Dia da Terra, estamos no cheque especial.
Por Marcus Nakagawa*
Este é mais um artigo sobre o Dia
da Terra, agora em 2019, apesar de ser comemorado e difundido desde a
década de 70, esta data só foi oficializada na 80a Assembleia
Geral das Nações Unidas, em 2009. Ou seja, este ano o Dia
Internacional da Mãe Terra faz, oficialmente, 10 anos. Viva a Mãe
Terra!
Quando falamos na Mãe Terra nos
lembramos sempre da natureza, das belas paisagens dos vídeos
maravilhosos que os canais de documentários mostram, dos animais em
seu habitat natural, dos oceanos e suas lindas formações e cores.
Não queria escrever um artigo sensacionalista ou pessimista, mas é
importante destacar alguns pontos.
O primeiro deles é que estamos
consumindo recursos mais rápido do que o planeta os regenera. Sim,
as nossas gerações estão retirando muito mais recursos (minerais,
animais, plantas, água, etc.) do planeta do que talvez precisamos.
Segundo o Global Footprint Network (GFN), uma organização que
estuda esta questão, mostrou que em 2018, a partir do dia 1o de
agosto entramos no “cheque especial”. Ou seja, a partir desta
data estamos pagando os “juros” do planeta, nossa conta zerou e o
que estamos gastando dos recursos naturais a Terra não consegue mais
repor. Veja mais sobre isso
(https://www.footprintnetwork.org/our-work/earth-overshoot-day/).
Mas, lembrando que só temos um planeta! E que não temos um lastro
de um banco por trás, como no verdadeiro cheque especial e seus
juros altíssimos no Brasil.
Se pensarmos por este prisma, então,
temos cerca de um terço de recursos do planeta que já se foram,
segundo alguns cientistas. Então, não podemos mais falar de
sustentabilidade, já que o modelo que estamos “sustentando” não
adiantará, pois cada vez mais a perda está aumentando. Para isso já
existe um conceito e um movimento de ativistas falando de
regeneração.
A ideia deste movimento é buscar
alternativas que, ao mesmo tempo, impacte menos e ajude a regenerar o
planeta. São soluções inovadoras que, de uma forma inteligente,
tenha um impacto positivo que some ao que já foi perdido. Muitas das
inovações passam por questões tecnológicas e de mudanças de
estilo de vida.
Sim, precisamos pensar e criar novos
modelos, pois no segundo ponto temos o crescimento da população e
as suas necessidades. Segundo a ONU, numa notícia de outubro de
2018, o mundo terá mais 2,2 bilhões de pessoas até 2050. Este
vídeo mostra exatamente o que estamos passando desde os tempos
antigos https://youtu.be/PUwmA3Q0_OE.
Mas a ideia é que, se tivermos tudo isso de pessoas neste estilo de
vida que temos na classe média no Brasil, ou nos EUA, será que
teremos recursos naturais suficientes para a Mãe Terra nos prover?
Thomas Malthus, um economista
britânico, nascido em 1766, colocou que o crescimento demográfico é
em progressão geométrica e os meios de subsistência poderiam
crescer somente em progressão aritmética. Para quem não entende
muito de matemática, ele coloca exatamente o que foi descrito acima
no termo do “cheque especial”, a população cresce, mas a
produção dos recursos naturais não acompanha. Ele estava prevendo
tudo isso? Não sei, mas é óbvio que, como muitos cientistas
rebateram a este conceito, Malthus não levava em consideração um
monte de variáveis.
Até a Marvel, agora estou citando
cultura pop, nos Vingadores (isso mesmo filme blockbuster) o vilão
Thanos, com a sua super manopla com as joias do infinito, seguiu este
pensamento para fazer menos pessoas sofrerem de fome e necessidades
não atendidas. (sem mais spoiller).
Pois esse é o terceiro ponto, com
todo este movimento de uso da nossa Mãe Terra no cheque especial,
existem muitas pessoas passando fome e vivendo abaixo da linha da
pobreza. Segundo o jornal O Globo
(https://oglobo.globo.com/economia/os-26-mais-ricos-do-mundo-concentram-mesma-riqueza-dos-38-bilhoes-mais-pobres-23391701)
do começo deste ano, os 26 mais ricos do mundo têm a riqueza dos
3,8 bilhões mais pobres. E aí não é papo de comunistas ou
socialistas, ou rótulos que queiram colocar. Não estou gerando a
briga de classes ou estas outras teorias que vedem jornais ou artigos
ou campanhas políticas. Estou colocando que não adianta explorarmos
os recursos naturais de forma exagerada, nem os recursos humanos
(como o pessoal das empresas dizem) para alguns somente. Sim fazemos
parte da Mãe Terra, somos seres como todos os outros, não o centro
do universo (antropocentrismo). Temos que ter direitos a sobreviver
dignamente como todos os outros seres vivos aqui na Terra: comer,
viver, dormir, beber, respirar etc. Para isso temos até uma
declaração em que vários seres humanos se juntaram e falaram que
esta era a regra para todos aqueles que são pessoas. Esta é a
Declaração Universal dos Direitos Humanos
(https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/declaracao/)
que fez 70 anos em 2018.
E, de novo, não estamos falando de
uma ideologia, um partido ou uma forma de pensar. Estamos falando da
Mãe Terra e de todos os seus filhos que aqui habitam! E somos também
habitantes e parte dela. Se o “cheque especial” cada vez piorar
os que mais sofrerão serão os que se dizem mais evoluídos.
E se somos tão evoluídos que
conseguimos ir para Marte, fazer inteligência artificial, robôs,
tecido humano artificial, entre outras coisas, não é possível que
não conseguimos entender e gerenciar estes problemas da
superpopulação, do aquecimento global e do “cheque especial”.
Sim, temos muitos outros problemas. E você está fazendo o que para
resolver? Só reclamando nas redes sociais, nos comentários de
posts? Ou atuando de verdade?
Viva o dia da Mãe Terra fazendo
alguma ação mais sustentável e/ ou regenerativa! Chega de “cheque
especial” do Planeta!
*Marcus Nakagawa é professor da
ESPM; coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental
(CEDS); idealizador e conselheiro da Abraps; e palestrante sobre
sustentabilidade, empreendedorismo e estilo de vida. Autor dos
livros: 101 Dias com Ações Mais Sustentáveis para Mudar o Mundo e
Marketing para Ambientes Disruptivos.
Fonte: ENVOLVERDE
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