sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019


Acabar com a pobreza é possível, mas significa confrontar a desigualdade.

Por Liu Zhenmin, subsecretário-geral para Assuntos Econômicos e Sociais da ONU*
Líderes mundiais se comprometeram a acabar com a pobreza em todos os lugares, para todas as pessoas, até 2030. Alcançar essa meta significa confrontar a necessidade de quedas dramáticas nas desigualdades — de renda, de oportunidade, de exposição a riscos, entre os gêneros, entre os países e dentro dos países — ao longo da próxima década.

A desigualdade é uma barreira bastante reconhecida à erradicação da pobreza, assim como muitos outros desafios de desenvolvimento. Ela está presente em múltiplas dimensões por toda a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável — o plano universalmente adotado para promover a prosperidade e o bem-estar social ao mesmo tempo em que se protege o meio ambiente. De acordo com muitas métricas, a desigualdade de renda entre os países caiu um pouco em décadas recentes, o que foi impulsionado primariamente pelo forte crescimento das economias do Leste e do Sul Asiáticos. Mas há muitos países — particularmente em partes da África, Oeste da Ásia e América Latina e Caribe — onde os níveis de renda continuaram a ficar ainda mais para trás, exacerbando as desigualdades de renda entre os países.

A última análise das Nações Unidas no Situação e Perspectivas Econômicas Mundiais 2019 indica essencialmente que os níveis de renda per capita estagnaram-se ou caíram num total de 47 economias em desenvolvimento e em transição no ano passado. A maioria desses países já vinha consistentemente ficando para trás por várias décadas. Isso traz um enorme desafio à medida que países se empenham em reduzir a pobreza, desenvolver infraestrutura essencial, criar empregos e apoiar a diversificação da economia. A maioria dos países retardatários é altamente dependente das commodities, o que assinala a importância tanto da diversificação quanto da gestão efetiva da riqueza de recursos naturais para explorar o seu potencial de desenvolvimento. Vários países também sofreram com duradouros conflitos armados ou agitação civil e instabilidade política.

Se essa tendência continuar, a erradicação da pobreza e a criação de empregos decentes para todos ficarão cada vez mais fora de alcance. O fraco desempenho econômico também está ligado ao investimento insuficiente na educação de qualidade, nos serviços de saúde, na proteção social, em programas para grupos marginalizados e na mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

Sozinho, o crescimento mais rápido do PIB não levará necessariamente a melhorias de base ampla nos padrões de vida. As desigualdades profundas também persistem na distribuição de renda dentro dos países, atuando como uma grande barreira ao progresso do desenvolvimento. A desigualdade elevada dentro dos países está associada à exclusão e fragmentação sociais; a uma construção de instituições e uma governança mais fracas; e a um risco mais alto de violência e conflito interno.

Transformações fundamentais são necessárias para ir adiante, para estreitar as lacunas de renda entre e dentro dos países. De acordo com estimativas da ONU, sem mudanças significativas no comportamento, mais de 7% da população global pode permanecer na pobreza até o ano de 2030, incluindo 30% das populações na África e nos países menos desenvolvidos (LDCs, na sigla em inglês).

Na África, onde a população está se expandindo a uma taxa de mais de 2% ao ano, reduzir o nível de pobreza extrema para abaixo de 5% até 2030 exigirá uma combinação de crescimento do PIB a dois dígitos e quedas dramáticas na desigualdade – algo bem além das esferas dos precedentes históricos.

Medidas políticas integradas e transversais, que elevem as perspectivas para o crescimento econômico, bem como reduzam as desigualdades de renda, são essenciais para colocar o mundo na direção de um caminho mais sustentável e inclusivo. Isso inclui investir na educação, no cuidado médico, na resiliência às mudanças climáticas, e na inclusão financeira e digital, para apoiar o crescimento econômico e a criação de empregos no curto prazo, ao mesmo tempo em que se promove o desenvolvimento sustentável no longo prazo.

A estabilidade macroeconômica e um sólido quadro de políticas orientadas para o desenvolvimento, incluindo um sistema financeiro robusto e em bom funcionamento, são elementos-chave para enfrentar, com sucesso, a desigualdade. Políticas fiscais bem elaboradas podem ajudar a suavizar o ciclo de negócios, oferecer bens públicos, corrigir falhas de mercado e influenciar diretamente na distribuição de renda. Ampliar o acesso à educação de qualidade também é crucial, em conjunto com políticas de emprego, como aumentar os salários mínimos e expandir a proteção social. Priorizar o desenvolvimento da infraestrutura rural, por meio do investimento público em transporte, agricultura e energia, também pode apoiar a diminuição da pobreza e estreitar as desigualdades dentro dos países.

Embora não haja um modelo único de prescrição de políticas que garanta a entrega de uma sociedade mais igual e próspera, uma mensagem geral é clara: chamados à erradicação da pobreza não têm sentido sem ações políticas coordenadas e comprometidas em reduzir a desigualdade.

*Liu Zhenmin tornou-se subsecretário-geral para Assuntos Econômicos e Sociais em julho de 2017. Antes de sua nomeação, ele foi vice-ministro das Relações Exteriores da China, desde 2013. Liu traz para o cargo mais de 30 anos de experiência no serviço diplomático, com um forte foco na promoção de questões bilaterais, regionais e globais. Por dez anos, ele esteve profundamente envolvido em negociações sobre mudanças climáticas, incluindo na conclusão do Protocolo de Kyoto e do Acordo de Paris.


Fonte: ENVOLVERDE

Quando será o novo rompimento de barragem?


por Liliane Rocha*, especial para a Envolverde

Após três anos do desastre do rompimento de uma barragem em Mariana, em Minas Gerais, que vitimou 19 pessoas, há quase um mês, o Brasil assistiu estarrecido a um novo desastre, desta vez com proporções ainda imensuráveis.

Uma das barragens de rejeito de minérios da Vale, em Brumadinho, também em Minas, que resultou em 169 mortos confirmados e 141 desaparecidos. Além das vítimas, o desastre causou muitos impactos ambientais. A lama destruiu parte da vegetação local e causou a morte de diversas espécies de animais, tornando a água do Rio Paraopebas imprópria para o consumo reduzindo a quantidade de oxigênio disponível, o que desencadeia grande mortandade de animais e plantas aquáticas.

Depois de tantas notícias tristes, infelizmente se continuar como está, a única certeza que temos é de que acontecerá novamente. Pode ser em 3 anos ou em 20 anos, mas a verdade é que as probabilidades de vermos uma nova tragédia como estas, são muitas.

Um estudo da Agência Nacional de Águas de 2017, mostra que há mais de 24 mil barragens no país, 42% delas clandestinas e às margens da Lei, 790 barragens com rejeito de minério, 421 consideradas de maior porte. No entanto, só existem atualmente fiscais para verificar cerca de 3% delas por ano.

