O equilíbrio climático deve ser uma bandeira apartidária.
Por André Ferretti
e Carlos Rittl –
Estamos a alguns dias do segundo
turno das eleições que decidirão quem será o futuro presidente do
nosso País. Entre as dezenas de propostas apresentadas em diversas
áreas de extrema importância para os brasileiros, algumas estão
com o alerta vermelho ligado. O presidente eleito, independentemente
da sua bandeira partidária, não poderá tratar com descaso a
mudança climática que o nosso planeta vive. Ao nosso ver, este é o
maior desafio da humanidade neste século.
Contrariando o que muitos pensam,
isso não é apenas de uma preocupação ambiental. Trabalhar pelo
equilíbrio climático – seja em hábitos individuais, atitudes
organizacionais ou políticas públicas – é determinante para
questões como qualidade de vida, segurança alimentar,
desenvolvimento econômico, investimentos, infraestrutura, defesa
civil e muitas outras.
Precisamos correr contra o tempo. O
clima está mudando e desafia o Brasil e todas as nações a se
adaptarem. Contudo, o tema vem sendo praticamente ignorado na corrida
presidencial e medidas extremas aventadas ao longo da campanha –
como a possibilidade de sairmos do Acordo de Paris e a
desestruturação de órgãos e mecanismos ambientais de extrema
relevância para a conservação de nosso patrimônio natural –
podem colocar abaixo conquistas ambientais históricas.
O Acordo de Paris é um instrumento
de governança global extremamente importante para o desenvolvimento
econômico, social e ambiental que define medidas de redução da
emissão de gases de efeito estufa a partir de 2020 e estabelece
mecanismos para que todos os países limitem o aumento da temperatura
global e fortaleçam a defesa contra os impactos inevitáveis da
mudança climática.
Abandonar o tratado seria ignorar todos esses
benefícios e seguir os passos de Donald Trump, que fez com que os
Estados Unidos sejam o único país do mundo a querer sair do acordo.
Caso essas medidas se confirmem a
partir de 2019, esta será uma das maiores, se não a maior ameaça
já vista ao patrimônio natural brasileiro desde a redemocratização.
Tal fato seria desastroso para a sociedade e para a economia.
O Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas (IPCC) indica, por exemplo, que limitar o
aquecimento global a 1,5°C reduziria impactos sobre ecossistemas,
saúde humana e bem-estar, tornando mais viável o alcance dos
objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas.
Decisões políticas não podem simplesmente ignorar dados
científicos.
O Brasil é o País com a mais rica
biodiversidade do mundo, um ativo primordial para a qualidade de vida
da nossa população, assim como, entre outras, para a segurança
hídrica, atividades agropecuárias e nossa resiliência a eventos
climáticos extremos cada vez mais frequentes. Um ambiente
equilibrado é um direito constitucional, um dever do Estado e uma
condição básica para a manutenção dos serviços ambientais
essenciais para a nossa vida. Sem isso não tem como haver
prosperidade e qualidade de vida.
Se quiser evitar um colapso do
clima, o que impactaria severamente a nossa civilização, a
humanidade tem pouquíssimo tempo para revolucionar a economia,
fazendo com que a sociedade troque a economia fóssil e que destrói
florestas por uma sustentável e de baixo carbono.
Independentemente
de quem seja eleito nosso novo presidente, precisamos de líderes
comprometidos com essa transformação urgente e de imenso impacto,
cujas janelas de oportunidade estão se fechando.
* André Ferretti é gerente de
Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção
à Natureza e coordenador geral do Observatório do Clima.
* Carlos Rittl é membro da Rede
de Especialistas em Conservação da Natureza e secretário-executivo
do Observatório do Clima.
Fonte: ENVOLVERDE
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