A questão ambiental não tem vez na campanha eleitoral.
Por Lúcia Chayb e René
Capriles, da Revista Eco21
Editorial Edição 262
Ao longo dos debates, encontros com
diversos atores da sociedade civil, empresários, industriais,
cientistas, os candidatos à Presidência da República não
manifestaram particular interesse na questão ambiental. Dados e
informações não faltaram. Todos os candidatos receberam de parte
de instituições ambientalistas farta documentação sobre
desmatamento, territórios indígenas, unidades de conservação,
recursos hídricos, resíduos sólidos, energia, agrotóxicos,
desertificação, mudanças climáticas, mobilidade urbana, etc.
Capa da Edição 262
O grande destaque pode ser dado ao
médico sanitarista Eduardo Jorge, do PV, candidato a vice de Marina
Silva que, coerente com a posição do seu partido, mais de uma vez
colocou, entre outras propostas, a necessidade de implementar uma
política nacional sobre energias limpas, defesa do licenciamento
ambiental, e de combate às mudanças climáticas, fora das questões
do saneamento e do fornecimento de água. Já as candidatas à vice,
Ana Amélia, de Gerardo Alckmin e Kátia Abreu, de Ciro Gomes,
defendem o agronegócio e o uso intensivo de agrotóxicos, mesmo se
declarando a favor de uma agricultura de baixo carbono.
Jair Bolsonaro avança pela
contramão do preconizado pela ONU e pela maioria dos países no que
se refere à consecução dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável e à ratificação do Acordo de Paris. Bolsonaro
expressou, seguindo o exemplo de Trump, que deixará o Acordo de
Paris e alguns dos organismos da ONU, além de transformar o
Ministério do Meio Ambiente, o IBAMA e o ICMBio, em dependências do
Ministério da Agricultura. Ao tomar conhecimento destas declarações,
o Ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, afirmou que desmontar o
MMA e enfraquecer o Ibama “levará a uma disparada do desmatamento
na Amazônia”.
O Financial Times tocou no assunto
num artigo de Lauro Marins, Diretor Executivo da América Latina do
Carbon Disclosure Project (CDP), que disse: “Proteger os valiosos
recursos naturais do Brasil tem sido uma conversa quase ausente nas
eleições nacionais deste ano. De fato, nenhum dos candidatos fez
qualquer menção específica à adaptação climática e muito
poucos estabeleceram uma posição sobre a interrupção do
desmatamento. Um enfraquecimento da política ambiental aumentaria o
risco financeiro e a incerteza entre o setor privado, ignorando a
demanda global dos investidores e consumidores por produtos com baixo
teor de carbono e livres de desmatamento. Isso pode ter um impacto
severo na economia, uma vez que o Brasil é um dos maiores
exportadores mundiais de commodities agrícolas. Esta não é uma
solução adequada para o Brasil.
O mundo está numa jornada rumo a
uma economia verde e o Brasil tem muito a ganhar com a transição”.
Por sua vez Márcia Hirota e Mário Mantovani, da SOS Mata Atlântica
reclamaram: “Onde estão os candidatos com pauta ambiental? Meio
ambiente deveria ser uma agenda central no debate eleitoral, já que
é essencial para a qualidade de vida de todos. Precisamos eleger uma
bancada ambientalista forte, o que passa, inevitavelmente, pelos
movimentos de renovação política que surgiram na sociedade
brasileira”. Pelo visto, a bancada forte será a dos evangélicos.
A Frente Parlamentar Evangélica hoje conta com mais de 200 deputados
representando os 40 milhões de evangélicos que apoiam Bolsonaro e
outros candidatos aos legislativos em todo o país. Por outro lado, o
populismo representado por Bolsonaro já tem seu estrategista: Steve
Bannon, que convocou os evangélicos dos EUA para eleger Trump. No
dia 4 de agosto, Bannon se encontrou nos EUA com Eduardo Bolsonaro,
filho de Jair, para ajudar na campanha e abrir a estrada que norteará
o fortalecimento da extrema direita no país. Felizmente o Brasil
conta com líderes como Eduardo Jorge, Alessandro Molon e Carlos
Minc, entre outros, que trilham rumo ao desenvolvimento sustentável.
Fonte: ENVOLVERDE
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