Trata Brasil quer tirar saneamento da invisibilidade no Norte e Nordeste.
Por Reinaldo Canto especial de
Brasília para a Envolverde –
Lançado pelo Trata Brasil com apoio
do Instituto Coca-Cola durante o 8º Fórum Mundial da Água, o
estudo “Acesso à água nas regiões Norte e Nordeste do Brasil:
desafios e perspectivas” foi coordenado por Alceu de Castro Galvão
Júnior, engenheiro civil, mestre em saneamento e doutorado em Saúde
Pública.
Durante oito meses Alceu e sua
equipe buscaram informações nos planos estaduais, relatórios
governamentais, em trabalhos acadêmicos e de organizações não
governamentais. “Há uma carência enorme de dados. A base oficial
que nós temos é o Censo do IBGE, de 2010” conta o engenheiro da
Reinfra Consultoria.
Alceu considera que entre os
principais objetivos do projeto estava o de tirar da invisibilidade
as comunidades em zonas rurais e “colocar uma lupa” em modelos de
gestão autossustentáveis como os dos Sistemas Integrados de
Saneamento Rural de alguns estados nordestinos. Segundo ele, um bom
exemplo é o executado pelo Sisar do Ceará, que atende a uma
população superior a 500 mil habitantes.
O engenheiro conclui que a maior
ocorrência de sucesso nesses projetos é quando a comunidade se
apropria do serviço. “Isso gera um empoeiramento, um sentimento de
autopertencimento. Com isso, os índices de inadimplência são muito
baixos e o resultado é uma sustentabilidade de longo prazo”.
Quando os projetos ficam só na
esfera do governo sem participação direta da sociedade local, de
maneira geral, os estudos mostraram que em pouco tempo eles ficam
sucateados. “A população, por meio do pagamento de tarifas,
consegue bancar os custos com a operação”.
Os modelos nordestinos são
multicomunitários. Só o do Ceará, por exemplo, opera em mais de
1.400 comunidades”. O número de beneficiados por esses
sistemas nos quatro estados nordestinos mapeados é de pouco mais de
600 mil pessoas, pouco diante de uma população rural muito maior.
Alceu acredita no crescimento dessas experiências, mas mesmo
contando com o pagamento da tarifa, eles ainda precisam de apoios
sejam eles governamentais ou como o do Sisar que recebe suporte da
Fundação Avina e do Instituto Coca-Cola.
Para o pesquisador o apoio de
empresas que detém expertise na gestão de recursos hídricos também
pode ajudar a qualificar ainda mais a ação, por meio de tecnologias
já testadas e com capacidade de escala.
Bancos internacionais também estão
de olho nesses modelos de gestão como o Banco Mundial e o KFW, da
Alemanha.
As boas perspectivas apontadas pelo
documento não impedem que também se levantem fortes críticas, as
principais apontam a ausência de políticas públicas nas regiões
beneficiadas. Realmente é preciso fazer muito em relação à água
e saneamento no Norte e Nordeste. Segundo o censo de 2010 dos 1.794
municípios do Nordeste, 42,3% possuem mais de 50% de sua população
vivendo nas áreas rurais, ou seja, em torno de 3.722.491 de
residências. Desses, em 2010, apenas 34,9% eram conectados à rede
de água, enquanto 65,1% utilizavam outras formas de abastecimento
como poços e cisternas. No Norte, a situação é ainda pior. Nos
domicílios rurais (963.156), 17,7% eram conectados à rede, enquanto
82,3% utilizavam outras formas de abastecimento.
Alceu de Castro conclui com uma
realidade que causa perplexidade: “Conseguimos universalizar a
telefonia, a energia elétrica, mas para que isso aconteça com o
saneamento ainda vai demorar algumas décadas. É um setor
institucionalmente complicado. Precisamos colocar o saneamento rural
na agenda política. É uma mudança de paradigma muito complexa”.
Pois é, muito chão pela frente que ainda conta com uma visão
bastante míope de nossas autoridades.
Fonte: ENVOLVERDE
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