grupos Temáticos. E
não há como fazer uma boa gestão sem que as parcerias já existentes sejam
potencializadas e novas conexões sejam estabelecidas. Acredito que, com
responsabilidades em comum e de forma compartilhada, podemos tornar possível o
desenvolvimento sustentável.
Relate os principais desafios e resultados que o
Itaú Unibanco experimentou ao se comprometer formalmente com os Dez Princípios
do Pacto Global da ONU.
DH: Um dos desafios está em traduzir os princípios
do Pacto Global e as metas dos ODS internamente. Atrelar os princípios desde as
nossas estratégias de negócio nos possibilita vivenciar práticas que, por meio
de ações concretas, refletem o nosso compromisso formal. Externamente, nos
comprometemos a participar e contribuir objetivamente com a agenda da Rede
Brasil do Pacto Global, compartilhando práticas e aprendizados em conjunto para
garantir um desenvolvimento ainda maior. Internamente, por exemplo, questões
relacionadas à garantia de direitos humanos nortearam as nossas políticas de
diversidade. Outro quesito que nos direciona rumo aos ODS são as nossas
políticas e processos para garantir ética e transparência, com campanhas
internas, treinamentos e canais de denúncia. E como financiadores de diversos
setores da economia, temos políticas de crédito e risco, que consideram
aspectos sociais e ambientais nas análises, influenciando práticas alinhadas ao
desenvolvimento sustentável, entre outros quesitos.
Fonte: ENVOLVERDE
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