terça-feira, 30 de outubro de 2018


Extrativismo gera emprego, renda e movimenta economia em áreas protegidas no Rio Xingu.

Beneficiamento da castanha-do-pará – Parcerias entre moradores, organizações e ICMBio garantem renda digna.


ABr
O dia começa cedo para a comunidade do Rio Novo, na Reserva Extrativista (Resex) do Rio Iriri, na região sudoeste do Pará. Às 5h, Marlon Rodrigues coloca no fogo a primeira panela com castanhas in natura. Esse é o início do processo de beneficiamento da castanha-do-pará realizada na miniusina de processamento de produtos extrativistas instalada na comunidade, que alcançou este ano recorde de produção.

No ano passado, foram produzidos na miniusina 1661 quilos (kg) de castanha beneficiada. Este ano a produção deve fechar em torno de 4000 kg de castanha e o valor a ser comercializado é de R$ 40 por quilo.

Depois que sai da panela, a castanha é distribuída entre os dez trabalhadores e passa por uma máquina para quebrar a casca, que depois é retirada uma a uma com auxílio de uma faca.

As castanhas são então selecionadas e embaladas e estão prontas para a venda.

A quebra da castanha começa por volta das 7h e segue em ritmo frenético. O som das castanhas quebrando e da conversa entre os trabalhadores só para no final da tarde, às 17h.

Marlon Rodrigues passou a trabalhar na miniusina depois que seu pai adoeceu. Ele vivia da pesca e não se interessou pela atividade a princípio, mas hoje divide com sua irmã Raimunda a responsabilidade pelo beneficiamento da castanha.

“A gente mexia com pescaria e pra mexer com pescaria hoje em dia está muito ruim de peixe; tão ruim que quase não dá dinheiro nem pra comprar o alimento. Mexo aqui com castanha; meu trabalho é mexer a castanha no paiol e cozinhar castanha”, conta Marlon.
Processamento da castanha na mini usina da Comunidade do Rio Novo, um afluente do Rio Iriri na Terra do Meio. – Lilo Clareto/ISA/Direitos reservados.


A coleta da castanha começa no mês de fevereiro e vai até março. Os extrativistas coletam a castanha na mata, quebram, limpam e levam para o paiol onde ela passa dois meses secando, para então começar o processo de beneficiamento que vai até novembro – a quebra da castanha. O beneficiamento é feito de segunda a sexta-feira durante cerca de 20 dias e então a miniusina faz uma pausa para que os moradores possam se dedicar a outras atividades.

“A gente tem outro ritmo de vida depois que começou a ter miniusina, mas a gente continua tendo roça com algumas coisas, continua pescando, vai na cidade e faz alguma compra. Passa uns dez, quinze dias sem trabalhar, aí começa de novo”, explica Raimunda Rodrigues, irmã de Marlon.

Na miniusina trabalham moradores da comunidade do Rio Novo, formada por cerca de 4 famílias e da comunidade vizinha de Boa Esperança. Uma parte das castanhas é coletada por eles e o restante é comprado de outros extrativistas da reserva por meio da cantina que funciona na comunidade, responsável por adquirir os produtos coletados pelos extrativistas.

“Cantinas” da Terra do Meio

A cantina do Rio Novo faz parte de uma rede de 22 cantinas espalhadas pela Terra do Meio, tanto em Terras Indígenas como Reservas Extrativistas da região. As cantinas são espaços de comercialização de mercadorias e produtos das florestas e funcionam como entreposto comercial entre a comunidade e o mercado externo. Possuem capital de giro administrado por um cantineiro escolhido pela comunidade – o que permite que as cantinas comprem a produção local dos extrativistas.

A rede conta com oito miniusinas de processamento e 44 paióis de estocagem, 153 estradas de seringas reabertas e nove casas de seringa construídas. Entre os produtos trabalhados pelas comunidades extrativistas da região, além da valorizada castanha-do-pará, comercializada com casca e desidratada,  e derivados do produto, como óleo e farinha de castanha, estão também óleo e farinha de babaçu, sementes florestais e borracha, vendida em bloco e em manta.
Raimunda Araújo Rodrigues, cantineira do Rio Novo, posa no paiol com castanhas. Processamento da castanha na mini usina da Comunidade do Rio Novo, um afluente do rio Iriri na Terra do Meio.  
Raimunda Araújo Rodrigues, cantineira do Rio Novo, no paiol com castanhas – Lilo Clareto/ISA/Direitos reservados.


De 2009 a 2017, o faturamento da rede de cantinas girou em torno de R$ 400 mil ao ano e a expectativa é fechar 2018 com R$ 1,8 milhão. As cantinas também acumularam um capital de giro superior a R$ 500 mil. Apenas nas três reservas extrativistas  da região — Xingu, Iriri e Riozinho do Anfrísio, onde vivem cerca de 300 famílias -, o capital de giro chegou a quase R$ 300 mil.

A comunidade do Rio Novo, por exemplo, coleta uma média de 200 caixas de castanhas – com cerca de 22 kg cada uma – e compra o restante de outros extrativistas por meio da cantina para fazer o beneficiamento. Esse ano entraram na cantina mais de 900 caixas de castanha. Quatrocentas foram vendidas para os contratos da rede de cantinas e 510 estão em processo de beneficiamento. O capital de giro da miniusina que começou com R$ 10 mil em 2012 chegou a R$ 65 mil no ano passado.

“Nós compramos esses 65 mil e muito mais do que isso de castanha, porque a gente fez empréstimo. A rede ajuda a gente a processar, pagar as pessoas que quebram a castanha e quando a gente revende a castanha beneficiada paga todas as dívidas que ficaram com o capital de giro nas cantinas”, explica Raimunda.

Balanço anual

O beneficiamento da castanha na miniusina que começou em outubro vai seguir sem pausa durante 33 dias para encerrar a produção anual e fazer o balanço para a reunião de cantineiros que acontece anualmente em Altamira todo ano no final de novembro, antes do início da nova coleta de castanha.

Na reunião, representantes de todas as cantinas trocam experiências sobre a produção durante o ano, os ganhos, perdas, e também discutem qual deve ser o preço da castanha com casca e da castanha beneficiada para o próximo período, valor que é adotado por todas as cantinas.

“Antigamente você vivia humilhada pelos atravessadores. Eles chegavam e falavam pra ti que iam pagar R$ 10 na caixa de castanha e você aceitava aquilo porque não tinha pra onde vender. Hoje as cantinas fecham o contrato sobre o preço da castanha e o atravessador tem que comprar naquele preço. Então, tem mais segurança pra nós, tem mais lugar pra correr atrás, não tem só aquela opção”, ressalta Raimunda.

O Rio Novo está localizado na Estação Ecológica onde começa a Reserva Extrativista (Resex) do Rio Iriri, na região da Terra do Meio, entre os rios Xingu e Iriri, formada por áreas protegidas que somam 8 milhões de hectares. Os encontros entre os cantineiros para negociar produtos e discutir preços também aproximou os moradores de diferentes áreas que ficavam muitas vezes isolados uns dos outros devido às grandes distâncias.

“O pessoal vivia muito longe. Eu nasci e me criei nesse local, não conhecia Riozinho, não conhecia ninguém que morasse pra cima do Rio, pra cima da Boa Esperança. E depois das cantinas a gente começou a entrar em contato, cantineiro com cantineiro, pessoa com pessoa, reunião, então a gente começou a conhecer mais, ficar mais próximo um do outro. E circular dentro do território”, conta Raimunda.

A utilização do capital de giro permite que os extrativistas recebam o pagamento assim que entregam a castanha na cantina. Antes eles tinham que esperar até sete meses para receber o dinheiro pelo produto coletado, devido a uma logística complexa de transporte e venda dos produtos.

