Ameaça aos rios da região de Bonito gera prejuízos para todo o Brasil.
por Fundação SOS Mata
Atlântica –
Recentes reportagens do Fantástico
(07/04) e do Bom dia Brasil (08/04), da TV Globo, tornaram público o
que pesquisadores, cientistas, ambientalistas, profissionais de
turismo, moradores, ONGs e promotores de justiça do município de
Bonito (MS) têm alertado para autoridades locais e nacionais há
meses: os rios da região também estão por um triz.
A Fundação SOS Mata Atlântica
parabeniza o trabalho de todos estes setores, inclusive da imprensa,
que mobilizam a sociedade em defesa dos rios e do meio ambiente.
Conhecidos por suas águas cristalinas, os rios de Bonito têm
perdido essa característica, principalmente por conta das mudanças
no uso do solo e avanço das lavouras de soja, especialmente sobre as
Áreas de Preservação Permanente e recarga dos aquíferos. Este
episódio comprova como a condição da água dos rios brasileiros é
fundamental para a qualidade de vida das pessoas, para a economia e o
meio ambiente.
Se nada for feito por essa região,
o Brasil está sob risco iminente de perder uma das áreas mais ricas
em biodiversidade e conhecida internacionalmente com o polo turístico
em razão das belezas naturais, importante para a vida de milhares de
pessoas e crucial para o desenvolvimento econômico local.
Os prejuízos podem começar com as
cadeias turísticas local, nacional e internacional, passando por
impactos no Pantanal e na Mata Atlântica da região, como no Parque
Nacional da Serra da Bodoquena, responsável por proteger mais de 77
mil hectares de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica
e beleza cênica nos municípios de Bodoquena, Bonito, Jardim e Porto
Murtinho.
O que acontece no Mato Grosso do Sul
vai ao encontro do alerta que a SOS Mata Atlântica lançou no Dia
Mundial da Água (22/03), quando evidenciamos como nossos rios estão
por um triz. Na ocasião, o relatório “O
retrato da qualidade da água nas bacias da Mata Atlântica“ destacou
como os rios brasileiros são agredidos e vão perdendo lentamente
sua capacidade de abrigar vida aquática, de abastecer a população
e de promover saúde e lazer para a sociedade. Além disso, o estudo
apontou que as ameaças são ocasionadas ora por agressões geradas
por grandes desastres, ora por conta dos maus usos da água no dia a
dia, decorrentes da falta de saneamento, da ocupação desordenada do
solo nas cidades, por falta de florestas e matas ciliares que
protegem os rios e nascentes e por uso indiscriminado de
fertilizantes químicos e agrotóxicos. Ou seja, a situação dos
rios sul-mato-grossenses acompanha este triste retrato nacional.
Os dados produzidos por nossos
voluntários do projeto Observando os Rios, em 2018, na região de
Bonito (MS), dão conta que, dos 13 pontos analisados – sendo 12 em
Bonito e um em Bodoquena –, apenas três têm qualidade de água
boa (localizados nos rios Formoso, Perdido e Salobra). O relatório
mostra que 77% dos pontos analisados no Mato Grosso do Sul possuem
qualidade de água regular, ou seja, no limite mínimo permitido na
legislação e nos padrões internacionais de qualidade da água.
Entre estes pontos estão os rios da Prata e Mimoso. Variações
climáticas e alterações do uso do solo ou uso desordenado dos
recursos hídricos ao longo do curso dos rios acabam provocando
interferência direta na qualidade da água.
O Brasil está descuidando de seus
rios, condenados pela falta de boa governança. Rios e águas
contaminadas são reflexo da ausência de instrumentos eficazes de
planejamento e gestão. Refletem a falta de saneamento ambiental, a
ineficiência ou falência do modelo adotado, o desrespeito aos
direitos humanos e o subdesenvolvimento.
A Fundação SOS Mata Atlântica
reforça a necessidade e urgência da implementação de uma série
de leis que, juntas, podem contribuir para que os rios de Bonito
melhorem sua situação. Entre elas, a Política Nacional de Recursos
Hídricos, de forma descentralizada e participativa, por meio dos
comitês de bacias hidrográficas e com todos os seus instrumentos de
gestão funcionando plenamente.
O Código Florestal e suas políticas,
como a Área de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal RL),
que garantem a proteção da vegetação nativa e contemplam
instrumentos econômicos e financeiros para o alcance deste objetivo.
Localmente, os municípios que estão
inseridos na área de aplicação da Lei da Mata Atlântica
(11.428/2006) podem encontrar no Plano Municipal de Conservação e
Recuperação da Mata Atlântica (PMMA) outra saída. Ela é
responsável por apontar ações prioritárias e áreas para a
conservação e recuperação da vegetação nativa e da
biodiversidade da Mata Atlântica, com base em um mapeamento dos
remanescentes da região e percepção da sociedade.
Em Bonito, por exemplo, segundo os
dados do Atlas da Mata Atlântica (SOS Mata Atlântica/ INPE) restam
hoje 8,17% da Mata Atlântica original do município. São
aproximadamente 40 mil hectares de florestas, o equivalente a 52 mil
campos de futebol. Já em Bodoquena, são aproximadamente 68 mil
hectares de Mata Atlântica original (88 mil campos de futebol), o
que representa 27% do que havia originalmente na cidade.
Diante da gravidade e das ameaças a
esses patrimônios naturais, é fundamental que os órgãos
responsáveis – entre eles, a Secretaria de Estado de Meio
Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura
Familiar do Mato Grosso do Sul, as prefeituras da região e o
Ministério Público – tomem as medidas cabíveis para coibir e
reparar os danos aos ecossistemas locais.
Fonte: ENVOLVERDE
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