Ainda segundo a ANA, pelo menos 45 barragens estão em situação preocupante e alarmantes. Sabemos que a Lei 12.334, de 20 de setembro de 2010 “estabelece a Política Nacional de Segurança de Barragens destinadas à acumulação de água para quaisquer usos, à disposição final ou temporária de rejeitos e à acumulação de resíduos industriais, cria o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens”, mas quem está cumprindo a Lei? Como ela está sendo assegurada na prática diária?

Além disso, os processos de reestruturação de barragens em mineradoras para adequações ambientais, transposição de barragens e afins, os investimentos necessários podem chegar a 400 milhões de reais. Quando na catástrofe de Mariana a multa aplicada para a empresa responsável foi de 250 milhões de reais, podemos dizer que em termos matemáticos, se desconsiderarmos crise de reputação e imagem das empresas, um empresário que não prioriza questões ambientais e sociais entende que a multa gera menos custo do que a realização do processo correto que garante a segurança de todos.

Vamos lembrar que nos Estados Unidos em 2015 o acordo com a Petroleira BP – empresa britânica – devido a vazamento de óleo que poluiu o Golfo do México chegou em 20 bilhões de dólares.

Além disso, temos as etapas de licença prévia, licença de instalação e licença de operação que são cruciais para garantir que as empresas apresentem e validem informações relacionadas à segurança ambiental e social do projeto junto a órgãos legais. Bem, sabemos que esse processo também tem estado na berlinda com as proposições sobre autolicenciamento.

Por fim, lembro e poucos sabem, que uma planta de mineração para fechar, encerrar atividades, precisa cumprir o plano de descomissionamento, processo que planeja a desativação segura daquela determinada unidade, visando a segurança e a saúde pública. O que acontece é que muitas empresas para não passar por este rito, ao invés de fechar a unidade, simplesmente paralisa ou reduz as atividades ao mínimo, assim, por uma brecha, que podemos chamar de “jeitinho brasileiro”, simplesmente escapa a necessidade de efetivar o plano de descomissionamento.

Para garantirmos que depois de Mariana, Brumadinho seja o último município no qual vemos essa atrocidade, é preciso efetivar na prática o que a legislação já apresenta hoje como paramentos, garantir também que o “jeitinho brasileiro” deixe de ocorrer no dia-a-dia. Garantir às pessoas desses municípios que estão em situação de risco que tenham canais seguros nos quais possam reclamar, sanar preocupações e fazer denúncias. E atuar com rigor e de forma justa nas reparações necessárias e na dimensão exata dos prejuízos causados.

Se não tomarmos estas medidas, a única pergunta que fica no ar é quando será o próximo rompimento de barragem?

*Liliane Rocha é Fundadora e CEO da Gestão Kairós consultoria de Sustentabilidade e Diversidade. Mestre em Políticas Públicas pela FGV, MBA Executivo em Gestão da Sustentabilidade na FGV, Especialização em Gestão Responsável para Sustentabilidade pela Fundação Dom Cabral, MBA em Coaching pela Sociedade Brasileira de Coaching, graduada em Relações Públicas na Cásper Líbero. Profissional com 14 anos de experiência na área de Responsabilidade Social em empresas de grande porte. É responsável pela elaboração de cursos e realização de aulas de Sustentabilidade e Diversidade em parceria com FIA / USP, SENAC e ESPM.


Fonte: ENVOLVERDE

Tietê permanece adoecido na região metropolitana devido ao mau planejamento urbano.


Por Sucena Shkrada Resk*

A sensação de déjà-vu é contínua. Entra ano, sai ano, esta é a realidade perversa que vivemos diariamente nas regiões metropolitanas. De um lado, algumas nascentes que resistem, sabe-se lá até quando à pressão humana e, por outro, rios que são engolidos, em diversos trechos de seus percursos, por plásticos e por todos os tipos de resíduos que são recicláveis, além da imensa descarga clandestina de esgotos domésticos e industriais. No estado de São Paulo, o exemplo clássico é do Tietê. Um dos efeitos colaterais do mau planejamento urbano por décadas.

Mas muitos rios em diferentes localidades do país poderiam ser objeto desta reflexão. Só em relação à poluição orgânica, o Atlas Esgotos – Despoluição de Bacias Hidrográficas, da Agência Nacional de Águas (ANA), publicado em 2017, expôs que a maioria dos municípios brasileiros despeja pelo menos 50% do esgoto que produz diretamente em cursos d’água próximos, sem submetê-los a qualquer trabalho de limpeza.
Crédito da foto: Sucena Shkrada Resk

Nascente conservada

No caso do Tietê, o exercício de observação se torna interessante ao ver sua nascente ainda preservada em Salesópolis, a 96 quilômetros da capital. Praticamente escondida sob as rochas e mata, se encontra em uma unidade de conservação – Parque Estadual das Nascentes do Rio Tietê, criado por decreto estadual, em 1988, e inaugurado oficialmente em 1996. Antes havia sido um terreno particular, com atividades pecuárias e carvoeiras. Mas a descoberta da nascente foi feita bem antes, em 1954, pela Sociedade Geográfica Brasileira.

Depois de 20 anos, estive lá novamente, no dia 02 de fevereiro. Foi um momento de significativa contemplação e reflexão sobre estes contrates que se arrastam indefinidamente, principalmente desde as primeiras décadas do século XX. O contraponto no curso das águas do Tietê, em situação de “poluição”, foi destaque recentemente na mídia e flagrada na região do município de Salto, depois das chuvas que aumentaram o nível do rio e carrearam os resíduos despejados irregularmente nas vias .
Responsabilidade compartilhada

Todas essas situações certamente não derivam de geração espontânea. Estamos em 2018 e ainda parece um bicho-de-sete-cabeças falar de responsabilidades compartilhadas, neste contexto, não é? 

Sim, gestão pública (municipal, estadual e federal), empresas e sociedade civil. O Projeto Tietê foi proposto para sua despoluição na Região Metropolitana do Estado de São Paulo, desde 1992, com financiamento vultoso do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), e está sendo coordenado pela Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp). A sua concepção foi decorrente de mobilização social, que contou também com um abaixo-assinado com mais de 1 milhão e 200 mil assinaturas, ocorrida na capital, com a iniciativa da rádio Eldorado, do Jornal da Tarde e da SOS Mata Atlântica.

Ao longo do processo, é possível observar que avançou em alguns pontos, com coleta e estações de tratamento de esgotos, mas ainda precisa avançar muito no saneamento, pois depende também das ações municipais. Hoje se encontra na terceira etapa, que deve seguir até 2020 e depois iniciar a quarta etapa.

Durante todos estes anos, o cenário que se vê é de que muitos municípios ainda continuam a despejar esgoto clandestinamente no rio. Ao mesmo tempo, há a falta de educação quanto ao consumo consciente e o despejo em grande volume de resíduos que deveriam ser reciclados. Um ciclo vicioso das lacunas do saneamento ambiental, que envolve diretamente a sociedade.