Renda digna

Para chegar até a comunidade de Rio Novo, a reportagem da Agência Brasilpercorreu cerca de 300 quilômetros (km) de carro saindo do centro de Altamira (PA), ao longo de sete horas. Foram cerca de 200 quilômetros pela Transamazônica. A parte mais demorada do trajeto foram os 90 km finais pela Transiriri, que consumiram quatro horas, devido às más condições da estrada de terra até  Maribel. De lá, faz-se uma travessia de 40 minutos de barco pelo Rio Iriri até a Resex. No período de chuvas, o trajeto é todo feito de barco.

Instalada em 2011, a miniusina do Rio Novo foi a primeira experiência do tipo na Terra do Meio. Os primeiros elementos processados na usina foram o óleo e o mesocarpo do babaçu, além de experiências com manteiga de cacau e óleos de andiroba, castanha e mamona.

O início dessa atividade foi impulsionado pela atuação do Instituto Socioambiental (ISA) em uma das ações para incentivar o aproveitamento integral do fruto do babaçu na região. Essas ações fazem parte de um trabalho desenvolvido pelo ISA em parceria com as associações de extrativistas da Terra do Meio para a estruturação de cadeias de valor de produtos florestais não madeireiros –  um arranjo local para extrativismo e comercialização dos produtos da floresta.
Marlon Sandro Araújo Rodrigues fecha a panela para cozinhar castanhas no vapor – Lilo Clareto/ISA/Direitos reservados.


Essa atuação partiu de uma demanda dos beiradeiros pelo direito a uma renda digna feita às organizações que atuam na região por meio da Rede Terra do Meio (RTM), articulação entre associações locais, sociedade civil, academia e poder público, com o objetivo de constituir o primeiro espaço de ações no território após a demarcação das Unidades de Conservação (UCs) na região.

Em 2008, partiu da Rede a criação de um Grupo de Trabalho (GT) de Produção e Comercialização com o objetivo de atender a essa demanda específica da população local. Participaram do GT além do ISA o Instituto de Pesquisa da Amazônia (Ipam), Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Instituto Floresta Tropical (IFT), Instituto de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Fundação Nacional do Índio (Funai), Instituto de Desenvolvimento Florestal do Pará (Ideflor) e Fundação Viver, Produzir e Preservar (FVPP).

A partir daí, foram realizados os primeiros diagnósticos de alternativas produtivas para a região junto com os beiradeiros – moradores das margens dos rios – , trabalho que se estendeu até 2011, quando teve início a implementação das cadeias produtivas na região, com busca de mercado diferenciado para os produtos e a gestão da produção dentro das Reservas Extrativitas (Resex), por meio do modelo da rede de cantinas que recebem a produção extrativista e o beneficiamento dos produtos nas miniusinas para agregar valor.

“Teve a implantação; agora é consolidação. O modelo está provado, funciona, tem os contratos, tem capital de giro, tem responsáveis, tem produto e mercado. Então, aqui o ISA começa seu processo de retirada para o modelo ficar em pé com as associações. As cantinas conseguiram se comprometer já com volumes maiores, conseguiram contrair empréstimos e mandaram ver. Hoje há uma dinâmica instalada que independe do ISA”, considera Marcelo Salazar, coordenador do componente Terra do Meio do Programa Xingu do ISA.

Fornecedores até para a Suíça

Dos contratos assinados com grandes compradores da Rede de Cantinas, um total de 3,7 toneladas de farinha de babaçu foram vendidas para as merendas de escolas de municípios na região de Altamira; 1,5 tonelada de óleo de copaíba para a empresa de perfumaria Firmenich e mais de 8 toneladas de borracha para a empresa Mercur. Além disso, em ano de safra de castanhas, 330 toneladas do produto foram vendidas para a Wickbold, Fundação Somos Um e o mercado local.

A primeira parceria comercial de longo prazo estabelecida na Terra do Meio foi feita em 2010 com a empresa gaúcha Mercur para a compra de borracha produzida nas Resex. A parceria resultou no primeiro termo de cooperação da região, um contrato que define as condições da relação comercial e o papel dos atores envolvidos na promoção e monitoramento das cadeias de valor.

Participaram do termo além da empresa compradora Mercur e a empresa responsável por beneficiar a borracha, QR Borrachas Quirino, as comunidades das Resex Riozinho do Anfrísio, Iriri e Xingu, por meio de suas associações de moradores. As organizações ISA, Imaflora, FVPP e ICMBio foram as responsáveis pelo acompanhamento da relação entre as empresas e a comunidade de extrativistas.

A segunda parceria teve início em 2011, com a empresa de perfumaria suíça Firmenich, interessada na compra do óleo de copaíba produzido pelos extrativistas da Resex Riozinho do Anfrísio. A empresa aceitou a proposta das famílias responsáveis pela coleta da copaíba e extração do óleo sobre a necessidade de adquirir previamente as mercadorias necessárias para o seu trabalho e receber pela produção no momento em que entregasse o produto. A Firmenich realizou um aporte financeiro de R$ 10 mil para a comunidade e iniciou, dessa forma, a modalidade do capital de giro na cadeia produtiva das Resex.

“Ela fez uma doação para as comunidades por meio de um fundo interno da empresa. A cada contrato novo que foi sendo feito, os extrativistas colocavam essa necessidade e isso foi crescendo e hoje está batendo quase R$ 500 mil de capital de giro próprio nas comunidades, sem depender de empréstimo, de governo, de ninguém. O capital ou está na cantina ou está em produto. Isso dá mais confiança ao produtor porque garante que ele receba na hora da entrega do produto”, explica Salazar.
Panorâmica da comunidade Rio Novo – Lilo Clareto/ISA/Direitos reservados


Em 2012, a comercialização do látex produzido nas reservas girava em torno de quatro toneladas e a de copaíba cerca de 1,2 toneladas, enquanto a castanha, um dos principais produtos extrativistas da região, tinha potencial para alcançar 500 toneladas, segundo um levantamento feito pelo ISA. Nesse ano foi realizada a terceira parceria entre as comunidades e uma empresa compradora, a primeira no ramo da castanha. O acordo foi firmado entre os extrativistas e a empresa Ouro Verde, uma processadora de castanha-do-pará em Alta Floresta, Mato Grosso, que resultou na compra das safras de castanha pela empresa.

A partir do modelo estabelecido com a copaíba na cantina do Alto Riozinho do Anfrísio, o ISA proporcionou adiantamentos de mercadoria para os castanheiros fazerem o pagamento da coleta e encaminhar o produto à cidade. Em 2014, foi iniciada a parceria mais recente com a empresa Wickbold, também relacionada à produção de castanha. O acordo foi finalizado em 2015 na Resex do Iriri e possibilitou a expansão das cantinas no território que, além das Resex, passaram a envolver também  as Terras Indígenas (TIs) Xipaya e Kuruaya.

Em 2013, a miniusina da Resex do Iriri localizada no Rio Novo passou por uma adaptação de tecnologia para trabalhar no beneficiamento da castanha desidratada. Na safra de 2016, após o acordo comercial fechado com a empresa Wickbold, foram processados no Rio Novo 1.880 quilos de castanha, 84 quilos de farinha de castanha, 309 quilos de óleo de castanha e 100 quilos de mesocarpo de babaçu, além da produção de bolsas e sacos produzidos a partir do látex, vendidos localmente. Oito famílias participaram diretamente do processamento e 14 foram envolvidas na coleta dos produtos na floresta.

Fonte: EcoDebate

Aquecimento Global: Estresse térmico reduzirá a produtividade no trabalho.

O estresse térmico afeta a saúde dos trabalhadores e reduz a produtividade do trabalho, alterando o ambiente de trabalho ambiental, levando a perdas econômicas.


