A extensão da morte do rio Paraopeba.
Por Thaís
Herrero*, do Greenpeace Brasil.
Os impactos causados pela barragem
de Brumadinho são gigantes e vão desde as dolorosas mortes de
pessoas queridas até o cotidiano da população que convivia com um
rio que também morreu.
Pescar no fim da tarde de domingo
era rotina do casal Jair Jorge da Cruz e Conceição Oliveira da
Cruz. Na companhia da cachorrinha Susie, eles saíam de casa com as
varas de bambu, iscas e um milho cozido para jogar aos peixes. E
seguiam para o rio Paraopeba, onde ele cruza o bairro de Córrego do
Barro, em Pará de Minas.
A lama ainda não chegou ao local
onde eles costumavam pescar, mas desde o rompimento da barragem não
tiveram coragem de seguir sua rotina. Acham melhor não arriscar, por
isso estão indo a uma represa artificial. “Se a gente não vem
pescar, ela fica brava”, diz Jair sobre a esposa. É ela que gosta
da pescaria. Conceição enumera as espécies que costumava encontrar
no rio: piaba, traíra, lambari, tilápia e piau. Frente a lama da
Vale, no entanto, esses peixes não têm vez.
Jair Jorge da Cruz e Conceição
Oliveira da Cruz, casal morador de Pará de Minas, não podem mais
pescar no rio Paraopeba, que está contaminado pela lama tóxica da
barragem da Vale. © Christian Braga / Greenpeace.
A lama tóxica da Vale está
descendo e matando o rio Paraopeba. Segundo análise da ONG SOS Mata
Atlântica, 40 km do rio Paraopeba já pode ser considerado morto. Os
rejeitos de minério aumentaram em mais de 100 vezes a turbidez da
água e acabaram com seu oxigênio. Nenhum animal consegue sobreviver
nessas condições.
E não é só lama. Metais pesados,
resíduos da mineração que eram armazenados na barragem, agora
navegam e contaminam o rio. Análises já encontraram altas
concentrações de níquel, mercúrio, chumbo, zinco e cádmio.
Em Brumadinho (MG), a única ponte
que passa por cima do rio Paraopeba tem visto um movimento diferente.
Carros e pedestres param para observar o rio enlameado enquanto é
possível ouvir o ruído dos helicópteros que fazem o
resgate das vítimas do rompimento da barragem de rejeitos da Vale.
Um dos moradores que observa o rio é
Luís. O que ele sente ao ver o rio? Com os olhos mareados diz que “é
triste demais”. “Não dá nem pra explicar porque esse rio nunca
teve essa cor. A gente via peixe nadando aqui. Agora acabou”.
Pergunto se posso gravar esse depoimento em vídeo e ele diz que
melhor não. “É que eu vou me emocionar demais pra falar isso”,
diz.
O impacto do rompimento da barragem
é tão gigantesco que a lama já está mudando a rotina das cidades
por onde o Paraopeba passa. A prefeitura de Pará de Minas (MG), de
100 mil habitantes, decretou no início da semana estado de
emergência devido à contaminação do rio, que é fonte de água
para a população.
Enquanto isso, Conceição, Jair,
Luís e outras milhares de pessoas não poderão mais desfrutar o
Paraopeba por muito tempo. A lama tóxica da Vale matou pessoas e
está matando as águas por onde passa. “O rio estava sempre cheio
de gente que ia lá nadar, pescar, mas agora é essa tristeza que
está aí. O rio lá era bonito demais. É muito triste o que
aconteceu”, lamenta Jair.
Rio Paraopeba no município de
Brumadinho. Nesta área, o rio foi considerado morto devido à
quantidade de rejeitos de minério. © Christian Braga / Greenpeace.
Rio Paraopeba no município de
Brumadinho. Nesta área, o rio foi considerado morto devido à
quantidade de rejeitos de minério. © Christian Braga / Greenpeace.
Rio Paraopeba no município de São
Joaquim de Bicas. Nesta área, o rio foi considerado morto devido à
quantidade de rejeitos de minério. © Christian Braga / Greenpeace.
Rio Paraopeba no município de
Brumadinho. Nesta área, o rio foi considerado morto devido à
quantidade de rejeitos de minério. © Christian Braga / Greenpeace.
Fonte: ENVOLVERDE
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