Com 0,01% do PIB, Brasil
preservaria Mata Atlântica, diz estudo.
O Brasil conseguiria preservar a Mata Atlântica
investindo apenas 0,01% do seu PIB (Produto Interno Bruto), garante um estudo [Using
ecological thresholds to evaluate the costs and benefits of set-asides in a
biodiversity hotspot] feito por cientistas e relatado à revista Science
nesta quinta-feira (28). Os pesquisadores afirmam que US$ 198 milhões por ano
(o equivalente a cerca de R$ 443 milhões) seriam suficientes para conservar a
maioria das espécies e preservar muitos dos benefícios que vêm do ecossistema
da floresta, tais como controle de pragas e polinização.
A quantia equivale a apenas 6,5% do que o Brasil
já investe em subsídios agrícolas e menos de 0,01% PIB anual do país.
A Mata Atlântica é um dos mais importantes e
ameaçados ecossistemas do mundo, contendo mais de 1.000 espécies de plantas e
mais exemplares de aves que toda a Europa. Situada ao longo da costa atlântica
do Brasil, já cobriu uma área de aproximadamente 1,5 milhão de quilômetros
quadrados. Devido ao desmatamento, hoje tem apenas 160 mil quilômetros
quadrados.
Segundo a pesquisadora Cristina Banks-Leite, do
Departamento de Ciências da Vida da Imperial College London (Reino Unido), uma
das líderes da pesquisa, a Mata Atlântica é menor e muito mais degradada do que
a floresta amazônica, e contém uma rica diversidade biológica, sendo o habitat
de mais da metade das espécies animais ameaçadas de extinção no Brasil. “Cerca
de 90% da Mata Atlântica tem menos de 30% de cobertura florestal remanescente.
Isso não é suficiente para garantir a sobrevivência das espécies e a manutenção
de um ecossistema próspero”, afirma.
Para calcular os custos, os pesquisadores
primeiro tiveram que registrar quais e quantas espécies vivem atualmente nas
áreas intocadas e degradadas da Mata Atlântica. Ao longo de nove anos, uma
equipe de mais de 100 pesquisadores liderada pelas doutoras Renata Pardini,
Marianna Dixo e pelo professor Jean Paul Metzger, da USP (Universidade de São
Paulo), coletaram dados sobre aves, mamíferos e anfíbios que vivem na floresta.
Usando redes ornitológicas para capturar aves e
armadilhas para apanhar mamíferos e anfíbios, os pesquisadores registraram a
existência de mais de 25 mil animais, divididos em 140 espécies de aves, 43 de
mamíferos e 29 de anfíbios.
Eles coletaram dados em 79 regiões diferentes da
floresta, em 150 km, e estimaram é necessário preservar o mínimo de 30% do
habitat natural para manter um nível semelhante de funções da biodiversidade e
dos ecossistemas que se encontram em áreas protegidas, como parques nacionais.
Para avaliar os custos gerais de manutenção desse
mínimo, os cientistas combinaram as estimativas atuais de cobertura florestal
com custos médios pagos aos proprietários particulares de terras pela
desapropriação das áreas e descobriram que a preservação da floresta é viável e
de baixo custo.
Já existem alguns programas no Brasil para
desapropriar terra para a conservação da floresta, preservação de espécies e
manutenção dos ecossistemas saudáveis, mas essa tem sido uma iniciativa em
escala local, com pouco impacto na manutenção e melhoria das condições da
floresta como um todo, segundo o estudo.
Referência:
Using ecological thresholds to evaluate the costs and benefits of set-asides in a biodiversity hotspot
Science 29 August 2014:
Vol. 345 no. 6200 pp. 1041-1045
DOI: 10.1126/science.1255768
Fonte: UOL
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