A sobrepesca e a falta de gestão pesqueira são os principais problemas da atividade pesqueira no país.
Essa é a conclusão do Guia
de Consumo Responsável de Pescado, lançado ontem (2),
pela seção brasileira do Fundo Mundial para a Natureza
(WWF-Brasil). O estudo inédito foi produzido pela entidade em
parceria com mais de 20 pesquisadores de todo o mundo.
A sobrepesca ocorre quando os
estoques pesqueiros são explorados além da sua capacidade natural
de reprodução. Muitos pescadores não respeitam a época de defeso
ou reprodução de algumas espécies. Nesse período, as atividades
de caça, coleta e pesca esportivas e comerciais ficam vetadas ou
controladas.
Segundo a gerente do Programa
Marinho da WWF, Anna Carolina Lobo, após a extinção do Ministério
da Pesca, no governo passado, muitas políticas públicas voltadas
para a gestão pesqueira e a aquicultura ficaram descentralizadas,
incluindo o próprio pagamento do seguro defeso, feito aos pescadores
de pequena escala para que possam manter sua condição de vida
enquanto as espécies se reproduzem. A isso tudo se soma a falta de
monitoramento e fiscalização, segundo ela.
São duas as formas de produção de
pescados. Uma é a pesca comum, que se baseia na retirada de recursos
pesqueiros do ambiente natural. A outra é a aquicultura, baseada no
cultivo de organismos aquáticos geralmente em um espaço confinado e
controlado.
Estudos da Organização das Nações
Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) apontam que até
2030, quase 60% da proteína de peixe consumidas pela sociedade virão
da aquicultura, em todo o mundo e no Brasil não será diferente. As
espécies que apresentam maior valor comercial, como o atum, por
exemplo, já têm grande impacto populacional. Acima de 80% dos
estoques estão reduzidos, o que é um impacto muito grande.
Monitoramento
Os últimos dados de monitoramento
da pesca no Brasil são de 2011 e utilizaram números coletados em
2008. “Na prática, são 11 anos de um país que não monitora a
quantidade de desembarque, o tamanho dos estoques, o que está sendo
pescado. Corre o risco de a gente estar chegando próximo a um
cenário de colapso das principais espécies sem saber, sem a
sociedade ter noção do tamanho do problema”, lamentou Anna
Carolina.
Certificação
Outros problemas levantados pelo
guia da WWF-Brasil é a falta de certificação do pescado e da
regulamentação setor pesqueiro no Brasil. Com a criação de
políticas públicas adequadas, vários países que estavam com seus
estoques de peixe quase em extinção, como o bacalhau da Noruega,
com a mudança de política pública, os estoques voltaram. Agora, os
países estão suprindo a demanda interna e exportando para outros
destinos, como o Brasil.
“É possível a gente chegar em
uma equação em que as pessoas que dependem dessa atividade para o
seu sustento de vida vão continuar com seu ganha pão. É possível
virar o jogo”, apostou a especialista em gestão ambiental da
WWF-Brasil.
Gestão pesqueira
Procurada pela Agência Brasil, a
Secretaria de Aquicultura e Pesca (SAP) do Ministério da Agricultura
informou que a gestão pesqueira no Brasil é feita de maneira
compartilhada entre as diversas esferas do governo, sociedade civil e
organizações não governamentais. A secretaria está elaborando um
novo decreto para fortificar esse sistema.
Nove Comitês Permanentes de Gestão
(CPGs) fazem o assessoramento para a definição de normas, critérios
e padrões relativos ao ordenamento do uso sustentável dos recursos
pesqueiros, nas respectivas unidades de gestão. Todos os CPGs têm
um subcomitê científico que presta assessoramento técnico e
científico a esses grupos de trabalho.
A SAP revelou ainda que 50% das
receitas das taxas arrecadadas pelo órgão são destinadas ao
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama) para o custeio das atividades de fiscalização
da pesca e da aquicultura. Em relação aos investimentos públicos
na gestão da pesca no Brasil, a secretaria informou que o governo
federal financia vários projetos com esse objetivo.
Fonte: Agência
Brasil
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