Institute of Atmospheric Physics, Chinese Academy of Sciences*

Quantificar o impacto do estresse térmico na produtividade do trabalho continua sendo um problema para a pesquisa científica e a formulação de políticas.

Nos últimos anos, pesquisas baseadas em estudos de ciências sociais foram bem aplicadas para quantificar o impacto do estresse térmico na capacidade de trabalho. No entanto, os inquéritos anteriores foram principalmente para países desenvolvidos. O número de amostras era geralmente muito pequeno (centenas ou até dezenas) e não era adequado para identificar as diferenças regionais em todo o mundo. O padrão mundial de perda de produtividade relacionada ao calor (WPL) permaneceu incerto.

Recentemente, YU Shuang, XIA Jiangjiang e YAN Zhongwei do Instituto de Física Atmosférica da Academia Chinesa de Ciências, juntamente com colegas da China e do Reino Unido, sintetizaram 4363 respostas a uma pesquisa global online em 2016, a mais ampla pesquisa global sobre o efeito de estresse térmico na WPL atualmente disponível, a fim de quantificar os efeitos do estresse térmico na produtividade do trabalho em diferentes países para o ano.

Os resultados da pesquisa mostram que o WPL relacionado ao calor no ano foi de 6,6 dias para os países em desenvolvimento e de 3,5 dias para os países desenvolvidos. O WPL relacionado ao calor tem correlação negativa significativa com o PIB per capita (cc = -0,63), indicando que o WPL é inversamente proporcional ao nível de desenvolvimento. Eles identificaram as regiões de vulnerabilidade a ondas de calor que poderiam ter sido negligenciadas no passado, especialmente as regiões do Cinturão Econômico da Rota da Seda, como a Ásia Central e o norte da Europa, devido à adaptabilidade relativamente baixa ao calor. A onda de calor é um dos mais graves desastres meteorológicos em termos de perdas econômicas na região do Cinturão e da Estrada.
Um padrão mundial de perda de produtividade relacionada ao calor (em dias) para 2016, com base em uma pesquisa on-line com 4043 amostras válidas. (Imagem de YU Shuang).

Eles ainda estimaram o WPL para o futuro nos cenários de Representative Concentration Pathways (RCPs) (trajetória de concentração de gases de efeito estufa adotada pelo IPCC e visa representar as diferentes mudanças de concentração atmosférica e os futuros climáticos). Quando o aquecimento global atinge 1,5, 2, 3 e 4 ° C, respectivamente, a média de WPL será 9 (19), 12 (31), 22 (61) e 33 (94) dias para países desenvolvidos (em desenvolvimento). Países do Sudeste Asiático em um mundo de aquecimento a 1,5 ° C sofreriam a mesma perda que os países desenvolvidos teriam em um mundo aquecido a 4 ° C. Isso mostra, quantitativamente, a grave situação que os países em desenvolvimento enfrentariam sob o aquecimento global.

“As ondas de calor certamente impactam mais seriamente os países em desenvolvimento em geral, mas nosso estudo estimou quantitativamente quanta onda de calor reduziria a produtividade e identificaria as regiões mais vulneráveis do mundo”. YU Shuang disse: “Nossos resultados chamam a atenção para a necessidade de adaptação ao aumento das ondas de calor, melhorando a infra-estrutura de proteção, especialmente para as regiões em desenvolvimento”
Referência:
Loss of work productivity in a warming world: Differences between developed and developing countries
Yu Shuang et al
Journal of Cleaner Production
Volume 208, 20 January 2019, Pages 1219-1225
https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2018.10.067


* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.

Fonte: EcoDebate

Publicado Relatório global sobre líderes de Sustentabilidade.

Recentemente foi lançado o quinto relatório anual “State of the Profession” do grupo GreenBiz que analisa a evolução do papel do líder de sustentabilidade no mundo empresarial atual. Como nos anos anteriores, o grupo realizou uma pesquisa detalhada para descobrir quanto eles ganham, onde trabalham e o que fazem no decorrer de seu trabalho. Aqui estão alguns dos destaques do relatório deste ano.

Em 2017, 85% das empresas do índice S&P 500 publicaram relatórios de sustentabilidade ou de responsabilidade corporativa. Essa é uma mudança significativa em relação a 2011, quando o Governance & Accountability Institute levantou que apenas 20% das empresas do S&P 500 estavam publicando esses relatórios. Em termos qualitativos, os pesquisadores observaram que os relatórios estão se tornando mais baseados em contexto e que os investidores estão buscando nestas ferramentas informações úteis para as suas tomadas de decisão. O que sinaliza um olhar mais crítico e uma mudança muito importante na forma de se produzir e se relacionar com esta ferramenta. Mas, infelizmente, as decisões baseadas em fatores ambientais, sociais e de governança, para investir ou desinvestir, se estiverem ocorrendo, ainda não estão sendo amplamente divulgadas.

Além disso, os pesquisadores observaram que a profissão evoluiu de suas origens táticas de relato e engajamento de partes interessadas para a estratégia de negócios e gerenciamento de mudanças. Neste sentido, o GreenBiz acredita que haverá um papel de liderança para um executivo de sustentabilidade centralizado, supervisionando um cenário em constante mudança de desafios e oportunidades ambientais e sociais. Este é um modelo que faz sentido nos tempos atuais em que as organizações ainda não estão maduras o suficiente para ter o tema completamente descentralizado entre suas diversas funções e negócios. Para não fugir do tema central deste artigo, se você quiser saber do porquê desta visão, eu discorro mais sobre esta questão no artigo “Devemos extinguir o departamento de sustentabilidade?”.

Já a maior mudança na profissão desde que começaram a conduzir esta pesquisa foi a evolução do papel inicial dos generalistas em sustentabilidade para uma crescente demanda por especialistas em sustentabilidade. Ao mesmo tempo, foi confirmado um aumento significativo nas empresas com receita superior a US$ 1 bilhão, no número de profissionais de Sustentabilidade incorporados em diferentes departamentos, como Facilities (de 7% em 2014 para 22% em 2018) e Supply Chain (de 10% para 31%), para além das já clássicas áreas de Saúde, Segurança & Meio Ambiente e Responsabilidade Social Corporativa. No Brasil esta tendência pode ser observada, por exemplo, dentro da própria Abraps (Associação Brasileira dos Profissionais pelo Desenvolvimento Sustentável), que trabalha com profissionais de áreas muito diversas, de medicina à direito, passando por educação, engenharia, tecnologia da informação, economia, administração, estatística, psicologia, entre tantas outras. Dada a complexidade do tema, esta diversidade de olhares, perspectivas e conhecimentos é extremamente necessária para uma atuação bem sucedida.

E por falar em Diversidade, a pesquisa apontou que as mulheres de empresas com receita superior a US $ 1 bilhão constituem a maioria dos gerentes e diretores (57% e 52%, respectivamente) enquanto 48% dos vice-presidentes são mulheres. Gerentes e diretores do sexo feminino também ganham mais do que seus colegas do sexo masculino, ainda que por uma pequena quantia. O salário médio de uma vice-presidente feminina ainda é 5% menor do que o de um homem, mas isso é uma melhora significativa em relação aos anos anteriores da pesquisa.

O GreenBiz também investigou pela primeira vez se os programas continuariam em sua trajetória atual se o líder de sustentabilidade de uma organização e o CEO saíssem. É surpreendente notar que enquanto 17% dos entrevistados afirmaram que o programa não continuaria, 25% não souberam informar e 58% disseram que continuaria. Será interessante notar a tendência desta informação ao longo das futuras pesquisas para daí sim termos mais elementos que possam sinalizar uma possível evolução da maturidade do tema dentro das organizações, mostrando se Sustentabilidade foi efetivamente incorporada pela organização e não apenas por uma liderança específica.

