O sol que castiga o sertão é realidade como fonte de energia na Paraíba.
Por Reinaldo
Canto*— da Envolverde
A
solução solar é ótima para comunidades mais distantes e isoladas
da rede de distribuição, mas nada impede que áreas urbanas façam
a opção.
Se em
boa parte do País a energia
solar ainda é uma promessa, representando menos de 1% na matriz
energética brasileira, no extremo noroeste do estado da Paraíba já
é uma realidade e com potencial para crescer muito, pois existem
projetos variados que englobam ações no setor público, privado e
de organizações da sociedade civil.
A Paraíba e a região Nordeste
apresentam os maiores e melhores níveis de radiação solar do
Brasil fora os enormes ganhos que essa opção representa no que
tange ao enfrentamento das mudanças climáticas em razão de ser uma
energia limpa e renovável.
Só para se ter uma ideia, o
município de Sousa possui apenas 10% (80 mil habitantes) da
população registrada na capital, mas já é responsável por gerar
2,5 vezes mais energia solar que João Pessoa, o que representa em
torno de 2,1 megawatts.
Claro que o tema do uso da energia
solar no sertão está diretamente associado às preocupações com a
segurança hídrica e as consequências cada vez mais severas do
aquecimento global.
Diversas regiões do Nordeste
brasileiro e a Paraíba é uma delas enfrenta há sete anos uma seca
severa cujas consequências não são mais dramáticas em razão de
programas como a construção de cisternas, Bolsa Família e os de
apoio à agricultura familiar que, possibilitaram manter o sertanejo
produzindo e sendo capaz de dar condições de vida para suas
famílias, programas estes que foram se consolidando nos últimos 15
anos.
“Não se ouve mais falar em
flagelado, frentes de trabalho e migrações, graças principalmente
as cisternas que garantiram o abastecimento de água dos
trabalhadores do campo”, afirma a professora Mariana Moreira, da
Universidade Federal de Campina Grande, Campus Cajazeiras.
Mas para a captação da água que
escasseia na região é fundamental obter fontes de energia a preços
acessíveis e que sejam capazes, entre outras necessidades, de
extrair e tratar a água que será consumida pelas famílias.
Por essa razão, o Comitê de
Energias Renováveis do Semiárido vem trabalhando há mais de quatro
anos junto aos pequenos produtores por meio de suas associações,
comunidades e apoio da academia.
César Nóbrega, coordenador-geral
do Cersa, aponta que a energia elétrica representa um grande custo
para o agricultor familiar e a fonte solar pode representar a
independência energética do pequeno produtor, “dessa forma
deixamos de ver a energia como mercadoria, mas como um bem à
disposição das pessoas”, explica Nóbrega.
A ideia central dos projetos tocados
pelo Cersa é a descentralização e independência das pequenas
propriedades rurais para que de maneira autônoma sejam capazes de
gerar sua própria energia e fazer frente às suas necessidades. É o
caso do Assentamento Acauã, localizado na cidade de Aparecida, cujas
placas fotovoltaicas instaladas na vila movimentam a bomba d´água
que abastece todas as suas 114 famílias.
Cidade Solar
Se a solução solar é ótima para
comunidades mais distantes e isoladas da rede de distribuição, nada
impede que áreas urbanas já servidas por energia elétrica façam a
opção pela abundante renovável.
Em Sousa, essa opção já está
presente em hotel, posto de gasolina e até mesmo a paróquia Centro
Pastoral da Paróquia de Santana e o cemitério da cidade já são
solares. Nesse último, um sistema de poço artesiano movido pela
energia solar abastece de água a população local e serve para a
limpeza do cemitério São João Batista.
O município de Sousa também foi
pioneiro em todo o estado da Paraíba ao instalar o primeiro sistema
solar fotovoltaico em escola estadual de ensino fundamental e médio,
o colégio Professora Dione Diniz Oliveira Dias no Núcleo
Habitacional II. O projeto foi realizado em parceria com o Comitê de
Energias Renováveis do Semiárido (Cersa), o Fórum de Mudanças
Climáticas e Justiça Social, Misereor (entidade ligada à Igreja
Católica alemã) e a Cáritas (católica brasileira).
Além de tudo isso, 5% das
dependências da Prefeitura já são abastecidas com energia solar.
Para o prefeito Fábio Tyrone, do PSB, a opção pela energia solar
de Sousa já está consolidada. “Queremos que todos os prédios da
prefeitura migrem pra energia solar”.
Segundo o prefeito, em apenas 30
meses os investimentos seriam recuperados. A cidade possui em torno
de 26 escolas e 28 postos de saúde, além de cerca de cinquenta
imóveis, totalizando mais de 100 espaços públicos, incluindo aí a
iluminação pública.
O prefeito de Sousa também se
compromete a viabilizar a instalação de painéis solares nas
residências. O valor médio de 8 mil reais para abastecer a casa de
uma família com quatro pessoas levaria, pelas condições atuais, em
torno de seis anos para ser pago. Com incentivo público, crédito e
condições facilitadas, a cidade poderá servir de grande exemplo
para o Nordeste e para todo o Brasil sobre como aproveitar o que
temos de melhor e transformar o limão (sol escaldante) em limonada
(energia da melhor qualidade).
*O jornalista viajou a convite
da agência de notícias Inter Press Service
Fonte:
ENVOLVERDE
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