Agricultura orgânica abre espaço
na Polônia.
Varsóvia, Polônia, 27/8/2014 – O agricultor
polonês Salwek Dobrodziej tem uma forma original de se preparar para o triatlo:
nada em um lago atrás de sua casa, corre ao redor de seus 11 hectares para
cuidar de seus cultivos e no final do dia pedala 40 quilômetros em sua
bicicleta até o povoado mais próximo onde faz compras. Essa é a energia que se
necessita para ser um agricultor ecológico na Polônia.
Dos 1,8 milhão de agricultores, apenas 267 mil
têm o certificado orgânico (embora alguns deles só tenham pradarias e não
necessariamente produzam alimentos) e apenas 300 deles cultivam alimentos. As
autoridades polonesas vivem cortando subsídios para a agricultura ecológica no
médio e longo prazos, e praticamente eliminaram o apoio público às hortas
ecológicas. Tudo isto ocorre no contexto das últimas políticas nacionais,
adotadas em paralelo ao novo orçamento da União Europeia para o período
2014-2020.
Os pequenos agricultores orgânicos devem
enfrentar os complicados procedimentos burocráticos necessários para obter
fundos nacionais e europeus. Dobrodziej e sua mulher, Malgosia, claramente
estão decididos a superar os entraves. Nos últimos oito anos, o casal conseguiu
construir uma fazenda de produção ecológica no povoado de Zelisxewo, perto da
cidade de Szczecin. Vendem cerca de cem tipos de frutas e verduras em várias
cidades do país, inclusive em Varsóvia.
Segundo Malgosia, contadora da fazenda familiar,
os primeiros anos foram particularmente difíceis. Vender grandes quantidade de
um só produto às empresas processadoras de alimentos não foi rentável para
eles. A agricultura orgânica, que não usa pesticidas, exige muito trabalho
manual, e o que as empresas pagam não basta para cobrir os custos.
A família conseguiu acesso a alguns fundos
nacionais e europeus, mas a quantia total só deu para comprar o maquinário
básico. Com os recursos europeus, a pessoa beneficiada costuma precisar
financiar uma parte, o que significa se endividar com os bancos. O casal
conseguiu ter mais recursos quando diversificou sua produção e encontraram
novas oportunidades de mercado vinculando-se diretamente aos consumidores nas
grandes cidades. Foi um grande ponto de inflexão conseguir vender em um grande
mercado de produtos ecológicos de Varsóvia.
Além do mais, esse ano, pela primeira vez,
começaram a vender aos consumidores por meio de dois programas de agricultura
com apoio comunitário nas cidades de Szczecin e Poznan. Estes são modelos que
funcionam graças ao fato de aproximadamente 30 consumidores pagarem adiantado
as verduras que receberão todas as semanas entre os meses de verão e outono. A
ideia é que os consumidores compartilhem os riscos com os agricultores.
Quando entram no programa, os primeiros se
comprometem a aceitar as verduras que o agricultor for capaz de produzir
segundo as condições climáticas. Também podem participar como voluntários na
fazenda, o que lhes dá alguns conhecimentos do trabalho agrícola que a maioria
das pessoas desconhece. Segundo Malgosia, o modelo mostrou ser uma excelente
forma de garantir certa estabilidade financeira às pequenas fazendas.
O primeiro modelo foi criado em 2012 na Polônia.
A iniciativa se propagou e já há seis. Se prevê que serão criados outros no
próximo ano, devido à boa recepção por parte dos consumidores e da comunidade
de produtores. “Agora temos muito trabalho, passamos muito tempo fazendo
pacotes de meio quilo de verduras para vender nos comércios orgânicos”,
explicou Malgosia. “O modelo parece promissor, porque nos libertamos do
calvário de empacotar e também obtemos algum dinheiro no início da temporada,
que podemos investir nas máquinas que precisamos”, acrescentou.
“Creio que pode servir para muitos agricultores
poloneses, porque o modelo é realmente viável economicamente”, afirmou Sonia
Priwieziencew, que junto com seu companheiro, Tomasz Wloszczowski, tem uma
fazenda ecológica de seis hectares no povoado de Swierze Panki, 120 quilômetros
a nordeste de Varsóvia, que há três anos participa desta iniciativa de
consumidores e agricultores.
“O modelo de agricultura com apoio comunitário
pode ajudar a promover a biodiversidade porque os consumidores compram
diferentes tipos de verduras e produtos, bem como propagar o modelo orgânico
certificado que atualmente só é desenvolvido de forma marginal na Polônia”,
disse Priwieziencew. Ela é muito crítica sobre o enfoque que as autoridades dão
à agricultura orgânica.
Apesar de a grande maioria dos agricultores
poloneses terem pequenas áreas, as políticas do governo e da União Europeia são
mais favoráveis à produção industrial em grande escala.
Apesar da nova Política Agrícola Comum, adotada
este ano em Bruxelas, que, supõe-se, oferece uma pauta agrícola para a UE nos
próximos anos e preconiza a produção orgânica e de pequena escala como forma de
garantir a segurança alimentar, limitar a mudança climática e preservar a
biodiversidade, as políticas e o financiamento nacionais não necessariamente a
respeitam, especialmente na Europa central e oriental.
Mas este mês, em Varsóvia, foi aberta a primeira
cooperativa de produtores que vende verduras e outros produtos, cujos membros
podem comprar com desconto se trabalharem de forma voluntária na fazenda. Esse
tipo de iniciativa existe em diferentes cidades polonesas e inclusive em
bairros. A nova paixão pela agricultura urbana fez com que museus de Varsóvia e
de outras cidades colocassem suas áreas verdes à disposição da população local
interessada em cultivar verduras.
“Cada uma dessas iniciativas dá aos pequenos
produtores ecológicos uma nova oportunidade para vender mais e se desenvolver”,
disse o ativista Piotr Trzaskowski, que criou o primeiro modelo de cultivo
orgânico com apoio comunitário em Varsóvia. “Esses agricultores devem
sobreviver porque são os verdadeiros guardiões da terra e do ambiente, ao
contrário dos produtores convencionais de grande escala que convertem a terra
em mercadoria, comprando-a, usando-a e ignorando o impacto sobre a
biodiversidade, as pessoas e o ambiente”, enfatizou. Envolverde/IPS.
Fonte: IPS
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