Indígenas entram na discussão no Fórum Mundial da Água.
Os Direitos e Acesso à Água por
Povos Indígenas, Comunidades Tradicionais e Minorias Étnicas:
histórias e aprendizados a partir de conquistas e insucessos é um
dos debates que reunirá representantes de mais de 150 países no 8º
Fórum Mundial da Água, que se realiza a partir deste final de
semana até o dia 23, em Brasília.
O professor de antropologia Henyo
Barreto, da Universidade de Brasília (UnB), será um dos
coordenadores da sessão que, segundo ele, terá como principais
protagonistas os representantes dos povos e comunidades que irão
relatar experiências na luta pela água.
“Nossa expectativa é que possamos
aprender com eles, a partir dos relatos de nativos de diversos
rincões do planeta, como Nova Zelândia, Estados Unidos, Índia e
também do Brasil”, disse Barreto.
Segundo ele, o Brasil tem um
“patrimônio de disponibilidade de água para todos”. As terras
indígenas e das comunidades tradicionais, na condição de terras
ainda florestadas, seja na Amazônia, no Cerrado, na Caatinga e
outros biomas, prestam importantíssimos serviços ecossistêmicos,
seja na manutenção do ciclo hidrológico ou na proteção de
nascentes, impedindo o avanço desenfreado do desmatamento.
Barreto tem participação na
formulação da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental
de Terras Indígenas do governo brasileiro e disse que o Cerrado, em
especial, é um bioma especialmente crítico para a manutenção dos
aquíferos e para a disponibilidade de água para todo o país. Ele
defende a proteção de espaços territoriais do bioma para estancar
o avanço desenfreado do agronegócio e das monoculturas de
exportação.
Em entrevista exclusiva à Agência
Brasil, o antropólogo comentou ainda o impacto das atividades de
garimpo, pecuária e monocultura, citadas como fatores de degradação
ambiental de rios e cursos d’água, especialmente nas áreas
indígenas. Ele explica que, quando os sintomas de contaminação
aparecem, a situação geralmente já está crítica.
Barreto diz que muitos povos que
vivem em regiões de nascentes e cursos d’água têm com esses
habitats uma relação “como se fosse com pessoas, como nós. Têm
relações integrais e não somente materiais. Para eles, não são
recursos naturais; são entes do mundo da vida. E, nessa relação
com os nativos e a natureza, eles podem até adoecer e morrer”.
Na opinião do professor, as áreas
de mineração, aquelas onde se instalam obras de infraestrutura,
como hidrelétricas e onde há o agronegócio, são sempre as mais
afetadas. “Vejam o que aconteceu com os povos do Rio Xingu com a
construção de Belo Monte, com o povo Krenak com a tragédia do Rio
Doce e agora a situação em Barcarena. A principal ação de
política pública a ser adotada para minimizar os efeitos dessa
degradação é fortalecer a regulação ambiental,” disse.
Segundo Barreto, capacitação e
qualificação para monitorar a qualidade da água são sempre
bem-vindas. Ele diz que muitos povos e comunidades indígenas têm
reivindicado uma articulação intercientífica entre os seus regimes
de conhecimento e os nossos, na identificação de problemas e de
violações de direitos à água. Porém, diz que monitorar,
identificar crimes contra o meio ambiente e não dispor de uma
estrutura que permita a responsabilização dos criminosos é o mesmo
que nada.
Fonte: Agência
Brasileira
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