E, de acordo com o Greenbiz, qual seria o maior desafio das lideranças de sustentabilidade globalmente? Nas sábias palavras de John Davies, VP do GreenBiz, “o maior desafio para muitos executivos de sustentabilidade é: como mudar um sistema quando você é o sistema? Quando as empresas incorporam recursos de sustentabilidade dentro da organização, isso tornará as equipes mais complacentes e menos uma força de ativismo interno?”. Ou, em outras palavras, estamos efetuando as mudanças sistêmicas necessárias ou apenas mantendo o status quo, focando erroneamente em tratar apenas alguns sintomas e não a doença propriamente dita?


Fonte: ENVOLVERDE

Parque dos Lençóis Maranhenses é candidato a patrimônio mundial.

Candidatura ao título da Unesco foi assinada pelo ministro do Meio Ambiente. Região abriga rara beleza natural e espécies importantes, critérios exigidos para o reconhecimento do sítio.

Brasília – O governo brasileiro encaminhou à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) o dossiê de candidatura do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses ao título de Sítio do Patrimônio Mundial Natural da Unesco. Nesta terça-feira (23), o ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, assinou o dossiê impresso, que será enviado pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE) à sede da Unesco em Paris. Os documentos em formato eletrônico já foram encaminhados anteriormente.

O ministro destacou a importância da candidatura para a conservação ambiental local. 

“Encaminhamos a candidatura do Parque dos Lençóis Maranhenses para a Unesco com a certeza de obter o reconhecimento internacional. Com sua beleza excepcional e características únicas, que mantém rica biodiversidade, os Lençóis Maranhenses são, também, fundamentais para o desenvolvimento socioeconômico da região”, afirmou Edson Duarte.

A candidatura dos Lençóis Maranhenses será analisada na reunião da Unesco de 2020. Na reunião de 2019, a organização mundial analisará a candidatura do sítio misto de Paraty e Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, ao mesmo título.

Para ser reconhecido como Patrimônio Mundial, é necessário que o sítio atenda a pelo menos um dos critérios estabelecidos pela Unesco. Os Lençóis atendem a três critérios, relativos a uma área de excepcional beleza natural, detentora de processos geológicos significativos e contendo habitats relevantes e significativos para a conservação da biodiversidade, incluindo espécies ameaçadas e endêmicas.

DUNAS E LAGOAS

O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses é considerado um dos destinos mais bonitos do País, combinando quilômetros e quilômetros de dunas brancas pontilhadas por lagoas de água doce, ora azuis, ora verdes, e apresenta inúmeros atrativos naturais.

Entre as atrações turísticas do parque, destacam-se o Circuito da Lagoa Azul, Circuito da Lagoa Bonita, Lagoa da Esperança, Canto dos Lençóis, Foz do Rio Negro, Lagoa da Gaivota, Lagoa das Emendadas e Queimada dos Britos.

O reconhecimento internacional do Parque como Sítio do Patrimônio Mundial Natural constitui um importante elemento para o desenvolvimento econômico e a promoção de inclusão social, a partir do desenvolvimento do ecoturismo na região. Esse reconhecimento não gera obrigações ou restrições adicionais quanto aos usos e às atividades na região, além das atualmente previstas dentro dos limites do Parque Nacional.

OS SÍTIOS

Os Sítios do Patrimônio Mundial são áreas únicas ao redor do mundo, reconhecidas pela Unesco pelo seu valor universal e pela importância natural e cultural, que precisam ser preservadas para o bem-estar da humanidade.

Esses sítios protegem áreas consideradas excepcionais do ponto de vista da diversidade biológica e da paisagem. Dos 21 sítios brasileiros reconhecidos como Patrimônio Mundial, apenas sete são Naturais, tendo o último reconhecimento ocorrido há quase duas décadas, em 2001.

O PARQUE

O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, criado pelo Decreto nº 86.060 de 02 de junho de 1981, é o maior campo de dunas da América do Sul e compreende uma área de 155 mil hectares. Está localizado no litoral oriental do estado do Maranhão e abrange três municípios: Barreirinhas, Santo Amaro e Primeira Cruz. O Parque é uma unidade de conservação federal, gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), entidade vinculada ao Ministério do Meio Ambiente.

Fonte: ENVOLVERDE

O olhar antigo do novo presidente do Brasil.

Por Dal Marcondes, da Envolverde
A pauta socioambiental esteve no centro das atenções do presidente eleito Jair Messias Bolsonaro durante sua campanha vitoriosa em direção ao Palácio do Planalto.

A crítica à estrutura de governança socioambiental foi o mote de muitos discursos do presidente eleito. Para ele os controles e fiscalizações promovidos por órgãos públicos como o Instituto Chico Mendes (ICMBio), o Ibama e outros organismos de comando e controle socioambiental são entraves ao desenvolvimento do Brasil. Outro alvo de seus posts e vídeos foram as organizações sociais, a ONGs que atuam em todo o Brasil com os mais diversos focos. Há de tudo um pouco, mas é inegável que a grande maioria presta relevantes serviços à sociedade brasileira.

Quando o futuro presidente Bolsonaro fala de “desenvolvimento” qual será sua visão de futuro? O Brasil tornou-se um dos países mais relevantes sob a ótica do protagonismo ambiental, não apenas porque detém a maior floresta tropical com alto grau de preservação do planeta, mas também porque o Itamaraty e os diplomatas brasileiros, estão entre os melhores articuladores de tratados internacionais de todas as conferências das Nações Unidas. Em Paris, durante a COP do Clima de 2015, só a atuação da ex-ministra do meio Ambiente, Izabella Teixeira, e dos diplomatas brasileiros possibilitaram que se chegasse a um acordo abrangente para a busca de um equilíbrio climático e a redução dos gases de efeito estufa.

Mesmo com a crise política e econômica dos últimos anos organizações da sociedade civil, muitas delas apoiadas por empresas nacionais ou multinacionais, continuaram a trabalhar para oferecer soluções em questões ambientais, de oferta de água e saneamento, de saúde, de pesquisas e de uma infinidade de temas relevantes para o desenvolvimento do Brasil. Há uma real possibilidade de o Brasil sediar a COP 25 em 2019, com todas as responsabilidades e oportunidades que isso pode acarretar.

O que ainda é preciso desvendar é qual o modelo de desenvolvimento, que olhar o novo presidente tem em relação ao futuro. Há muita informação sobre temas de caráter moral, religioso e até de (in)segurança pública, mas muito pouco em relação ao rumo que o país tomará por este século 21 a dentro.  O que significa uma política externa “sem viés ideológico?” O Brasil oscila, de acordo com o momento, entre a 7ª e 8ª economia mundial, tem participado ativamente de Missões de Paz da ONU, com envio de tropas e especialistas em diversas áreas, tem um comércio exterior bastante plural em clientes, apesar de restrito em produtos.

Sob a ótica ambiental a esperança é que as promessas de campanha não sejam cumpridas. A começar pela fusão entre o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério da Agricultura. O próprio comércio internacional de produtos agropecuários pode sair muito prejudicado se o país derrubar barreiras ambientais e de desmatamento. Os principais players globais do agronegócio que atuam no Brasil já se mobilizam há anos para cumprir exigências do mercado internacional em termos de não produzir em áreas desmatadas ilegalmente, não utilizar mão de obra escrava ou de crianças e também algumas restrições em relação a uso de sementes transgênicas ou de agrotóxicos.

Bolsonaro precisa ampliar a visão do que seja o desenvolvimento sustentável e os benefícios que políticas de consolidação de boas práticas podem trazer no curto prazo e no fortalecimento de mercados para os produtos brasileiros. O Brasil pode superar a crise econômica a partir do fortalecimento de políticas educacionais que privilegiem a Ciência, a Inovação e o pluralismo de ideias. Uma educação restritiva apenas vai aprofundar a crise e dificultar seu próprio governo.