Existe um antagônico retrato do desenvolvimento principalmente na região metropolitana de São Paulo, com mais de 20 milhões de pessoas, que segue na contramão do que seria esperado de um comportamento civilizado nas cidades. Seja sob temporais ou em períodos de estiagem, esse contexto resulta em um Tietê “sufocado”, que está bem longe de seus áureos tempos em que ainda era totalmente sinuoso (não retificado em seu curso), onde antepassados nadavam, pescavam, andavam de barco, participavam de provas aquáticas e no qual, o ecossistema fluía livre.

Até quando será possível vislumbrar nascentes com água insípida, inodora e incolor, como vi em Salesópolis? A sensação é quase de êxtase e com licença poética para recobrar a inspirada letra da música “Planeta Água”, de Guilherme Arantes, não é? Sem pecar pelo excesso de romantismo. Mas vale repetir o questionamento – até quando? Uma série de pressões vem de todos os lados, acrescentando às fontes poluidoras, os agrotóxicos utilizados em cultivos próximos das águas, em alguns municípios.

O rio carece, em muitos trechos, da falta de matas ciliares, e de florestas nativas. O próprio parque é resultado de regeneração após exploração carvoeira que havia na área anteriormente e se transformou em UC por pressão da sociedade e decisão de uma política pública. Mas não é suficiente. O município também apresenta simultaneamente áreas de reflorestamento com espécies exóticas, devido ao mercado de papel e celulose regional, e carece de mais áreas nativas.

Facetas da poluição

As diferentes facetas da poluição hídrica resultam na “morte” de partes do Tietê. Exagero? Não. Em julho passado, o que se via, era a carga de espuma, retrato da poluição, por exemplo, na mesma Salto e na região de Cabreúva. Em outubro, uma “lama negra”, provavelmente decorrente da abertura de comportas de usinas, como foi destacado em noticiário à época. Mais recentemente o “mar de plásticos”. Os resultados dos comprometimentos físico, químico e biológico são comprovados por análises técnicas.

Onde o rio está morto

Parece redundância, mas falar a respeito dessas situações se repete em relação aos anos e décadas anteriores. Em 2018, o relatório Observando o Tietê, da Fundação SOS Mata Atlântica, expôs que a mancha de poluição era de 122 quilômetros, em sua extensão, entre Itaquaquecetuba e Cabreúva. Isso quer dizer 10,6% dos seus 1.150 quilômetros.

O monitoramento foi feito nas bacias hidrográficas do Alto e Médio Tietê e sub-bacias dos rios Sorocaba, Piracicaba, Capivari e Jundiaí, no período de setembro de 2017 a agosto de 2018. O Tietê deságua no rio Paraná, no município de Itapura (divisa entre São Paulo e Mato Grosso do Sul). Em 2010, esta mancha era de 243 quilômetros. Houve um decréscimo, mas ainda falta muito para melhorar, não é?

Mais um dado a refletir: toda poluição gerada nos 39 municípios da bacia hidrográfica do Alto Tietê, chega a 612 toneladas de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO)/ dia (dos 62 que compreendem toda extensão do rio). Daí é possível entender por que não é possível ver peixes ou outros tipos de vida nestes trechos. Como resistir a tanto esgoto? Em 63,4% dos 112 pontos de coleta, a condição de água estava regular, segundo o estudo.

Segundo o relatório, a qualidade de água boa foi mantida em 4 pontos de coleta: dois localizados no rio Tietê, nos municípios de Salesópolis e Biritiba-Mirim, em área de manancial e os outros 2 em afluente do rio Caulim e em nascente afluente da represa Billings, no parque Shangrilá, ambas na Capital paulista.

Esse conjunto de dados demonstra que o rio não sairá desta condição, se continuarmos a perpetuar este mesmo modelo de desenvolvimento às avessas nas regiões metropolitanas. Quem ganha com um Tietê morto?

Sucena Shkrada Resk é jornalista, formada há 27 anos, pela PUC-SP, com especializações lato sensu em Meio Ambiente e Sociedade e em Política Internacional, pela FESPSP, e autora do Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk (https://www.cidadaosdomundo.webnode.com), desde 2007, voltado às áreas de cidadania, socioambientalismo e sustentabilidade.

crédito da foto: Sucena Shkrada Resk


Fonte: ENVOLVERDE

Mata Atlântica tem novo mapa de áreas prioritárias para conservação.


Atualização das regiões com prioridade de conservação do bioma foi realizada pelo IPÊ e MMA, com apoio de cientistas e sociedade civil.

A segunda atualização das Áreas Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade dos biomas Mata Atlântica, Amazônia, Pampas, Zona Costeira e Marinha foi concluída. O trabalho (publicado na Portaria MMA / Nº 463/2018) foi realizado pelo Departamento de Conservação de Ecossistemas (DECO) da Secretaria de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e contou com vários parceiros de organizações socioambientais e da sociedade civil na sua elaboração. O resultado pode ser encontrado no site do MMA: http://areasprioritarias.mma.gov.br.

O IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas foi o responsável pela condução da criação do novo mapa de áreas prioritárias para a conservação da Mata Atlântica. O processo de criação desse mapa foi feito de modo participativo. Sociedade civil, universidades, centros de pesquisa, representantes governamentais, empresas e cidadãos comuns puderam participar de pelo menos uma das cinco etapas que envolveram esse grande levantamento: Consulta Pública para avaliar a última atualização das Áreas Prioritárias; Definição de alvos e metas para conservação; Definição da superfície de custo; Definição da superfície de oportunidades; e Definição das áreas e ações prioritárias para a conservação, uso sustentável e repartição dos benefícios da biodiversidade na Mata Atlântica.

Clinton Jenkins, coordenador da iniciativa pelo IPÊ, afirma que esta avaliação contou com um processo muito mais completo para destacar as informações necessárias de cada organização, cientista, representante da sociedade civil participante. “Um componente essencial de um processo participativo é a validação dos resultados com as pessoas que participaram na construção do processo. Baseada na análise de dados e as ajustes recomendados por especialistas, essas áreas prioritárias atingem as metas para conservação de 99% dos alvos do processo. Junto com as ações recomendadas por as especialistas para cada área, avançamos muito no planejamento para a conservação do bioma”, afirma.

A seleção de áreas prioritárias para a conservação é um instrumento de política pública para apoiar a tomada de decisão, de forma objetiva e participativa, no planejamento e implementação de ações para conservação da biodiversidade brasileira, tais como a criação de unidades de conservação (UC), licenciamento, fiscalização e fomento ao uso sustentável. As regras para identificação de Áreas e Ações Prioritárias foram instituídas pelo Decreto nº 5.092/2004.

