Rio Paraopeba está morto e perda de biodiversidade é irreversível.
Por Caroline
Aragaki – Jornal da USP –
A sociedade precisa entender que,
sem o ambiente, não tem como existir vida humana, afirma gestora
ambiental.
Análise da Fundação SOS Mata
Atlântica afirma que o Rio Paraopeba está morto no trecho que corta
Pará de Minas.
Trata-se de uma consequência do
rompimento da Barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho.
Ana Paula Fracalanza, professora de Gestão Ambiental da Escola de
Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, comenta o caso, que
afeta o abastecimento de água da região.
“Quando a Fundação SOS Mata
Atlântica diz que o rio está morto, ela quer dizer que não há
vida aquática”, afirma a especialista. Para determinar isso,
a Fundação considerou alguns parâmetros enquanto realizou coleta
de 22 pontos em 305 quilômetros do rio. Um deles foi o índice de
turbidez, que aparece 6,83 vezes acima do limite máximo permitido
por lei.
“A água estando turva faz com que
haja dificuldade de um feixe de luz atravessar a água, isso
prejudica a fotossíntese e resulta em um aumento de calor. Então, a
vida aquática é prejudicada e a vida acaba não conseguindo
seguir”, explica Ana Paula. Outro fator associado à turbidez é a
taxa insuficiente de oxigênio dissolvido, fazendo com que não
exista manutenção da vida aquática, porque animais não conseguem
sobreviver. “Apenas alguns tipos de bactérias, que não precisam
de oxigênio para viver, conseguiriam persistir no Rio Paraopeba.”
De acordo com a professora, mesmo se
o rio conseguisse voltar a ter vida depois de muito tempo de
recuperação ambiental, precisaríamos pensar quais usos eram feitos
da água. Alguns eram agricultura, pecuária, abastecimento. Quanto a
isso, “em 24 de fevereiro, a Secretaria de Estado de Saúde, Meio
Ambiente, Desenvolvimento Sustentável, Pecuária e Abastecimento de
Minas Gerais lançou uma medida de prevenção, proibindo o uso da
água em qualquer finalidade por tempo indeterminado”.
Não há possibilidade de
recuperação para abastecimento público. Um simples processo de
purificação não basta para conter os metais pesados, “que, acima
de alguns limites máximos, também são prejudiciais à saúde”.
Como exemplos, temos: chumbo, mercúrio, ferro, cobre, manganês e
cromo.
Para além da perda no uso da água,
Ana Paula também ressalta o impacto ambiental: “Mesmo que
houvesse a recuperação da vida aquática, não seria a mesma vida
que havia anteriormente ao crime ambiental, porque a biodiversidade
que havia antes não tem como ser recuperada. Não temos como avaliar
todas as espécies que existiam previamente à ocorrência do crime
ambiental. Não há como avaliar isso”.
A professora explica o
posicionamento que o governo e a sociedade devem ter para evitar
casos como o de Brumadinho. Em relação ao governo, o posicionamento
deve ser sempre preventivo, de fiscalização e de importância ao
cumprimento das leis ambientais. “O Brasil tem uma legislação
bastante avançada em relação às questões ambientais, então
nesse sentido é fundamental que nós não soframos um retrocesso,
que as leis sejam cumpridas e que as penalidades sejam, de fato,
aplicadas.”
Para ela, a sociedade deve pressionar e não apenas
colaborar. “Fazer a sua parte de perceber que o ambiente é
fundamental, que sem o ambiente não há vida. Sem as leis
ambientais, sem o ambiente, não tem como existir a vida e nem o ser
humano.”
Recentemente, no dia 15 de março, a
Vale assumiu a elaboração, pagamento e execução de uma nova
adutora, com extensão de 50 quilômetros, capaz de captar água do
Pará e resolver o problema de abastecimento do município de Pará
de Minas. Enquanto a obra não for finalizada, a construtora se
comprometeu a perfurar novos poços artesianos que captem água do
Córrego dos Moreiras, que será interligada na tubulação já
existente do Rio Paraopeba. Não sabemos o risco ou o impacto que
ambas as medidas podem gerar.
Fonte:
ENVOLVERDE
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