15 anos da lei nº 10.639 que incluiu no currículo escolar a cultura e a história afro-brasileira.
Evento
realizado no Dia Internacional Contra a Discriminação Racial
(21/03) contou com a participação da professora Petronilha Beatriz
Gonçalves e Silva, relatora da Comissão da lei, e do cubano Carlos
Moore, especialista em história e cultura negra, além da atriz Taís
Araújo, professores e gestores escolares.
O Centro
de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) em
parceria com o Instituto Unibanco, SESC SP e Fundação Ford, reuniu
nesta quarta-feira (21/03), em São Paulo, cerca de 250 participantes
dentre especialistas, professores e estudantes para refletir sobre os
15 anos da Lei 10.639/03 que tornou obrigatório o ensino da cultura
e história afro-brasileira nas escolas do Ensino Fundamental e
Ensino Médio do país. A lei garante uma ressignificação e
valorização cultural das matrizes africanas que formam a
diversidade cultural brasileira.
O
evento Gente
que Transforma a Educação: Experiências de Equidade Racial e de
Gênero ocorreu
no Dia Internacional Contra a Discriminação Racial. O diretor do
Sesc, Danilo Miranda, destacou que a desigualdade é o maior desafio
do país e a racial é a mais profunda nesse universo. “A
desigualdade desencadeia diversos problemas pelos quais nossa
sociedade passa e convive todos os dias, como a violência”, disse.
Cida
Bento, presidente do CEERT, destacou a importância da Lei 10.639
para promover a equidade racial nos dias atuais: “É importante que
a história dos que nos antecederam seja iluminada na escola.
Empoderar é se apropriar de si mesmo, estar bem com seu corpo e com
seu grupo. Isso é expressivo e tem grande impacto na permanência na
escola e na diminuição da evasão escolar de jovens negros e
negras”, disse ela. “Nunca vi um momento tão ativo no país. As
coisas estão acontecendo e não vão parar”, afirmou.
O
investimento em gestão escolar para equidade racial nas escolas foi
destacado pelo gerente do Instituto Unibanco, Tiago Borba, como forma
de promover uma transformação na sociedade. “É preciso dar voz
aos jovens para que surja um novo país, uma nova escola e uma nova
legislação. O foco está nas juventudes, que precisam ser ouvidas e
acolhidas”, disse. “A diversidade não é apenas um compromisso
ético e político, é uma potência para transformar a sociedade”,
disse.
RACISMO
CRESCENTE
Um dos
momentos de maior impacto no seminário foi a palestra do professor
cubano Carlos Moore, pesquisador e cientista social conhecido
internacionalmente por seus estudos sobre o pan-africanismo e pela
luta contra o racismo. Ele ressaltou que vivemos um momento histórico
em que o racismo é crescente e, da mesma forma, os mecanismos de
luta antirracistas também deveriam ser.
“O
racismo é um fenômeno dinâmico e permanente, por isso os
mecanismos de luta contra ele também têm que ser dinâmicos e
permanentes. O racismo surgiu há mais de 3 mil anos e está se
fortalecendo e se adaptando às novas condições históricas. Mas a
luta que era local agora é global”, afirmou ele, que é Doutor em
Ciências Humanas e em Etnologia pela Universidade de Paris-7
(França), foi professor titular de relações internacionais da
University of the West Indies e professor visitante da International
University of Florida (EUA).
Moore
também destacou a importância da educação para a transformação
da sociedade. “Crianças e adolescentes são o primeiro andar de um
edifício de 50 andares. Se eles não forem fortalecidos, o edifício
não aguentará para sempre”, completou.
A
professora da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar),
Petronilha Gonçalves, integrante da comissão que elaborou o parecer
do Conselho Nacional de Educação (CNE) para as diretrizes
curriculares da proposta da Lei 10.639/03, participou do debate
Aprendizagens da Comunidade Escolar. Ela destacou que os gestores, os
professores e o projeto político-pedagógico das escolas devem
contemplar as questões étnico-raciais. “A formação do professor
não se dá em cursos teóricos apenas, mas no dia-a-dia, no convívio
com os alunos e na execução de projetos. O gestor comprometido
contempla as questões étnico-raciais no projeto político
pedagógico da escola”, afirmou.
Neca
Setubal, presidente do conselho do GIFE (Grupo de Institutos,
Fundações e Empresas), lembrou a importância de ressaltar as
questões de gênero em um momento em que alguns municípios chegam a
proibir essa discussão.