Esperamos que os resultados deste processo possam ser utilizados como uma ferramenta que contribua para um sistema de planejamento mais eficaz, no qual investimentos e esforços, tanto do governo quanto da iniciativa privada, sejam aplicados para subsidiar uma estratégia espacial que promova ações integradas de conservação e uso sustentável da biodiversidade da Mata Atlântica”, afirmou Mateus Motter Dala Senta, analista ambiental do Departamento de Conservação de Ecossistemas, Secretaria de Biodiversidade do MMA.

Angela Pellin, pesquisadora do IPÊ, destaca que um mapa feito de forma participativa tem muito mais chance de ser viável em sua aplicação prática. “Temos uma quantidade muito maior de informações espacializadas subsidiando o exercício. Conseguimos incluir de forma bastante objetiva na análise, os custos e oportunidades que dificultam ou facilitam a conservação para auxiliar na seleção das áreas prioritárias. Com isso temos um mapa de áreas prioritárias mais refinado e adequado ao contexto, e portanto, com maior possibilidade de implementação”, afirma.

O trabalho para criação do novo mapa foi desenvolvido no âmbito do Projeto Biodiversidade e Mudanças Climáticas na Mata Atlântica, coordenado pelo MMA no contexto da Cooperação para o Desenvolvimento Sustentável Brasil-Alemanha, parte da Iniciativa Internacional de Proteção do Clima (IKI) do Ministério Federal do Meio Ambiente, Proteção da Natureza e Segurança Nuclear (BMU) da Alemanha. O projeto também conta com o apoio técnico da Deutsche Gesellscha fürInternaonale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH e tem apoio financeiro do Banco de Fomento Alemão (KfW), por intermédio do Fundo Brasileiro para Biodiversidade (Funbio).

Sobre o IPÊ

O IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas é uma organização brasileira sem fins lucrativos que trabalha pela conservação da biodiversidade do país, por meio de ciência, educação e negócios sustentáveis. Fundado em 1992, tem sede em Nazaré Paulista (São Paulo), onde também fica o seu centro de educação, a ESCAS – Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade.

Presente nos biomas Mata Atlântica, Amazônia, Pantanal e Cerrado, o Instituto realiza cerca de 30 projetos ao ano, aplicando o Modelo IPÊ de Conservação, que envolve pesquisa científica de espécies, educação ambiental, conservação de habitats, envolvimento comunitário, conservação da paisagem e apoio à construção de políticas públicas. Além de projetos locais, o Instituto também desenvolve trabalhos em diversas regiões, seguindo os temas Áreas Protegidas, Áreas Urbanas e Pesquisa & Desenvolvimento (Capital Natural e Biodiversidade).

Para o desenvolvimento dos projetos socioambientais, o IPÊ conta com parceiros de todos os setores e trabalha como articulador em frentes que promovem o engajamento e o fortalecimento mútuo entre organizações socioambientais, iniciativa privada e instituições governamentais.


Fonte: ENVOLVERDE

O novo com velhos hábitos.

Por Observatório do Código Florestal

Redução da transparência e crescimento econômico a qualquer custo deixam sensação de déjà vu na área ambiental,

Quando o cidadão brasileiro, cansado da corrupção, decidiu mudar radicalmente os governantes do país por aqueles que ofereciam uma nova forma de governar, não imaginava que estaria embarcando em uma viagem ao passado. Isso porque, em pleno século XXI, o que espera-se de um governo com a promessa de “novo” vai muito além de sair de uma grande crise econômica causada pela corrupção. Espera-se que um novo governo alavanque o Brasil para uma posição de destaque e liderança global. Que mude a relação entre governante e governado, ouvindo a opinião pública, aumentando o controle e a participação social, fomentando a transparência e começando a construir uma relação de confiança. Que respeite e fomente as diversidades sociais e culturais, patrimônio do país, e que o crescimento econômico seja duradouro e sustentável, alicerçado na boa gestão dos recursos naturais e na justiça social.

Contudo, a cada episódio da política de 2019, a sensação é que está se vivendo uma reprise. Na esfera ambiental, os capítulos diários têm sido os mais dramáticos. O primeiro susto foi relacionado ao Código Florestal, que já fará 7 anos. Em dezembro de 2018, uma Medida Provisória (MP nº 867, de 26 de dezembro de 2018) adiou para dezembro de 2019, prorrogável por mais um ano, a implantação dos Programas de Regularização Ambiental (PRAs), que visam a adequação de proprietários rurais que desmataram áreas além dos limites legais. Assim, o início da adequação ambiental em todo o país só vai começar daqui a um ano, o que adia pela quinta vez a implantação do Código Florestal. Tudo isso, dentro de um cenário onde desmatamento florestal voltou a crescer. Para a ex-presidente do Ibama, Suely Araújo, “É fundamental passar para a regularização, isso está atrasado nos Estados. É fundamental que estes planos, que estão muito lentos, comecem a ser executados”.
Mas ao contrário da importância e da necessidade de avanços, na prática tem se usado a marcha ré, principalmente no âmbito do acesso às informações.  Essa ameaça se deve pois a ferramenta mais importante do Código Florestal, o Cadastro Ambiental Rural (CAR), se baseia justamente na transparência dos dados. Ao se inscrever no Sistema de Cadastro Ambiental Rural (Sicar), o dono da terra deve listar várias informações da situação ambiental da propriedade. Entre elas, o georreferenciamento do imóvel, a extensão das áreas desmatadas e de uso consolidado, os locais que serão restaurados e, se houver, reserva legal e áreas de preservação permanente. A comprovação da propriedade ou posse e os dados do produtor rural também são essenciais no processo de cadastramento.

Na teoria, o CAR é uma excelente ferramenta de geopolítica ambiental. Ele pretende ser um grande mapa, que vai mostrar a conformidade ambiental, ou não, dos imóveis rurais brasileiros. É com base neste mapeamento que as autoridades e a sociedade saberão a extensão das áreas de vegetação natural protegidas legalmente e qual o tamanho do passivo de Reserva Legal e de áreas de preservação permanente (APPs) que existe no país. As dimensões da reserva legal, por lei, variam de 20% a 80% dependendo do tamanho da propriedade. As áreas de preservação permanente estão localizadas nas beiras de rios, nos grandes declives, nos topos de morro e nas nascentes. Por isso, a transparência de dados é considerada atualmente a maior ferramenta de proteção ambiental.

Contudo, a implantação do “Novo” Código Florestal é prejudicada pela instrução normativa 03/2014 que impede a transparência total dos dados. Esta regra coloca em sigilo informações que identificam os proprietários ou possuidores e proíbe a divulgação de dados pessoais em geral, caso do nome, endereço, CPF ou CNPJ. Mais uma ameaça veio da tentativa do Governo federal de alterar, no início deste ano, a regulamentação da Lei de Acesso à Informação (LAI) pelo decreto 9.690, que facilitaria a imposição de sigilos aos dados públicos. “O decreto lançado pelo Governo amplia o grupo de autoridades que podem classificar informações como sigilosas, e com isso deve facilitar a negação de acesso à informação para a sociedade” explica Alice Thuault, diretora adjunta do Instituto Centro de Vida (ICV). Com a mudança, o diretor-geral do Serviço Florestal Brasileiro e o presidente do Ibama, por exemplo, poderiam definir que documentos sobre a proteção florestal seriam ultrassecretos, ou seja, só acessíveis pela sociedade em 25 anos, e os demais diretores dos mesmos órgãos poderiam definir estes documentos como secretos, acessíveis em 15 anos, conforme esclarece Roberta del Giudice, Secretária Executiva do Observatório do Código Florestal. Na primeira derrota do Governo o decreto foi suspenso no último dia 19 pela Câmara dos Deputados, mas o texto ainda vai para o Senado.

