Perda de água chega a quase 40%
nas maiores cidades do Brasil.
A cada 10 litros de água tratada nas 100 maiores
cidades do país, 3,9 litros (39,4%) se perdem em vazamentos, ligações
clandestinas e outras irregularidades. O índice de perda chega a 70,4% em Porto
Velho e 73,91% em Macapá. Os números são do Ranking do Saneamento, divulgado ontem
(27) pelo Instituto Trata Brasil, com base em dados do Sistema Nacional de
Informações sobre Saneamento de 2012.
O estudo considerou a perda no faturamento, ou
seja, a diferença entre a água produzida e a efetivamente cobrada dos clientes.
De acordo com o instituto, o indicador de referência para a perda de água por
faturamento é 15%. Dos 100 municípios da lista, quatro possuem nível de perda
menor ou igual ao patamar. Em 11 deles, as perdas superam 60% da água
produzida.
De acordo com o presidente executivo da entidade,
Édison Carlos, as perdas se refletem diretamente na capacidade de investimento
das empresas e podem comprometer a expansão e qualidade dos serviços. “A perda
é um reflexo da gestão da empresa. Qualquer autoridade que pensa em saneamento
como um negócio, teria que atacar as perdas. Quando a empresa tem perdas muito
altas, não consegue nem custear o próprio serviço”, avaliou. “Qualquer litro de
água recuperado é um litro a mais que ele vai receber”, acrescentou.
Apesar dos registros, os municípios fazem pouco
para reduzir as perdas de água por faturamento, de acordo com o estudo. Entre
2011 e 2012, mais da metade das cidades pesquisadas (51) não reduziu em nada as
perdas ou até piorou os resultados no período. Segundo o Trata Brasil, os
números sugerem que “diminuir perdas de água não vem sendo uma prioridade entre
os municípios brasileiros”.
Apenas 10% dos municípios analisados na pesquisa
registraram melhoria de mais de 10% na redução de perdas de água. Em média, de
acordo com o levantamento, a melhora nas perdas dos municípios foi de apenas
0,05% na comparação entre 2011 e 2012.
As soluções, segundo Carlos, variam de acordo com
o tamanho e as características de cada município. Em cidades com índices de
perda muito elevados, por exemplo, a instalação de equipamentos como
controladores de vazão e pressão tem reflexos rápidos na perda por vazamentos.
Em relação ao saneamento, o ranking mostra que,
nos 100 maiores municípios do país, 92,2% da população têm acesso à água
tratada. Em 22 das cidades, o atendimento chega a 100%, atingindo a
universalização do serviço.
No entanto, os dados de coleta e tratamento de
esgoto são bem inferiores. A média de população atendida por coleta de esgoto
nas cidades avaliadas é 62,46%. Os números do tratamento são ainda menores: em
média, 41,32% do esgoto do grupo de maiores cidades do país é tratado. Entre as
10 cidades com piores índices no quesito, três são capitais: Belém, Cuiabá e
Porto Velho, sendo que as duas últimas têm tratamento de esgoto nulo.
Considerando acesso à água, coleta e tratamento
de esgoto e o índice de perdas, o estudo fez um ranking com os 20 municípios
com melhores e os 20 com piores resultados em saneamento. Além disso, o
instituto traçou uma perspectiva de universalização dos serviços nos próximos
20 anos, como quer o governo federal, com base na evolução dos indicadores
entre 2008 e 2012.
Entre as 20 cidades com melhores resultados,
todas atingiram ou atingirão a meta nos próximos anos. No entanto, nos 20
municípios com piores notas, entre eles seis capitais, apenas um deve atingir a
universalização se o ritmo de melhoria se mantiver. “É um dado preocupante, na
medida em que a gente tem uma meta clara para duas décadas”, avalou Édison
Carlos.
De acordo com o presidente do Trata Brasil, a
situação só será revertida se as políticas de saneamento entrarem na agenda de
prioridades dos gestores públicos e a população pressionar por avanços no
setor. “Tem que ser prioridade, principalmente dos prefeitos, mesmo as cidades
em que os serviços são operados por empresas estaduais. Isso não tira a
responsabilidade dos prefeitos, que têm que brigar por metas mais rápidas e
mais amplas. É preciso foco”, avaliou. “O eleitor, o cidadão, tem que cobrar. É
investimento, não é milagre”, comparou.
Fonte: Agência Brasil
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