EXPERIÊNCIAS
NA EDUCAÇÃO
Durante
o seminário foram apresentadas experiências das sete edições do
Prêmio Educar para Igualdade Racial e de Gênero. Lançado em 2002,
possui um acervo de três mil práticas escolares voltadas à
promoção da igualdade étnico-racial e é reconhecido pelo
Ministério da Educação como uma das principais iniciativas
voltadas à equidade racial.
Para os
gestores escolares, a valorização da diversidade, da cultura e
história afro-brasileira contribui para reduzir a evasão escolar e
melhorar o desempenho de crianças, adolescentes e jovens negros e
negras nas escolas. A professora Odalícia Conceição, da Escola
Estadual Jornalista Rômulo Maiorana de Ananindeua/PA, destacou que
ainda é preciso que os docentes se apropriem da Lei 10.639. “É o
esforço de cada professor que vai qualificar a aplicação da lei”,
afirmou.
Valter
Silvério, professor do departamento de Sociologia da Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar), fez um balanço das duas edições
do edital “Gestão Escolar para a Equidade: Juventude Negra”,
parceria entre o Baobá Fundo para Equidade Racial, o Instituto
Unibanco e a UFSCar, que já contemplou 20 projetos em todas as
regiões do país que visam o enfrentamento das desigualdades raciais
no ambiente escolar na rede pública de Ensino Médio. Segundo
Silvério, o sucesso de cada proposta está relacionado a menor ou
maior participação dos gestores escolares. “É importante o
envolvimento de toda a comunidade escolar, além da gestão, para que
os projetos possam se manter ativos e alcancem resultados”,
defendeu ele.
Cida
Bento encerrou o debate com uma reflexão sobre a necessidade de
reforçar a identidade dos alunos e alunas afro-descendentes desde a
educação infantil, principal objetivo da Lei 10.639.
“A
experiência dos antepassados deve ser iluminada para os alunos.
Todos devem saber de onde vieram porque quando temos raízes temos
mais força para lutar. Isso nada mais é do que se apropriar de si,
de suas heranças. Os livros didáticos junto ao incentivo dos
professores são fundamentais para que a eficiência da lei seja
efetiva”, afirmou a coordenadora do CEERT.
SOBRE
OS PARCEIROS
Instituto
Unibanco – O
Instituto Unibanco, fundado há 35 anos, é uma das instituições
responsáveis pelo investimento social privado do Itaú-Unibanco. É
uma organização sem fins lucrativos que atua com o objetivo de
contribuir para a melhoria da qualidade da educação pública no
Brasil. Com foco na melhoria dos resultados de aprendizagem e na
produção de conhecimento sobre o Ensino Médio, dedica-se a
elaborar e implementar, gratuitamente, soluções de gestão – na
rede de ensino, na escola e na sala de aula – comprometidas com a
capacidade efetiva das escolas públicas de garantir o direito à
aprendizagem de todos os estudantes.
CEERT
– Criado em 1990,
o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades –
CEERT é uma organização não-governamental que produz
conhecimento, desenvolve projetos nas áreas de acesso da população
negra à Justiça, ao direito de igualdade racial, à liberdade de
crença, de implementação de políticas públicas, de educação,
saúde e relações de trabalho.
Fundação
Ford – A Fundação
coloca a justiça racial no centro dos esforços para promover a
democracia e a igualdade no Brasil. Além de apoiar o surgimento e o
crescimento de novas e poderosas vozes e narrativas em ambientes
urbanos e rurais, a Fundação Ford trabalha para conectar líderes
de justiça social, movimentos e instituições-chave. Isso inclui um
foco particular no fortalecimento da liderança de jovens e mulheres
negras das favelas do Brasil e das periferias urbanas.
SESC
– Fruto de um
sólido projeto cultural e educativo que trouxe, desde sua criação
pelo empresariado do comércio e serviços em 1946, a marca da
inovação e da transformação social, o Sesc inovou ao introduzir
novos modelos de ação cultural e sublinhou, na década de 1980, a
educação como pressuposto para a transformação social. No Estado
de São Paulo, conta com uma rede de 36 unidades, em sua maioria
centros culturais e desportivos. O Sesc desenvolve uma ação de
educação informal e permanente com intuito de valorizar as pessoas
ao estimular a autonomia pessoal, a interação e o contato com
expressões e modos diversos de pensar, agir e sentir.
Fonte:
ENVOLVERDE
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