Os especialistas em legislação e meio ambiente sempre defenderam que todos estes dados deveriam ser públicos e divulgados sem subterfúgios a toda a sociedade.  Um bom exemplo de transparência é a disponibilidade de todos os dados do documento de origem florestal (DOF), que mostra o transporte legal de madeira pelo país. O DOF, também cadastrado no Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais (Sinaflor) pelo IBAMA, disponibiliza inclusive o cadastro dos fornecedores com CPF. “A transparência é total, para que possamos cumprir o plano de dados abertos”, disse Suely, antes de vivenciar os últimos fatos do novo governo.

Ter acesso a todos os dados ambientais cadastrados tanto via CAR quanto no próprio Sinaflor também é considerado fundamental pelos membros do Ministério Público Federal, para que o desenvolvimento de ações de investigação de crimes ambientais seja feito de forma mais eficiente. 

Desde junho, o Conselho Nacional do MP assinou um termo de cooperação com o Ministério do Meio Ambiente para utilizar os dados registrados no Sicar. “Foi uma conquista singular para o Ministério Público Brasileiro, segundo Erick Pessoa, membro colaborador do conselho nacional. O que os procuradores federais esperam é ter uma poderosa ferramenta em mãos para ajudar tanto no controle quanto no combate aos crimes ambientais. “Os dados disponíveis no sistema são de extrema precisão e detalhamento. Vão desde informações dos proprietários de imóveis até o histórico de desmatamento no local, vegetação predominante e topografia. A atuação do Ministério Público ganha um aliado valioso”, afirma Pessoa.

Ele explica, por exemplo, que em um eventual caso de mineração sem licença ambiental ou fora dos padrões autorizados, a utilização dos dados do Sicar como fotografia, informações geológicas e os dados dos proprietários dos imóveis vão facilitar a identificação dos possíveis responsáveis pelo dano. Segundo Pessoa, os resultados já alcançados no cadastro CAR “ilustram de forma incontestável, que esse instrumento revolucionará a questão ambiental nacional”.

Transparência é palavra-chave de governos democráticos e desenvolvidos. A Casa Branca, no primeiro ano do governo Trump, organizou uma Mesa Redonda sobre “Dados Abertos para o Crescimento Econômico”, quando líderes de dados abertos do governo e do setor privado compareceram ao evento como parte do compromisso de longo prazo do governo com a modernização do governo (leia a notícia). Apesar do Presidente norte-americano ser inspiração para o nosso governo em muitos aspectos, a experiência de Donald Trump no setor privado deram a ele um reconhecimento da importância da transparência para o crescimento econômico de longo prazo.

Embora a transparência não seja um tema novo, a informatização dos dados e a facilidade de acesso pela sociedade são processos recentes e em constante movimento, com foco no presente e no futuro. 

Preocupante é voltar-se ao passado e retomar velhos hábitos. A questão do licenciamento ambiental é uma dessas circunstâncias na qual se acena para trás, mesmo quando a tragédia social e ambiental de Brumadinho comove um país inteiro.

O que se está assistindo é que se apresentar como um novo governo não é tão trivial como parece. 

Para ser singular, inédito, diferente dos outros, a ordem do jogo deveria ser invertida e o cidadão deveria passar a ter um controle social efetivo. O crescimento econômico deveria ser sustentável e justo e a promoção da transparência deveria estar no cerne de um novo governo. Caso contrário, fica parecendo promessas não cumpridas de ano novo, o novo com velhos hábitos. Para Alice, “é só quando o governo compartilha com a sociedade os dados públicos que se pode fazer uma boa prevenção de fraudes, combate a corrupção, fiscalização e que se tem insumos para a construção de novas propostas para a gestão social e ambiental”.

Eduardo Geraque – Jornalista

Simone Milach – Assessora de comunicação do Observatório do Código Florestal (OCF).


Fonte: ENVOLVERDE

Amazônia tem baixo índice de transparência ambiental.

Estudo aponta melhora na transparência da informação no nível Federal,

O índice geral de transparência ativa – quando governos divulgam dados e informações públicas independente de solicitações – é de apenas 28% na Amazônia brasileira. Pouco mais da metade dos pedidos de informações, 53%, são respondidos de maneira satisfatória e dentro do prazo estabelecido por lei. Embora ainda longe do ideal, no entanto, os índices de transparência no nível Federal e em alguns estados melhoraram nos dois últimos anos.

Estes são alguns dos dados apresentados pelo estudo Avaliação da Transparência das Informações Ambientais na Amazônia, produzido pelo Instituto Centro de Vida (ICV). O estudo analisa a disponibilização de 41 informações-chave para o controle ambiental na Amazônia Legal e o atendimento às solicitações de informação por órgãos do executivo federal e estaduais.

“Nossa pesquisa demonstra que os investimentos em transparência deram frutos em nível federal, que teve uma variação positiva de 19% no índice. Já nos estados, identificamos disponibilização frágil e incompleta dos dados ambientais, mas também plataformas promissoras e iniciativas de envolvimento do Ministério Público Federal e seus pares estaduais”, diz Alice Thuault, diretora adjunta do ICV.
Rondônia, Amazonas e Maranhão apresentam os melhores índices de transparência passiva (100%, 83% e 78%, respectivamente), superando o índice Federal, de 75%. Já na análise da transparência ativa, o índice do executivo federal, de 88%, não é atingido por nenhum dos estados – o melhor desempenho é o de Mato Grosso, com 56%.

“O acesso às informações ambientais é imprescindível para se enfrentar as práticas ilegais que ameaçam a Amazônia brasileira e possibilita o engajamento e o controle social sobre atividades públicas e privadas”, aponta Ana Paula Valdiones, uma das autoras do estudo.

O ICV também analisa a transparência ativa por agenda de uso dos recursos naturais. Em todas as categorias analisadas, os índices ainda não garantem à sociedade como um todo exercer seu papel no controle dos impactos socioambientais das cadeias produtivas e obras de infraestrutura.

A agenda da soja tem o melhor índice de transparência, com 40%. A exploração florestal tem um índice de transparência de 34%, hidrelétricas e pecuária compartilham o patamar de 33% e regularização ambiental está em 26%. O menor índice de transparência continua sendo o da regularização fundiária, com apenas 16%.