O Brasil é um país megadiverso sob o ponto de vista ambiental e social. Essa diversidade é a raiz de sua riqueza.

O combate à corrupção é uma etapa civilizatória necessária, mas como diz o ditado popular, não se pode jogar fora o bebê com a água do banho. Ao mesmo tempo que que se estabelece mecanismos de governança e controle é preciso estimular a vitalidade da sociedade e da economia brasileira. Ampliar seu olhar para além dos valores de seus eleitores. Afinal, é bom lembrar que Jair Messias Bolsonaro foi eleito com 57,8 milhões de votos, seu opositor, Fernando Haddad,  conquistou 47,04 milhões de votos e bancos, nulos e abstenções somaram 41,5 milhões de votos. Ou seja, 89 milhões de eleitores não votaram nas propostas do presidente eleito.

É preciso que o novo governo compreenda a complexidade de trabalhar para todos os brasileiros e não apenas para seus próprios eleitores.


Fonte: ENVOLVERDE

O sol que castiga o sertão é realidade como fonte de energia na Paraíba.

Por Reinaldo Canto*— da Envolverde

A solução solar é ótima para comunidades mais distantes e isoladas da rede de distribuição, mas nada impede que áreas urbanas façam a opção.

Se em boa parte do País a energia solar ainda é uma promessa, representando menos de 1% na matriz energética brasileira, no extremo noroeste do estado da Paraíba já é uma realidade e com potencial para crescer muito, pois existem projetos variados que englobam ações no setor público, privado e de organizações da sociedade civil.


A Paraíba e a região Nordeste apresentam os maiores e melhores níveis de radiação solar do Brasil fora os enormes ganhos que essa opção representa no que tange ao enfrentamento das mudanças climáticas em razão de ser uma energia limpa e renovável.

Só para se ter uma ideia, o município de Sousa possui apenas 10% (80 mil habitantes) da população registrada na capital, mas já é responsável por gerar 2,5 vezes mais energia solar que João Pessoa, o que representa em torno de 2,1 megawatts.

Claro que o tema do uso da energia solar no sertão está diretamente associado às preocupações com a segurança hídrica e as consequências cada vez mais severas do aquecimento global.

Diversas regiões do Nordeste brasileiro e a Paraíba é uma delas enfrenta há sete anos uma seca severa cujas consequências não são mais dramáticas em razão de programas como a construção de cisternas, Bolsa Família e os de apoio à agricultura familiar que, possibilitaram manter o sertanejo produzindo e sendo capaz de dar condições de vida para suas famílias, programas estes que foram se consolidando nos últimos 15 anos.

“Não se ouve mais falar em flagelado, frentes de trabalho e migrações, graças principalmente as cisternas que garantiram o abastecimento de água dos trabalhadores do campo”, afirma a professora Mariana Moreira, da Universidade Federal de Campina Grande, Campus Cajazeiras.

Mas para a captação da água que escasseia na região é fundamental obter fontes de energia a preços acessíveis e que sejam capazes, entre outras necessidades, de extrair e tratar a água que será consumida pelas famílias.

Por essa razão, o Comitê de Energias Renováveis do Semiárido vem trabalhando há mais de quatro anos junto aos pequenos produtores por meio de suas associações, comunidades e apoio da academia.
César Nóbrega, coordenador-geral do Cersa, aponta que a energia elétrica representa um grande custo para o agricultor familiar e a fonte solar pode representar a independência energética do pequeno produtor, “dessa forma deixamos de ver a energia como mercadoria, mas como um bem à disposição das pessoas”, explica Nóbrega.

A ideia central dos projetos tocados pelo Cersa é a descentralização e independência das pequenas propriedades rurais para que de maneira autônoma sejam capazes de gerar sua própria energia e fazer frente às suas necessidades. É o caso do Assentamento Acauã, localizado na cidade de Aparecida, cujas placas fotovoltaicas instaladas na vila movimentam a bomba d´água que abastece todas as suas 114 famílias.

Cidade Solar

Se a solução solar é ótima para comunidades mais distantes e isoladas da rede de distribuição, nada impede que áreas urbanas já servidas por energia elétrica façam a opção pela abundante renovável.

Em Sousa, essa opção já está presente em hotel, posto de gasolina e até mesmo a paróquia Centro Pastoral da Paróquia de Santana e o cemitério da cidade já são solares. Nesse último, um sistema de poço artesiano movido pela energia solar abastece de água a população local e serve para a limpeza do cemitério São João Batista.

O município de Sousa também foi pioneiro em todo o estado da Paraíba ao instalar o primeiro sistema solar fotovoltaico em escola estadual de ensino fundamental e médio, o colégio Professora Dione Diniz Oliveira Dias no Núcleo Habitacional II. O projeto foi realizado em parceria com o Comitê de Energias Renováveis do Semiárido (Cersa), o Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Social, Misereor (entidade ligada à Igreja Católica alemã) e a Cáritas (católica brasileira).

Além de tudo isso, 5% das dependências da Prefeitura já são abastecidas com energia solar. Para o prefeito Fábio Tyrone, do PSB, a opção pela energia solar de Sousa já está consolidada. “Queremos que todos os prédios da prefeitura migrem pra energia solar”.

Segundo o prefeito, em apenas 30 meses os investimentos seriam recuperados. A cidade possui em torno de 26 escolas e 28 postos de saúde, além de cerca de cinquenta imóveis, totalizando mais de 100 espaços públicos, incluindo aí a iluminação pública.

O prefeito de Sousa também se compromete a viabilizar a instalação de painéis solares nas residências. O valor médio de 8 mil reais para abastecer a casa de uma família com quatro pessoas levaria, pelas condições atuais, em torno de seis anos para ser pago. Com incentivo público, crédito e condições facilitadas, a cidade poderá servir de grande exemplo para o Nordeste e para todo o Brasil sobre como aproveitar o que temos de melhor e transformar o limão (sol escaldante) em limonada (energia da melhor qualidade).

*O jornalista viajou a convite da agência de notícias Inter Press Service

Fonte: ENVOLVERDE

terça-feira, 23 de outubro de 2018


A questão ambiental não tem vez na campanha eleitoral.

Por Lúcia Chayb e René Capriles, da Revista Eco21
Editorial Edição 262

Ao longo dos debates, encontros com diversos atores da sociedade civil, empresários, industriais, cientistas, os candidatos à Presidência da República não manifestaram particular interesse na questão ambiental. Dados e informações não faltaram. Todos os candidatos receberam de parte de instituições ambientalistas farta documentação sobre desmatamento, territórios indígenas, unidades de conservação, recursos hídricos, resíduos sólidos, energia, agrotóxicos, desertificação, mudanças climáticas, mobilidade urbana, etc.
Capa da Edição 262

O grande destaque pode ser dado ao médico sanitarista Eduardo Jorge, do PV, candidato a vice de Marina Silva que, coerente com a posição do seu partido, mais de uma vez colocou, entre outras propostas, a necessidade de implementar uma política nacional sobre energias limpas, defesa do licenciamento ambiental, e de combate às mudanças climáticas, fora das questões do saneamento e do fornecimento de água. Já as candidatas à vice, Ana Amélia, de Gerardo Alckmin e Kátia Abreu, de Ciro Gomes, defendem o agronegócio e o uso intensivo de agrotóxicos, mesmo se declarando a favor de uma agricultura de baixo carbono.

