Rio Doce, um desastre anunciado e inovação na recuperação.
Por Reinado Canto, enviado
especial da Envolverde ao 8 Fórum Mundial da Água –
No dia 5 de novembro de 2015 a
bacia do Rio Doce entrou para a história como vítima do maior
desastre ambiental envolvendo a mineração no Brasil.
Quando a barragem de Fundão se
rompeu, 62 milhões de toneladas de rejeitos minerais da empresa
Samarco em Mariana escorreram sobre a vida de milhares de pessoas nos
distritos da cidade histórica, ceifando as vidas de 19 pessoas e
causando o maior desastre ambiental do país, levando sua lâmina
vermelha até o Oceano Atlântico, com ameaça aos mais delicados
ecossistemas marinhos.
Entre as muitas medidas acordadas
para penalizar, responsabilizar e exigir recuperações e mitigações
socioambientais foi criada a Fundação Renova em agosto de 2016.
Para presidi-la foi chamado um
profissional conhecido nos meios ambientais, o biólogo e
administrador Roberto Waack, já havia passado por organizações
como WWF, Instituto Ethos e Fundo Brasileiro para a Biodiversidade,
entre outros.
Roberto Waack, presidente da
Fundação Renova.
A missão não parecia nada fácil,
mas Waack aceitou o desafio e neste um ano e meio já fez com que a
Renova investisse em ações sociais e ambientais a quantia de R$ 3,2
bilhões.
A Fundação Renova participa do 8º
Fórum Mundial da Água para contar um pouco de sua história e dessa
complexa e difícil tarefa de minimizar os prejuízos causados pelo
desastre.
Desde o início de nossa conversa
Roberto Waack já avisa, a Fundação faz parte do acordo de
ajustamento de conduta e, portanto, não responde pela Samarco, muito
pelo contrário: “a Samarco responde criminalmente e isso não é
algo que diga respeito à Renova”. O presidente da fundação
refere-se ao termo que coloca a fundação como: “ente responsável
pela criação, gestão e execução das ações de reparação e
compensação das áreas e comunidades atingidas pelo rompimento da
barragem do Fundão”, conforme detalhado no seu site institucional.
Waack conta que os desafios da
fundação tem sido muito grandes: “a parte técnica e operacional,
por exemplo, enfrentam questões nunca antes vivenciadas, como deixar
ou não os sedimentos no leito do rio. Existem técnicos que
consideram melhor a retirada do material e outros afirmam o
contrário”.
Ele diz que esse não é o mais
difícil de toda a enorme complexidade socioambiental da Renova, mas
sim a governança: “temos mais de 240 pessoas envolvidas em 11
câmaras técnicas”, além é claro de muitas reuniões com as
comunidades afetadas. “O modelo participativo é mais demorado, mas
sem dúvida alcançam melhores resultados”.
Tanto que do conselho gestor da
fundação chamado de interfederativo participam representantes de
órgãos ambientais dos três níveis federativos (federal, estaduais
e municipais), além do Ministério Público. Waack destaca que, “com
certeza, é um dos maiores programas de monitoramento já montados no
país”.
Roberto Waack acredita que alguns
importantes avanços foram conseguidos durante esse ano e meio de
atuação da Renova, mas sem a ilusão de que se possa festejar
qualquer conquista. Mesmo que as ações de reparação já tenham
recebido aportes de R$ 3,4 bilhões distribuídos em 42 programas e
projetos, que vão da restauração ambiental com plantio de milhares
de hectares, a recuperação de nascentes, a manutenção da
qualidade da água na bacia do Rio Doce, a retomada da atividade
econômica dos municípios afetados e o reassentamento e indenizações
de pessoas, entre outros, as dimensões do desastre não permitem
comemorações.
Para o presidente da Fundação
Renova algumas frentes avançaram melhor que outras. Caso do
monitoramento da qualidade do Rio Doce, “nos níveis que eram antes
do desastre, inclusive com relação a sua turbidez” e lembra que a
situação não podia ser considerada boa antes do rompimento da
barragem, “80% dos esgotos das cidades já eram despejados
diretamente no rio”.
O que o executivo considera que
avançou pouco foi a questão do reassentamento das famílias e parte
das indenizações, “houve contaminação nas discussões, ódio da
fundação, o que considero bastante justificável diante das perdas
que essas famílias sofreram”. Mas Waack espera que a questão das
indenizações esteja resolvida até o meio do ano.
De qualquer maneira ele considera
que o começo foi mais difícil não foi fácil para as pessoas
entenderem que a Renova não é a Samarco e a Samarco não é a
Renova. “Quando começamos assumimos um grande passivo de
comunicação, obviamente não havia como achar algo bom. Eu entendo
perfeitamente às reações da sociedade e da mídia”. Ele só se
ressente das muitas acusações e cobranças aos funcionários e
gerentes da Samarco, “acho que não é justo com as pessoas que se
envolveram, entraram no meio da lama para tentar ajudar”.
E ao participar do Fórum Mundial da
Água que tipo de mensagem a Renova deixa? “Esse formato da
Fundação de ampla participação, onde a sociedade se organiza tem
muito a oferecer. Acreditamos que esse formato seja único no mundo.”
Ele exemplifica: “caso houvesse
algo como a Renova em Petrópolis e Teresópolis após os
desmoronamentos ocorridos anos atrás, a história poderia ter sido
outra”. Waack se refere ao desvio de recursos, a
precária situação em que as famílias ficaram e depois a repetição
dos mesmos problemas.
Talvez, segundo o executivo, o
modelo que está sendo testado para a recuperação do Rio Doce e no
apoio e diálogo com a sociedade, de uma fundação para gerir os
recursos e as ações, possa servir como modelo para esse tipo de
ação.
Fonte: ENVOLVERDE
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