O levantamento, publicado na 10ª edição da série Transparência Florestal está disponível completo no site do ICV.

Clique aqui e confira o documento.



Fonte: ICV

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Chuvas e deslizamentos de terra no Rio de Janeiro.


As fortes chuvas no Estado do Rio de Janeiro, ocorridas em fevereiro de 2019, provocam deslizamentos que derrubam casas construídas em áreas de risco, e tiram a vida das pessoas que moravam nessas casas.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019


O primeiro mel de abelhas sem ferrão legalizado do Brasil.

O selo de inspeção federal e a autorização de manejo são conquistas de um processo de consolidação da cadeia de valor desenvolvido pelo Peabiru desde 2006.

Sem abelhas não existe floresta. A afirmação contundente é seguida a risca pelo Instituto Peabiru em seus mais de 12 anos de pesquisas e desenvolvimento tecnológico no manejo de abelhas sem ferrão junto a agricultores familiares da Amazônia.As abelhas sem ferrão são um conjunto de espécies de abelhas originárias do Brasil ainda pouco compreendidas e valorizadas. Além da produção de mel, o principal trabalho das abelhas melíponas é polinizar, isto é, prover o serviço ambiental de garantir que haja a reprodução entre as espécies vegetais, que permite que estas frutifiquem e gerem sementes. A floresta e os ambientes naturais dependem destas abelhas para sua sobrevivência e muitas espécies comerciais, como açaí, cacau, cupuaçú e castanha do Pará também dependem delas como polinizadores.
Colmeia de criação de abelhas sem ferrão. Foto: Rafael Araújo.

A meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão) pela agricultura familiar gera renda complementar, de forma simples e eficaz, especialmente a indígenas, quilombolas e povos e comunidades tradicionais, geralmente com poucas oportunidades de manter negócios sustentáveis para prover renda. Para João Meirelles Filho, diretor do Instituto Peabiru, “temos todo o conhecimento para que cada agricultor familiar da Amazônia possua, além de pequenos animais, como galinhas, também colmeias de abelhas sem ferrão. O ideal seria atender às mais de um milhão de famílias presentes na Amazônia brasileira”. O desafio é grande, mas possível, na medida em que, com a venda do primeiro lote de mel de abelhas sem ferrão legalizado do Brasil, o Peabiru mostra o caminho para os mais de cinquenta mil criadores do país.

Atuando desde 2006 na cadeia de valor das melíponas, este mês o Instituto Peabiru recebe o primeiro lote de mel produzido por abelhas sem ferrão (processo conhecido por meliponicultura), fruto da única cadeia certificada com selo de inspeção federal (SIF) e autorização de manejo pelo IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente). Nos últimos anos o Peabiru tem se dedicado à atuação em temáticas que envolvem o beneficiamento da produção para comercialização, especialmente de produtos e serviços quem têm relação com a conservação da floresta e componentes ligados à origem, social e/ou territorial. “Nos territórios nos quais trabalhamos já há processos produtivos relativamente resolvidos e produtos com qualidade diferenciada. Ao mesmo tempo, existem mercados consumidores para tais produtos. O que falta é o link entre a produção e a comercialização”, diz Hermógenes de Sá, diretor-executivo do Instituto Peabiru.
Além da produção de mel as abelhas melíponas fazem o trabalho de polinização e garantem a reprodução entre as espécies vegetais. Foto: Rafael Araújo.

Apesar da qualidade reconhecida, os produtos da biodiversidade da Amazônia em geral enfrentam uma série de limitantes de ordem estrutural, como a ausência de regularização fundiária, que impossibilita o acesso ao crédito e ao licenciamento dos projetos; a deficiência da infraestrutura de transporte para o escoamento e de energia para a produção de caráter comunitário; além da significativa falta de assistência técnica para os produtores rurais desenvolverem sua produção de forma sustentável.

Produto da Floresta bem perto do consumidor

Entre inúmeros exemplos de produtos típicos da região, como as frutas, farinhas e condimentos da Amazônia, o mel de abelhas sem ferrão se destaca por ser um produto de manejo simples, que é produzido em harmonia com a floresta e com grande potencial de comercialização. Fruto de longo trabalho e da atuação constante na assistência técnica e capacitação, de forma inédita no país, os produtores associados ao Peabiru conquistaram a autorização de manejo, necessária por serem as abelhas animais silvestres e também a certificação do mel com o Selo de Inspeção Federal (SIF). Este selo, um dos primeiros concedidos a produtos dessa natureza no Brasil, permite comercializar o mel de abelhas sem ferrão no mercado formal em todo o Brasil.
Primeiro lote de mel de abelhas sem ferrão com Selo de Inspeção Federal (SIF). Foto: Comunicação Instituto Peabiru.

Sob a marca da Peabiru Produtos da Floresta, junto a diversos outros produtos da biodiversidade, o mel cultivado por mais de 120 famílias em 20 territórios em toda a Amazônia está agora disponível ao consumidor, que pode encontrar o primeiro lote à venda em Belém, na Loja do Instituto Peabiru e, em breve, também na loja virtual. Logo mais, o produto estará também disponível em São Paulo, na loja do Instituto ATA e do Instituto Socioambiental (ISA), no Mercado Municipal de Pinheiros.

Todo este trabalho foi possível graças ao apoio de diferentes financiadores, em destaque BNDES/Fundo Amazônia, Fundação Banco do Brasil, Instituto GPA/Assaí, Bauducco, Programa Petrobras Socioambiental, Embaixada dos Países Baixos, Conservação Internacional, ABN AMRO Foundation e Sambazon. Entre os parceiros técnicos participam instituições como EMBRAPA Amazônia Oriental e Universidade Federal do Amapá (UFAP).


Fonte: ENVOLVERDE

Aquecimento global: Planeta Azul ficará ainda mais azul à medida que Terra esquenta.


Por: Matt McGrath, Fonte: BBC News Brasil

O aumento das temperaturas mudará a cor dos oceanos do mundo, tornando-os mais azuis nas próximas décadas, dizem cientistas.

Eles descobriram que o aquecimento global alterará a presença de fitoplâncton, os minúsculos organismos marinhos que absorvem e refletem a luz.

Os cientistas dizem que haverá menos deles nas águas nas próximas décadas. Isso levará a uma mudança de cor em mais de 50% dos mares do mundo até 2100.

O fitoplâncton desempenha um papel extremamente importante nos oceanos.
Fitoplâncton, que absorvem e refletem a luz dos oceanos, visto por meio de um microscópio.

Além de transformar a luz solar em energia química e consumir dióxido de carbono, eles estão no primeiro degrau da cadeia alimentar marinha.

Eles também desempenham um papel importante na forma como vemos os oceanos com nossos olhos.

Quanto mais fitoplâncton houver na água, menos azul será o mar. O mais provável será uma cor esverdeada.

Pesquisas anteriores mostraram que, com o aquecimento, os oceanos terão uma redução no fitoplâncton em vários lugares.