Jair Bolsonaro avança pela contramão do preconizado pela ONU e pela maioria dos países no que se refere à consecução dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e à ratificação do Acordo de Paris. Bolsonaro expressou, seguindo o exemplo de Trump, que deixará o Acordo de Paris e alguns dos organismos da ONU, além de transformar o Ministério do Meio Ambiente, o IBAMA e o ICMBio, em dependências do Ministério da Agricultura. Ao tomar conhecimento destas declarações, o Ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, afirmou que desmontar o MMA e enfraquecer o Ibama “levará a uma disparada do desmatamento na Amazônia”.

O Financial Times tocou no assunto num artigo de Lauro Marins, Diretor Executivo da América Latina do Carbon Disclosure Project (CDP), que disse: “Proteger os valiosos recursos naturais do Brasil tem sido uma conversa quase ausente nas eleições nacionais deste ano. De fato, nenhum dos candidatos fez qualquer menção específica à adaptação climática e muito poucos estabeleceram uma posição sobre a interrupção do desmatamento. Um enfraquecimento da política ambiental aumentaria o risco financeiro e a incerteza entre o setor privado, ignorando a demanda global dos investidores e consumidores por produtos com baixo teor de carbono e livres de desmatamento. Isso pode ter um impacto severo na economia, uma vez que o Brasil é um dos maiores exportadores mundiais de commodities agrícolas. Esta não é uma solução adequada para o Brasil.

O mundo está numa jornada rumo a uma economia verde e o Brasil tem muito a ganhar com a transição”. Por sua vez Márcia Hirota e Mário Mantovani, da SOS Mata Atlântica reclamaram: “Onde estão os candidatos com pauta ambiental? Meio ambiente deveria ser uma agenda central no debate eleitoral, já que é essencial para a qualidade de vida de todos. Precisamos eleger uma bancada ambientalista forte, o que passa, inevitavelmente, pelos movimentos de renovação política que surgiram na sociedade brasileira”. Pelo visto, a bancada forte será a dos evangélicos. A Frente Parlamentar Evangélica hoje conta com mais de 200 deputados representando os 40 milhões de evangélicos que apoiam Bolsonaro e outros candidatos aos legislativos em todo o país. Por outro lado, o populismo representado por Bolsonaro já tem seu estrategista: Steve Bannon, que convocou os evangélicos dos EUA para eleger Trump. No dia 4 de agosto, Bannon se encontrou nos EUA com Eduardo Bolsonaro, filho de Jair, para ajudar na campanha e abrir a estrada que norteará o fortalecimento da extrema direita no país. Felizmente o Brasil conta com líderes como Eduardo Jorge, Alessandro Molon e Carlos Minc, entre outros, que trilham rumo ao desenvolvimento sustentável.


Fonte: ENVOLVERDE

12% das mortes por câncer de mama no Brasil são atribuíveis ao sedentarismo.

Estudo, que teve colaboração do Ministério da Saúde, ainda aponta que álcool, alto teor de açúcar e excesso de peso aumentam a mortalidade em 6,5% por câncer de mama. Pesquisa foi publicada na Revista “Nature”

Uma em cada 10 mulheres vítimas do câncer de mama (cerca de 12%) poderiam ter a vida poupada se praticassem atividade física regularmente (150 minutos por semana). É o que aponta o artigo científico “Mortality and years of life lost due to breast cancer attributable to physical inactivity in the Brazilian female population (1990–2015)”, divulgado na revista Nature, que contou com a participação do Ministério da Saúde. De acordo com a pesquisa, no ano de 2015, 2.075 mortes poderiam ter sido evitadas se as pacientes realizassem ao menos uma caminhada de 30 minutos por dia, cinco vezes por semana.

O artigo explica que um dos fatores que causam o câncer de mama é o excesso de estrogênio, que pode levar à formação de mutações e carcinogênese estimulando a produção de radicais. A atividade física diminui o estradiol e aumenta a globulina de ligação a hormonas sexuais, provocando uma redução de circulantes inflamatórios e aumentando as substâncias anti-inflamatórias.

“A prática de atividade física melhora o metabolismo de alguns hormônios relacionados com o câncer de mama, o que pode evitar e até melhorar o quadro de uma paciente com a doença. Estamos conseguindo evidências para mostrar a vantagem de se reduzir o sedentarismo na população”, alerta Fatima Marinho, Diretora do Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção da Saúde da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.

Os estados brasileiros com melhores indicadores socioeconômicos apresentaram as maiores taxas de óbitos de câncer de mama atribuível à inatividade física. O Rio de Janeiro aparece em primeiro lugar, seguido pelo Rio Grande do Sul e São Paulo. Além disso, nos estados do Norte e Nordeste, verifica-se uma transição de mortalidade, com explica a Diretora do Departamento de Doenças e Agravos Não Transmissíveis e Promoção da Saúde, do Ministério da Saúde (DANTPS/MS), Fátima Marinho. 

“Apesar de não aparecerem no topo desta lista, estados do Norte e Nordeste estão passando por uma transição de mortalidade, ou seja, aumentando o número de óbitos por doenças crônicas e diminuindo as resultantes de outros tipos”, afirma a diretora.

A pesquisa também chama atenção para o impacto de outros fatores de risco em mortes. 6,5% dos óbitos por câncer de mama são atribuídos ao uso de álcool, índice alto de massa corporal e uma dieta rica em açúcar. “Esta informação reforça a importância de ter uma política nacional de promoção da saúde que contribua para mudança dos comportamentos de risco para doença crônica. Estimular o consumo de alimentos frescos e ricos em nutrientes, reduzir o sedentarismo, além de evitar o uso abusivo de álcool e o tabagismo, por exemplo. A adoção de um estilo de vida saudável evitaria 39% das mortes por doença crônica, que responde por 76% das causas de morte no Brasil, sendo a promoção da saúde uma política com baixo custo e com grande impacto populacional. Se a saúde/doença da população brasileira continuar a tendência atual, com grande crescimento da doença crônica em adultos jovens, não haverá financiamento suficiente para o SUS, devido ao alto custo da doença crônica”, completa a diretora do Ministério da Saúde.

Dados da última Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2017) aponta que 13,9% das mulheres das capitais brasileiras são sedentárias. O número é maior entre as que têm mais idade, mas também entre as jovens com idades entre 18 e 24 anos (21%). A pesquisa traz ainda que 51,3% delas praticam atividade física insuficientemente, ou seja, não alcançam o equivalente a pelo menos 150 minutos semanais de atividades de intensidade moderada ou pelo menos 75 minutos semanais de atividades de intensidade vigorosa.


Fonte: ENVOLVERDE

Brasil ganha sistema de trilhas de longo curso.

Quatro grandes corredores vão conectar paisagens naturais no país. Meta é chegar a 18 mil km e movimentar 2 milhões de pessoas por ano.

Os ministros do Turismo, Vinicius Lummertz, e do Meio Ambiente, Edson Duarte, juntamente com o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), Paulo Henrique Carneiro, assinam nesta sexta-feira (19) em São Paulo a portaria que institui a Rede Nacional de Trilhas de Longo Curso e Conectividade. O ato marca a abertura da 19a Adventure Sports Fair, considerado o principal evento latino-americano dedicado ao mercado de turismo de aventura e esportes do ar livre.

A “RedeTrilhas” será composta por trilhas que ligam diferentes biomas de Norte a Sul do País, conectando paisagens e ecossistemas brasileiros para promover a organização, estruturação e ampla visibilidade à oferta turística de natureza no Brasil. Elas serão identificadas com um símbolo de uma “pegada” no chão e poderão ser percorridas a pé, de bicicleta ou utilizando outros modos de viagem não motorizados. A medida tem o objetivo de reconhecer e proteger rotas pedestres de interesse natural, histórico e cultural, além de sensibilizar a sociedade para a importância do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc).

