Mais de
80% da população brasileira habita 0,63% do território.
As áreas
consideradas urbanas no Brasil representam menos de 1% do território nacional
(0,63%) e concentram 190,7 milhões de pessoas, ou seja, 84,3% da população
brasileira. Os dados vieram do mais detalhado trabalho de identificação de
áreas urbanas já feito no País. Executado por profissionais da Embrapa Gestão Territorial (SP), o estudo Identificação, mapeamento e
quantificação das áreas urbanas do Brasil levou três anos para ser concluído e exigiu observação minuciosa
de centenas de imagens de satélite. Todas as informações geradas estão
disponíveis para serem baixadas gratuitamente na internet no formato shapelife.
O trabalho permitiu,
entre várias outras aplicações, relacionar os municípios com maior densidade
populacional urbana, lista que tem no topo Nilópolis, localizado na baixada
fluminense, cujos 158.309 habitantes ocupam menos de 10 km2,
resultando em mais de 16 mil habitantes por quilômetro quadrado (Tabela 4). Entre as cidades com
mais de 200 mil habitantes, Diadema, na Grande São Paulo, é a que apresenta a
área urbana mais densamente povoada, com média de 13.875 moradores por
quilômetro quadrado (Tabela 1). Na
comparação entre unidades da federação, o Estado de Alagoas é o que apresenta
maior densidade demográfica urbana, com 4.880 pessoas por quilômetro quadrado.
No extremo oposto está Tocantins, cujas áreas urbanas abrigam, em média, 1.538
habitantes por quilômetro quadrado (Tabela 2). São
Paulo, Rio de Janeiro e Brasília lideram, nessa ordem, a lista dos municípios
de maior área urbana do País (Tabela 3).
Tabela 1 – Fonte: Farias et Al. 2017
Os resultados têm inúmeras aplicações práticas,
como subsidiar políticas públicas, estudos demográficos, projetos de
desenvolvimento urbano e investimentos em infraestrutura e logística. “Os
municípios com maior densidade populacional nas cidades, por exemplo, costumam
apresentar maiores desafios para a gestão pública e exigir mais demandas e
serviços públicos,” exemplifica o geógrafo André Rodrigo Farias, analista da
Embrapa e principal autor do trabalho. Segundo ele, o controle de disseminação
de pragas e doenças agrícolas é outro exemplo de aplicação dos resultados.
“Percebemos que muitas pragas não são inicialmente detectadas nas regiões de
fronteira, mas nas cidades. Por isso, é fundamental identificar as áreas
urbanas para trabalhos de gestão territorial e controle dessas pragas”,
comenta.
Tabela 2 – Fonte: Farias et Al. 2017
Um dos maiores desafios da equipe foi definir
conceitualmente área urbana e área rural. Em seus estudos demográficos, o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) utiliza a delimitação
legal que cada município determina para estabelecer seu perímetro urbano e suas
áreas rurais. “Nessa classificação, é muito comum áreas tipicamente urbanas com
grande densidade de construções serem catalogadas como rurais e vice-versa”,
explica Farias. As razões para isso são várias como, por exemplo, a necessidade
de atualização da legislação municipal para que acompanhe a dinâmica de
ocupação do solo.
De acordo com o especialista, muitas áreas
determinadas legalmente pelos municípios diferem, em maior ou menor grau,
daquelas observadas no levantamento feito pela Embrapa, o que justifica a
diferença em relação aos dados do IBGE. “Nesse estudo, o objetivo era mapear as
áreas urbanas da forma mais exata possível por meio de imagens de satélite de
alta resolução, reconhecendo, para isso, concentrações visíveis de edificações,
loteamentos e arruamentos,” esclarece o geógrafo. A imagem abaixo exemplifica o
trabalho:
As linhas vermelhas determinam os limites do
setor classificado como urbano pelo IBGE no Censo Demográfico de 2010. Em azul,
está a área urbana delineada pelo estudo da Embrapa.
As linhas vermelhas determinam os limites do
setor classificado como urbano pelo IBGE no Censo Demográfico de 2010. Em azul,
está a área urbana delineada pelo estudo da Embrapa.
Tabela 3 – Fonte: Farias et Al. 2017
Aplicações para a defesa sanitária
Para o entomologista Luiz Alexandre Nogueira de
Sá, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (SP), o mapeamento será valioso
para diversas ações, como o conhecimento da capacidade de dispersão das pragas
e de seu efetivo controle. Ele lembra que a área urbana oferece abrigo para
algumas pragas importantes para a lavoura. “A mosca-da-carambola, por exemplo,
encontra hospedeiros em quintais e ruas de diversas cidades do Amapá. A própria
carambola é muito plantada no meio urbano”, relata.
Por esse motivo, o
especialista defende que as ações voltadas ao controle de pragas como essa
devem ser planejadas considerando-se também as áreas urbanas.
O cientista ressalta ainda que a maior ameaça dos
citros da atualidade, o HLB, é transmitido por um inseto sugador que ataca
também a murta, planta arbustiva decorativa presente em jardins de muitas
cidades. “Qualquer ação de controle da Dioaphorina citri (inseto-praga
vetor do HLB) deve levar em consideração áreas próximas que tenham murta,”
recomenda Nogueira, frisando mais uma vez a importância de se conhecer as áreas
urbanas tanto quanto as rurais. Ações de manejo integrado de pragas (MIP), por
exemplo, devem envolver também áreas urbanas sujeitas a servir de abrigo à
praga-vetora do HLB.
Outra contribuição importante do trabalho, de
acordo com Nogueira de Sá, é permitir o acompanhamento da dinâmica de ocupação
urbana. Ele explica que o avanço das cidades sobre áreas rurais altera flora e
fauna locais e deslocam pragas que estavam restritas a determinadas áreas.
“Pragas que estavam isoladas em certos campos, muitas vezes, vão procurar
abrigo em outras áreas rurais, quando o meio urbano invade seu espaço,” detalha
o cientista, enfatizando que esse processo muitas vezes desloca pragas para
lugares em que elas nunca haviam estado, gerando desafios novos nas lavouras.
Tabela 4: Fonte: Farias et Al. 2017
Delimitação manual
O trabalho exigiu a observação criteriosa das
imagens de satélite de todos os municípios brasileiros.
O trabalho da equipe
foi, inicialmente, o de comparar a área urbana delimitada no censo de 2010 com
a observada nas imagens. Quando havia discrepância, o técnico realizava ajuste
cartográfico delimitando manualmente a área urbana observada na imagem. Foi
utilizada a escala 1:50.000 para cada um dos municípios, o que, de acordo com o
geógrafo André Rodrigo Farias, garante elevada exatidão para esse processo. A
resolução maior proporcionada pelas tecnologias atuais também garantiu mais
exatidão ao estudo, em comparação a trabalhos semelhantes feitos anteriormente.
Ao finalizar, foram somadas as áreas de todos os
polígonos urbanos do Brasil, o que totalizou 54.077 km2,
correspondente a 0,63% de todo o território brasileiro. Farias acredita que o
trabalho precisará de atualizações a cada década, uma vez que a dinâmica de
ocupação do solo não costuma ser rápida e apresenta, proporcionalmente,
pequenas alterações em relação ao tamanho do território nacional.
Fonte: EMBRAPA
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