Este novo estudo modela o provável impacto que essas mudanças terão sobre a cor do oceano e do planeta à medida que o mundo se aquece.

“O que descobrimos é que a cor vai mudar. Provavelmente não tanto a ponto de você enxergar a olho nu, mas certamente os sensores serão capazes de perceber que há uma mudança”, disse a autora do estudo, Stephanie Dutkiewicz, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) em Cambridge, nos Estados Unidos, em entrevista à BBC News.

“E provavelmente será um dos primeiros sinais de alerta de que mudamos a ecologia do oceano.”
Além das mudanças no azul dos oceanos, também é provável que vejamos mudanças na área verde.

Os pesquisadores apontam que as alterações são um impacto indireto da mudança climática. Como o aquecimento está afetando a circulação dos mares, isso está mudando a quantidade de alimentos disponíveis para o fitoplâncton.

Outra diferença em relação a estudos anteriores é que, desta vez, os pesquisadores estão olhando apenas para medições feitas por satélites da luz refletida pelo fitoplâncton.

No passado, cientistas usavam medições de satélites da clorofila – pigmento no fitoplâncton que absorve luz – para tentar entender o impacto da mudança climática.

No entanto, eles tiveram problemas para estabelecer a diferença entre a variação natural e o aquecimento induzido pelo homem sobre esse pigmento verde. Eles acreditam que demorará de 30 a 40 anos até que eles possam dizer com certeza que a mudança climática está causando um impacto na clorofila.

“O que mostramos é que a cor na faixa verde/azul vai mostrar esse sinal de mudança mais cedo. Em alguns lugares, talvez na próxima década”, disse o Dr. Dutkiewicz.

“O oceano vai apresentar uma mudança de cor nas próximas décadas maior do que veríamos na clorofila. A mudança de cor será mais um sinal de alerta.”
Padrões naturais vistos no rio ucraniano Dnepr coberto por cianobactérias como resultado da evolução do fitoplâncton em estações quentes.

Os pesquisadores acreditam que o Atlântico Norte será um dos primeiros lugares a refletir a mudança – seguido por regiões no Oceano Antártico.

A equipe modelou o que aconteceria com os oceanos até o final deste século se a temperatura média do mundo esquentasse em 3º C, o que é próximo ao cenário previsto caso cada país siga as promessas que fizeram no acordo climático de Paris.

“Haverá uma diferença notável na cor de 50% do oceano até o final do século 21”, disse o Dr. Dutkiewicz.

“Isso pode ser potencialmente muito grave. Diferentes tipos de fitoplâncton absorvem a luz de maneira diferente, e, se a mudança climática levar uma comunidade de fitoplâncton a invadir o espaço de outra, isso também mudará os tipos de cadeias alimentares que eles podem suportar.”

A equipe também acredita que o mundo verá mudanças em algumas das tonalidades verdes vistas também nos oceanos.

Isso acontecerá porque algumas espécies de fitoplâncton responderão bem a um ambiente mais quente e criarão proliferações maiores e mais diversas de organismos marinhos. É provável que isso apareça com mais intensidade em regiões verdes perto do equador e dos polos, dizem os pesquisadores.

O estudo foi publicado na revista Nature Communications.


Fonte: ENVOLVERDE

A extensão da morte do rio Paraopeba.


Por Thaís Herrero*, do Greenpeace Brasil.

Os impactos causados pela barragem de Brumadinho são gigantes e vão desde as dolorosas mortes de pessoas queridas até o cotidiano da população que convivia com um rio que também morreu.

Pescar no fim da tarde de domingo era rotina do casal Jair Jorge da Cruz e Conceição Oliveira da Cruz. Na companhia da cachorrinha Susie, eles saíam de casa com as varas de bambu, iscas e um milho cozido para jogar aos peixes. E seguiam para o rio Paraopeba, onde ele cruza o bairro de Córrego do Barro, em Pará de Minas.

A lama ainda não chegou ao local onde eles costumavam pescar, mas desde o rompimento da barragem não tiveram coragem de seguir sua rotina. Acham melhor não arriscar, por isso estão indo a uma represa artificial. “Se a gente não vem pescar, ela fica brava”, diz Jair sobre a esposa. É ela que gosta da pescaria. Conceição enumera as espécies que costumava encontrar no rio: piaba, traíra, lambari, tilápia e piau. Frente a lama da Vale, no entanto, esses peixes não têm vez.
Jair Jorge da Cruz e Conceição Oliveira da Cruz, casal morador de Pará de Minas, não podem mais pescar no rio Paraopeba, que está contaminado pela lama tóxica da barragem da Vale. © Christian Braga / Greenpeace.

A lama tóxica da Vale está descendo e matando o rio Paraopeba. Segundo análise da ONG SOS Mata Atlântica, 40 km do rio Paraopeba já pode ser considerado morto. Os rejeitos de minério aumentaram em mais de 100 vezes a turbidez da água e acabaram com seu oxigênio. Nenhum animal consegue sobreviver nessas condições.

E não é só lama. Metais pesados, resíduos da mineração que eram armazenados na barragem, agora navegam e contaminam o rio. Análises já encontraram altas concentrações de níquel, mercúrio, chumbo, zinco e cádmio.

Em Brumadinho (MG), a única ponte que passa por cima do rio Paraopeba tem visto um movimento diferente. Carros e pedestres param para observar o rio enlameado enquanto é possível ouvir o ruído dos helicópteros que fazem o resgate das vítimas do rompimento da barragem de rejeitos da Vale.

Um dos moradores que observa o rio é Luís. O que ele sente ao ver o rio? Com os olhos mareados diz que “é triste demais”. “Não dá nem pra explicar porque esse rio nunca teve essa cor. A gente via peixe nadando aqui. Agora acabou”. Pergunto se posso gravar esse depoimento em vídeo e ele diz que melhor não. “É que eu vou me emocionar demais pra falar isso”, diz.

O impacto do rompimento da barragem é tão gigantesco que a lama já está mudando a rotina das cidades por onde o Paraopeba passa. A prefeitura de Pará de Minas (MG), de 100 mil habitantes, decretou no início da semana estado de emergência devido à contaminação do rio, que é fonte de água para a população.

Enquanto isso, Conceição, Jair, Luís e outras milhares de pessoas não poderão mais desfrutar o Paraopeba por muito tempo. A lama tóxica da Vale matou pessoas e está matando as águas por onde passa. “O rio estava sempre cheio de gente que ia lá nadar, pescar, mas agora é essa tristeza que está aí. O rio lá era bonito demais. É muito triste o que aconteceu”, lamenta Jair.

Rio Paraopeba no município de Brumadinho. Nesta área, o rio foi considerado morto devido à quantidade de rejeitos de minério. © Christian Braga / Greenpeace.

Rio Paraopeba no município de Brumadinho. Nesta área, o rio foi considerado morto devido à quantidade de rejeitos de minério. © Christian Braga / Greenpeace.