O sistema de trilhas prevê quatro grandes corredores naturais sinalizados com uma pegada amarela sobre uma base preta, indicando o sentido a ser percorrido. Pelo menos, 1,9 mil quilômetro já está pronto. A meta é estruturar 18 mil quilômetros em 20 anos, com estimativa de movimentar 2 milhões de pessoas por ano.

“O ecoturismo representa uma das maiores oportunidades que temos de nos posicionar no cenário internacional para atrair turistas e divisas para o país. Diversos países, como os Estados Unidos, servem de exemplo de como usar de forma sustentável os atrativos naturais para movimentar a economia”, comentou o ministro do Turismo, Vinicius Lummertz. De acordo com o estudo de competitividade do turismo do Fórum Econômico Mundial, o Brasil é o número um do mundo em atrativos naturais.

CIRCUITOS

Os circuitos são o Litorâneo, do Oiapoque (AP) ao Chuí (RS); o Caminhos Coloniais, do Rio de Janeiro até Goiás Velho (GO); o Caminhos dos Goyases, entre Goiás Velho e a Chapada dos Veadeiros (GO); e o Caminhos do Peabiru, ligando o Parque Nacional do Iguaçu (PR) ao litoral paranaense.

Entre as trilhas já sinalizadas, estão o Caminho da Serra do Mar (RJ), a Transcarioca (RJ), a Transespinhaço (MG), a Rota Darwin (RJ-PE) e o Caminho das Araucárias (RS/SC), que integram o corredor Litorâneo; o Caminho de Cora Coralina (GO) e o Caminho da Floresta Nacional de Brasília, que fazem parte do Caminhos dos Goyases; a Trilha Chico Mendes (AC); e a Transmantiqueira (RJ, MG e SP), que estão sendo percorridas pelos primeiros grupos de aventureiros e exploradores.

EXPERIÊNCIA

O sistema brasileiro de trilhas de longo curso foi inspirado nas experiências internacionais, em especial no sistema europeu. É formado por grandes trilhas nacionais compostas por trilhas regionais menores, uma acabando onde começa a outra. Assim, cada uma pode ser percorrida em espaços de tempo variados, encaixando-se em diferentes períodos de férias – uma semana, duas semanas ou até um mês. “Isso permite ao ecoturista voltar para casa com a sensação de ter atingido o objetivo de completar a totalidade de uma trilha”, ressalta Menezes.

O coordenador cita, como exemplos, a Trilha Transmantiqueira (MG, RJ e SP) e o Caminho das Araucárias, entre Canela (RS) e o Parque Nacional de São Joaquim (SC), que podem ser feitas em três semanas. Outros exemplos são a Trilha Transcarioca, no Rio de Janeiro, que leva 10 dias de caminhada, e trechos menores, como Caminhos da Serra do Mar ou as voltas da Juatinga e da Ilha Grande, todas no Rio de Janeiro, que levam sete dias de caminhada.

A Rede Nacional de Trilhas de Longo Curso integra o Programa Nacional de Conectividade de Paisagens, do Ministério do Meio Ambiente (MMA). O programa reúne um conjunto de ações que buscam promover a interligação de ecossistemas e a gestão das paisagens no território brasileiro, estimulando a conservação da natureza e o desenvolvimento social, econômica e cultural do país.

ECOTURISMO

Para mais de 622 mil estrangeiros que visitaram o Brasil no ano passado, o turismo de natureza, ecoturismo ou aventura foi o principal motivo de viagem. Além disso, em três dos quatro países para os quais já foi adotado o visto eletrônico, o segmento foi o principal motivo da viagem para destinos brasileiros no ano passado: Japão (72,8%), Austrália (60,6%) e Canadá (42,8%).

A performance do país nesse mercado é incompatível com a diversidade e qualidade da oferta, segundo Lummertz. “Enquanto os EUA recebem 307 milhões de visitantes e faturam US$ 17 bilhões com os parques ao ano, o Brasil recebe e fatura cerca de 3% disso, com uma área 10 vezes maior. Isso não faz sentido, precisamos agir e virar essa página”, disse o ministro do Turismo.

Juntos, os setores de hospedagem e alimentação representam mais de 50% dos R$ 2 bilhões de faturamento anual gerado para os municípios de acesso aos parques no Brasil. O dado revela a importância econômica do turismo para destinos que são portões de entrada dessas áreas protegidas.

ADVENTURE SPORTS FAIR – O estande do MTur na feira, com cerca de 180 m2, contará com exposição de experiências e atividades em cenários naturais de 13 parques nacionais brasileiros. Também haverá atendimento ao público do evento, que é voltado especialmente ao consumidor final.

Serão três dias de programação no centro de convenções São Paulo Expo, que deve receber cerca de 30 mil visitantes até domingo (21). O espaço vai reunir destinos, marcas, produtos e serviços do segmento, setor público, profissionais, academia, entidades ambientais, trade turístico e público final interessados em atividades como o 14º Fórum Interamericano de Turismo Sustentável (FITS) e a compra de produtos e serviços de ecoturismo e aventura em parques nacionais. No ano passado, 26,7 mil visitantes geraram R$ 15 milhões em negócios durante a 18a edição.

De acordo com a organização do evento, em 2017 cerca de 47% dos frequentadores da feira declararam-se praticantes regulares do turismo de aventura e 80% afirmaram que viajam pelo menos duas vezes ao ano com esse propósito.

No evento, turistas e demais interessados em atividades do segmento poderão conhecer roteiros de viagem nacionais e internacionais de ecoturismo; testar lançamentos de equipamentos, vestuário, calçados e acessórios para os esportes de aventura, além de vivenciar modalidades como o snowboard, esqui, mergulho, arvorismo, escalada, caiaque, stand-up paddle e fazer test drives com veículos off road. A Adventure Sports Fair funciona das 12h às 20h nesta sexta e das 10h às 20h no sábado e domingo.


Fonte: ENVOLVERDE

Nota do MMA sobre ataques contra Ibama e ICMBio.


Ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, manifesta apreensão em relação aos casos registrados durante operações de combate ao desmatamento na Amazônia. Carros do Ibama foram incendiados e servidores do ICMBio sofreram ameaças.

O Ministério do Meio Ambiente manifesta forte apreensão diante dos recentes ataques perpetrados contra agentes de fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), durante operações de combate ao desmatamento na Amazônia neste final de semana.

Ataques como esses representam um atentado contra a nação, contra as instituições públicas e contra servidores que doam as suas vidas e se dedicam a preservar o meio ambiente e a respeitar a legislação brasileira.

As pessoas que agem na legalidade não têm porque temer a ação da fiscalização. Por isso, o MMA credita esses atentados àqueles que querem se perpetuar na ilegalidade, afrontando os órgãos ambientais.

Continuaremos trabalhando duro para combater todo e qualquer ato ilícito, para fazer valer a legislação ambiental e para defender aquilo que é de interesse do povo brasileiro, que é o nosso rico patrimônio natural.

Por fim, informamos que já entramos em contato com o Ministério da Segurança Pública da Presidência da República, para relatar os fatos, expressar nossa preocupação com o recrudescimento dessas ameaças e solicitar providências urgentes para identificação e punição dos autores.

Edson Duarte
Ministro do Meio Ambiente


Fonte: ENVOLVERDE

O equilíbrio climático deve ser uma bandeira apartidária.


Por André Ferretti e Carlos Rittl – 

Estamos a alguns dias do segundo turno das eleições que decidirão quem será o futuro presidente do nosso País. Entre as dezenas de propostas apresentadas em diversas áreas de extrema importância para os brasileiros, algumas estão com o alerta vermelho ligado. O presidente eleito, independentemente da sua bandeira partidária, não poderá tratar com descaso a mudança climática que o nosso planeta vive. Ao nosso ver, este é o maior desafio da humanidade neste século.

