Consciência no (pós-) consumo.
por Cristiane Lima
Cortez* e José Goldemberg** –
Todos os dias, nós consumimos ar,
água, alimentos e uma infinidade de produtos manufaturados. Como
consequência, geramos poluentes atmosféricos, efluentes líquidos e
resíduos sólidos. Alguns, inevitáveis, como o gás carbônico da
respiração, que junto com outras fontes de emissão de gases de
efeito estufa – como o combustível dos transportes e o lixo
orgânico disposto nos aterros sanitários – contribuem para o
aumento do aquecimento global. Questão difícil de resolver, pois
depende de ações integradas de todos os países, uma vez que seus
efeitos são globais, e, assim, a sociedade muitas vezes não
consegue se enxergar como parte da solução.
Mas se tomarmos consciência de que
nossos hábitos de consumo estão diretamente ligados à solução
(ou à piora) desses problemas, conseguiremos entender claramente
como a responsabilidade é, em primeiro lugar, de cada um de nós.
Essa é a proposta do Dia do Consumo Consciente, celebrado anualmente
no dia 15 de outubro. A data foi instituída pelo Ministério do Meio
Ambiente em 2009 para despertar a consciência das pessoas não
apenas para as ameaças ambientais, mas sociais, econômicas e
políticas, oriundas de padrões de produção e consumo excessivos e
insustentáveis.
Que tal começarmos pelos resíduos
sólidos? Cada brasileiro gera, em média, 1 quilo de resíduo sólido
por dia. Então, devemos agir em duas frentes: (i) produzir menos
resíduos e (ii) segregar os resíduos produzidos a fim de que o
máximo possível possa ser reutilizado ou reciclado.
Assim, o consumidor consciente evita
usar produtos descartáveis e prefere comprar produtos com menos
embalagens, optando por refis e alimentos a granel. O movimento
“sem-lixo” ou “lixo zero” presente no mundo todo (e também
no Brasil) mostra como famílias que vivem nos centros urbanos
conseguem gerar pouco lixo – e, na maioria, biodegradável –,
como cascas de frutas e legumes compostados em sistemas caseiros com
minhocas, que ocupam pouco espaço.
A mudança de comportamento acontece
de forma gradativa até que todos ao redor sejam positivamente
influenciados a agir da mesma forma. É importante que todo o lixo
produzido seja segregado e destinado de forma correta. O
rejeito para a coleta municipal e reciclável pode ser levado até um
ponto de entrega voluntário (PEV) do estabelecimento comercial, do
ecoponto municipal ou associação/cooperativa de catadores ou
submetido à coleta porta a porta que algumas cidades fazem. Estamos
diante de muitas possibilidades.
Além disso, alguns resíduos
especiais, como pilhas, baterias portáteis, eletroeletrônicos e
lâmpadas, devem ser levados, de forma separada, até pontos de
entrega específicos, como manda a Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS) (Lei n.º 12.305/2010), que instituiu a
responsabilidade compartilhada entre todos os geradores de resíduos,
incluindo os consumidores como protagonistas no processo. A
corresponsabilidade é dividida entre fabricantes, importadores,
distribuidores, comerciantes, cidadãos e titulares de serviços de
manejo dos resíduos sólidos urbanos.
Vários municípios possuem leis que
preveem multas para a população e para os elos da cadeia produtiva
que descumprirem as regras de segregação dos resíduos e não
participarem de sistemas de logística reversa. Por sua vez, os
municípios precisam ter coleta de rejeitos e de recicláveis, além
de destinação eficaz dos resíduos coletados.
O consumo consciente começa a
partir do momento que compreendemos que não existem atitudes
isoladas. O que você faz (ou deixa de fazer) ao meio ambiente é
refletido em consequências, boas ou ruins, e uma coisa é certa: a
responsabilidade, sim, também é nossa.
*Cristiane Lima Cortez é
assessora técnica do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP.
Bacharel e mestre em Engenharia Química. Doutora em Energia. Membro
do Conselho de Orientação de Energia da Agência Reguladora de
Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp). Integrante do
Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê. Membro do Conselho
Municipal do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Cades), da
Secretaria do Verde e Meio Ambiente da cidade de São Paulo.
Professora dos cursos de Engenharia da Fundação Armando Alvares
Penteado (Faap). Foi coordenadora de projetos no Centro Nacional de
Referência em Biomassa do Instituto de Energia e Ambiente da
Universidade de São Paulo (Cenbio/IEE/USP).
** José Goldemberg é
presidente do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP. Doutor em
Física. Professor emérito da USP. Membro da Academia Paulista de
Letras. Membro do Conselho Estadual de Política Energética (Cepe),
da Secretaria de Energia e Mineração do Estado de São Paulo. Foi
presidente da Fapesp, da SBPC e da Cesp, além de reitor da USP.
Atuou como secretário das pastas de Ciência e Tecnologia e Meio
Ambiente de São Paulo e do Meio Ambiente da Presidência da
República. Também foi ministro da Educação e professor da
Universidade de Paris (França) e de Princeton (Estados Unidos).
Fonte:
ENVOLVERDE
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