sábado, 30 de agosto de 2014

Agricultura orgânica abre espaço na Polônia.
Agricultor orgânico Slawek Dobrodziej com voluntários de Varsóvia trabalhando em sua propriedade. Foto: Cortesia de Malgosia Dobrodziej.

Varsóvia, Polônia, 27/8/2014 – O agricultor polonês Salwek Dobrodziej tem uma forma original de se preparar para o triatlo: nada em um lago atrás de sua casa, corre ao redor de seus 11 hectares para cuidar de seus cultivos e no final do dia pedala 40 quilômetros em sua bicicleta até o povoado mais próximo onde faz compras. Essa é a energia que se necessita para ser um agricultor ecológico na Polônia.

Dos 1,8 milhão de agricultores, apenas 267 mil têm o certificado orgânico (embora alguns deles só tenham pradarias e não necessariamente produzam alimentos) e apenas 300 deles cultivam alimentos. As autoridades polonesas vivem cortando subsídios para a agricultura ecológica no médio e longo prazos, e praticamente eliminaram o apoio público às hortas ecológicas. Tudo isto ocorre no contexto das últimas políticas nacionais, adotadas em paralelo ao novo orçamento da União Europeia para o período 2014-2020.

Os pequenos agricultores orgânicos devem enfrentar os complicados procedimentos burocráticos necessários para obter fundos nacionais e europeus. Dobrodziej e sua mulher, Malgosia, claramente estão decididos a superar os entraves. Nos últimos oito anos, o casal conseguiu construir uma fazenda de produção ecológica no povoado de Zelisxewo, perto da cidade de Szczecin. Vendem cerca de cem tipos de frutas e verduras em várias cidades do país, inclusive em Varsóvia.

Segundo Malgosia, contadora da fazenda familiar, os primeiros anos foram particularmente difíceis. Vender grandes quantidade de um só produto às empresas processadoras de alimentos não foi rentável para eles. A agricultura orgânica, que não usa pesticidas, exige muito trabalho manual, e o que as empresas pagam não basta para cobrir os custos.

A família conseguiu acesso a alguns fundos nacionais e europeus, mas a quantia total só deu para comprar o maquinário básico. Com os recursos europeus, a pessoa beneficiada costuma precisar financiar uma parte, o que significa se endividar com os bancos. O casal conseguiu ter mais recursos quando diversificou sua produção e encontraram novas oportunidades de mercado vinculando-se diretamente aos consumidores nas grandes cidades. Foi um grande ponto de inflexão conseguir vender em um grande mercado de produtos ecológicos de Varsóvia.

Além do mais, esse ano, pela primeira vez, começaram a vender aos consumidores por meio de dois programas de agricultura com apoio comunitário nas cidades de Szczecin e Poznan. Estes são modelos que funcionam graças ao fato de aproximadamente 30 consumidores pagarem adiantado as verduras que receberão todas as semanas entre os meses de verão e outono. A ideia é que os consumidores compartilhem os riscos com os agricultores.

Quando entram no programa, os primeiros se comprometem a aceitar as verduras que o agricultor for capaz de produzir segundo as condições climáticas. Também podem participar como voluntários na fazenda, o que lhes dá alguns conhecimentos do trabalho agrícola que a maioria das pessoas desconhece. Segundo Malgosia, o modelo mostrou ser uma excelente forma de garantir certa estabilidade financeira às pequenas fazendas.

O primeiro modelo foi criado em 2012 na Polônia. A iniciativa se propagou e já há seis. Se prevê que serão criados outros no próximo ano, devido à boa recepção por parte dos consumidores e da comunidade de produtores. “Agora temos muito trabalho, passamos muito tempo fazendo pacotes de meio quilo de verduras para vender nos comércios orgânicos”, explicou Malgosia. “O modelo parece promissor, porque nos libertamos do calvário de empacotar e também obtemos algum dinheiro no início da temporada, que podemos investir nas máquinas que precisamos”, acrescentou.

“Creio que pode servir para muitos agricultores poloneses, porque o modelo é realmente viável economicamente”, afirmou Sonia Priwieziencew, que junto com seu companheiro, Tomasz Wloszczowski, tem uma fazenda ecológica de seis hectares no povoado de Swierze Panki, 120 quilômetros a nordeste de Varsóvia, que há três anos participa desta iniciativa de consumidores e agricultores.

“O modelo de agricultura com apoio comunitário pode ajudar a promover a biodiversidade porque os consumidores compram diferentes tipos de verduras e produtos, bem como propagar o modelo orgânico certificado que atualmente só é desenvolvido de forma marginal na Polônia”, disse Priwieziencew. Ela é muito crítica sobre o enfoque que as autoridades dão à agricultura orgânica.

Apesar de a grande maioria dos agricultores poloneses terem pequenas áreas, as políticas do governo e da União Europeia são mais favoráveis à produção industrial em grande escala.

Apesar da nova Política Agrícola Comum, adotada este ano em Bruxelas, que, supõe-se, oferece uma pauta agrícola para a UE nos próximos anos e preconiza a produção orgânica e de pequena escala como forma de garantir a segurança alimentar, limitar a mudança climática e preservar a biodiversidade, as políticas e o financiamento nacionais não necessariamente a respeitam, especialmente na Europa central e oriental.

Mas este mês, em Varsóvia, foi aberta a primeira cooperativa de produtores que vende verduras e outros produtos, cujos membros podem comprar com desconto se trabalharem de forma voluntária na fazenda. Esse tipo de iniciativa existe em diferentes cidades polonesas e inclusive em bairros. A nova paixão pela agricultura urbana fez com que museus de Varsóvia e de outras cidades colocassem suas áreas verdes à disposição da população local interessada em cultivar verduras.

“Cada uma dessas iniciativas dá aos pequenos produtores ecológicos uma nova oportunidade para vender mais e se desenvolver”, disse o ativista Piotr Trzaskowski, que criou o primeiro modelo de cultivo orgânico com apoio comunitário em Varsóvia. “Esses agricultores devem sobreviver porque são os verdadeiros guardiões da terra e do ambiente, ao contrário dos produtores convencionais de grande escala que convertem a terra em mercadoria, comprando-a, usando-a e ignorando o impacto sobre a biodiversidade, as pessoas e o ambiente”, enfatizou. Envolverde/IPS.


Fonte: IPS

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