Contrariando o que muitos pensam, isso não é apenas de uma preocupação ambiental. Trabalhar pelo equilíbrio climático – seja em hábitos individuais, atitudes organizacionais ou políticas públicas – é determinante para questões como qualidade de vida, segurança alimentar, desenvolvimento econômico, investimentos, infraestrutura, defesa civil e muitas outras.

Precisamos correr contra o tempo. O clima está mudando e desafia o Brasil e todas as nações a se adaptarem. Contudo, o tema vem sendo praticamente ignorado na corrida presidencial e medidas extremas aventadas ao longo da campanha – como a possibilidade de sairmos do Acordo de Paris e a desestruturação de órgãos e mecanismos ambientais de extrema relevância para a conservação de nosso patrimônio natural – podem colocar abaixo conquistas ambientais históricas.

O Acordo de Paris é um instrumento de governança global extremamente importante para o desenvolvimento econômico, social e ambiental que define medidas de redução da emissão de gases de efeito estufa a partir de 2020 e estabelece mecanismos para que todos os países limitem o aumento da temperatura global e fortaleçam a defesa contra os impactos inevitáveis da mudança climática. 

Abandonar o tratado seria ignorar todos esses benefícios e seguir os passos de Donald Trump, que fez com que os Estados Unidos sejam o único país do mundo a querer sair do acordo.

Caso essas medidas se confirmem a partir de 2019, esta será uma das maiores, se não a maior ameaça já vista ao patrimônio natural brasileiro desde a redemocratização. Tal fato seria desastroso para a sociedade e para a economia.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indica, por exemplo, que limitar o aquecimento global a 1,5°C reduziria impactos sobre ecossistemas, saúde humana e bem-estar, tornando mais viável o alcance dos objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas. Decisões políticas não podem simplesmente ignorar dados científicos.

O Brasil é o País com a mais rica biodiversidade do mundo, um ativo primordial para a qualidade de vida da nossa população, assim como, entre outras, para a segurança hídrica, atividades agropecuárias e nossa resiliência a eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes. Um ambiente equilibrado é um direito constitucional, um dever do Estado e uma condição básica para a manutenção dos serviços ambientais essenciais para a nossa vida. Sem isso não tem como haver prosperidade e qualidade de vida.

Se quiser evitar um colapso do clima, o que impactaria severamente a nossa civilização, a humanidade tem pouquíssimo tempo para revolucionar a economia, fazendo com que a sociedade troque a economia fóssil e que destrói florestas por uma sustentável e de baixo carbono. 

Independentemente de quem seja eleito nosso novo presidente, precisamos de líderes comprometidos com essa transformação urgente e de imenso impacto, cujas janelas de oportunidade estão se fechando.

* André Ferretti é gerente de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e coordenador geral do Observatório do Clima.

* Carlos Rittl é membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza e secretário-executivo do Observatório do Clima.

Fonte: ENVOLVERDE

segunda-feira, 15 de outubro de 2018


Comunicando a mudança climática na era da negação: uma coleção especial lançada no PLOS Biology.


As pessoas são programadas para responder a histórias, mas as narrativas de negação do clima podem ser tão convincentes quanto as que transmitem os fatos sobre o aquecimento global.

Uma nova coleção, “Confronting Climate Change in the Age of Denial”, publicada em 9 de outubro na revista PLOS Biology, explora os desafios e as armadilhas de usar histórias para comunicar evidências científicas sobre a mudança climática, oferecendo ressalvas e possíveis soluções para contar histórias de mudanças climáticas baseadas em evidências que podem ressoar com o público.

Comunicadores de ciência e educadores lutaram por muito tempo com os desafios de comunicar evidências que contradizem as crenças pessoais, religiosas ou políticas das pessoas, particularmente em relação à evolução, segurança de vacinas e mudança climática.

Um estudo de caso perfeito da tendência das pessoas de criar suas próprias narrativas para explicar o aparentemente inexplicável é a recente resposta viral a uma foto de um urso polar faminto. Os fotógrafos esperavam que o urso faminto pudesse ajudar as pessoas a entender o que o futuro pode significar para os animais que não podem mais depender do gelo marinho para caçar e se abrigar, pois o aquecimento global continua a derreter os lençóis de gelo polar. Mas negadores da mudança climática contra-atacaram circulando fotos de ursos saudáveis para afirmar que o aquecimento global é uma farsa.

A coleção apresenta dois artigos de cientistas sociais que oferecem diferentes perspectivas sobre o alistamento de narrativas para transmitir a ciência das mudanças climáticas e uma de especialistas em mamíferos marinhos que definiram o registro direto dos prováveis impactos da mudança climática na vida selvagem do Ártico.

Mamíferos marinhos são sentinelas do ecossistema, capazes de refletir a variabilidade oceânica através de mudanças em sua ecologia e condição corporal”, argumentam Sue Moore, oceanógrafa biológica, e Randall Reeves, biólogo de mamíferos marinhos, em “Tracking Arctic Marine Mammal Resilience in the Era of Alteração rápida do ecossistema “.

Eles propõem uma estrutura que adiciona indicadores ecológicos (por exemplo, alcance geográfico e comportamento) e fisiológicos à demografia tradicional para fornecer uma visão mais abrangente da saúde das populações. Os autores esperam que sua estrutura, que pode alimentar pesquisas de oceano globais existentes, ofereça “um caminho para a sustentabilidade por meio de melhores previsões, mais precauções e políticas mais sensatas nesta era de mudança ambiental global”.

Em “Comunicação climática para biólogos: quando uma imagem pode contar mil palavras”, os psicólogos Stephan Lewandowsky e Lorraine Whitmarsh examinam estratégias para usar as anedotas e imagens que satisfazem nossa necessidade de narrativa sem sacrificar a precisão científica.

Os especialistas em comunicação científica Michael Dahlstrom e Dietram Scheufele exploram outra dimensão do perigo e prometem usar histórias para comunicar a ciência em “(escapar do paradoxo da narrativa científica”). Em vez de contar histórias para simplesmente transmitir conhecimento – o que pode não ser bem-sucedido, dizem eles, já que o aumento da alfabetização científica não leva a uma maior aceitação da ciência – pode ser melhor contar histórias sobre como o conhecimento científico é produzido. “No final, usar a narração de histórias para construir principalmente apoio científico através de objetivos de conhecimento, atitude ou comportamento sem também envolver o raciocínio científico pode não ajudar a ciência a longo prazo.”

Ao publicar esta coleção, os editores da PLOS Biology esperam que todos que valorizam evidências científicas imparciais pensem em maneiras de aproveitar a narrativa para ajudar as pessoas a entender essa ameaça complexa, mas muito real, para o nosso planeta. Precisamos recuperar o enredo antes que seja tarde demais.

Textos da Coleção:

Editorial: 
Gross L (2018) Confronting climate change in the age of denial. PLoS Biol 16(10): e3000033. https://doi.org/10.1371/journal.pbio.3000033

Artigos:

Moore SE, Reeves RR (2018) Tracking arctic marine mammal resilience in an era of rapid ecosystem alteration. PLoS Biol 16(10): e2006708. https://doi.org/10.1371/journal.pbio.2006708

Lewandowsky S, Whitmarsh L (2018) Climate communication for biologists: When a picture can tell a

thousand words. PLoS Biol 16(10): e2006004. https://doi.org/10.1371/journal.pbio.2006004

Dahlstrom MF, Scheufele DA (2018) (Escaping) the paradox of scientific storytelling. PLoS Biol16(10): e2006720. https://doi.org/10.1371/journal.pbio.2006720

In your coverage please use this URL to provide access to the collection’s freely available Editorial article in PLOS Biology:


Citation: Gross L (2018) Confronting climate change in the age of denial. PLoS Biol 16(10): e3000033.



Fonte: EcoDebate