Rio Paraopeba no município de São Joaquim de Bicas. Nesta área, o rio foi considerado morto devido à quantidade de rejeitos de minério. © Christian Braga / Greenpeace.

Rio Paraopeba no município de Brumadinho. Nesta área, o rio foi considerado morto devido à quantidade de rejeitos de minério. © Christian Braga / Greenpeace.


Fonte: ENVOLVERDE

Qualidade ruim do rio Paraopeba.

A Fundação SOS Mata Atlântica iniciou expedição, dia 31 de janeiro, que irá percorrer 356km do rio Paraopeba, de Brumadinho à Hidroelétrica Retiro Baixo e o reservatório de Três Marias, em Felixlândia (MG). O objetivo da ação é avaliar os impactos ambientais no rio após o rompimento da barragem Córrego do Feijão, da Vale.

No primeiro dia da viagem o resultado foi negativo e a chuva também atrapalhou o acesso aos locais de análise. Os dois pontos monitorados pela equipe estavam com qualidade de água ruim. Essa região está localizada no marco zero do deslizamento da barragem, entre o Córrego do Feijão e o município de Mário Campos. A primeira amostragem foi realizada 100 m antes da área afetada pela lama, porém o resultado já mostrava ser negativo. Já no município de Mário Campos o cenário foi ainda mais desolador. “Neste local sequer foi possível analisar outros indicadores a não ser a oxigenação da água, que chegou a zero e a turbidez, que estava quase 100 vezes o indicado pela legislação para água de rios e mananciais. O rio mais parecia um tijolo líquido“, afirma Malu Ribeiro, especialista em Água da Fundação SOS Mata Atlântica.

A equipe de água da organização, em parceria com o laboratório de Poluição Hídrica da Universidade de São Caetano do Sul, conta com apoio da Ypê e da Policontrol, empresa de fornecimento de equipamentos de alta precisão. A turbidez da água é avaliada pela quantidade de partícula sólida em suspensão, o que impede a passagem da luz e a fotossíntese, causando a morte da vida aquática. No local, a turbidez chegou a quase 10 mil NTU – o ideal, segundo a legislação para água doce superficial, é de até 100. NTU é a sigla em inglês para a unidade matemática Nefelométrica de Turbidez (Nephelometric Turbidity Unity).

No segundo dia de monitoramento, os pesquisadores retornaram a Brumadinho para analisar o rio Paraopeba na área urbana da cidade. Em seguida, a equipe parte para o município de São Joaquim de Bicas, região com assentamentos de sem-terra e comunidades indígenas. No fim do dia, Betim será o destino da expedição. No município está a Usina Termelétrica de Igarapé e, por conta da barragem, muito rejeito deve ter parado no local. No sábado, 2 de fevereiro, a Fundação SOS Mata Atlântica iniciará suas atividades nos municípios de Pará de Minas e Juatuba. “Nessa região é onde está sendo feita a barragem de contenção de rejeitos em área de captação de água. Lá, conseguiremos saber se essa estratégia está funcionando ou não“, finaliza Malu.

Fonte: ENVOLVERDE

Quatro agências confirmam: 2018 foi o 4º ano mais quente da história.


Por Observatório do Clima

Temperatura média global ultrapassou 1ºC em relação à era pré-industrial, de acordo com cinco bases de dados globais independentes.

O ministro do Meio Ambiente do Brasil disse na segunda-feira que tem coisas mais tangíveis com que se preocupar do que a mudança climática, que segundo ele é uma discussão “acadêmica” sobre como estará a Terra “daqui a 500 anos”. Dois dias depois, nesta quarta-feira (6), quatro organizações independentes publicaram dados mostrando que o aquecimento global já é bastante tangível: o ano de 2018 foi o quarto mais quente da história desde o início das medições, em 1880.
Segundo a Nasa (Agência Espacial Americana), a Noaa (Agência Nacional de Oceano e Atmosfera dos EUA), o Met Office britânico e a OMM (Organização Meteorológica Mundial), o ano passado perde apenas de 2016, 2015 e 2017 no ranking dos anos mais quentes. Os cinco recordes globais de calor foram batidos todos nos últimos cinco anos. Recuando um pouco mais no tempo, nove dos dez anos mais quentes aconteceram desde 2005.

“Nós não estamos mais falando de uma situação na qual o aquecimento global é algo no futuro. Ele está aqui, agora”, disse à imprensa o climatólogo neozelandês Gavin Schmidt, diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais, da Nasa, que analisa mês a mês as temperaturas da superfície da terra e dos oceanos coletadas em 6.300 pontos ao redor do mundo.

O calor excepcional de 2018 e a tendência de longo prazo de aquecimento da Terra são confirmados por seis bases de dados distintas, que usam metodologias diversas para produzir um compilado das médias globais. A OMM, em sua análise, considera cinco delas. Todas mostram que a temperatura global em 2018 ultrapassou 1oC em relação à era pré-industrial. Em 2016, o ano mais quente da história, um El Niño excepcionalmente forte fez com que a temperatura atingisse 1,2oC acima da era pré-industrial.

O Acordo de Paris, de 2015, estabeleceu como sua meta mais ambiciosa que o mundo faria esforços para limitar o aquecimento global a 1,5oC. Em outubro do ano passado, o IPCC, o painel de climatologistas das Nações Unidas, publicou um relatório indicando que esse meio grau que falta poderia ser atingido já em 2040. Para evitar que isso ocorra, será preciso cortar 45% das emissões de gases de efeito estufa do mundo até 2030 – e a chance de que isso ocorra hoje é praticamente nula.
Animação da Nasa mostra como seis séries de dados concordam em relação à temperatura.

Segundo a Nasa, a temperatura média global em 2018 foi 0,83oC superior à média registrada entre 1951 e 1980, que por sua vez já é maior que a pré-industrial. A Noaa põe o aquecimento médio em 0,79oC acima da média do século 20. Esta agência, porém, não contabiliza o Ártico, região que esquenta duas vezes mais rápido que o resto do mundo.

Segundo os dados da Noaa, 2018 é o 42o ano consecutivo em que as temperaturas médias globais ultrapassam a média do século 20. Ou seja, na última vez que o clima da Terra teve temperaturas na média, o ministro do Meio Ambiente – aquele que diz que aquecimento global é uma preocupação para daqui a cinco séculos – ainda usava fraldas.

“A tendência de longo prazo das temperaturas é muito mais importante do que o ranking de anos individuais, e a tendência é de alta”, disse o secretário-geral da OMM, o finlandês Petteri Taalas em comunicado da organização.

As temperaturas, prosseguiu, contam apenas parte da história. “Eventos meteorológicos extremos e de alto impacto afetaram muitos países e milhões de pessoas, com repercussões devastadoras sobre economias e ecossistemas em 2018.”

Que o digam os EUA, cujo presidente, Donald Trump, nega o aquecimento global. Segundo a Noaa, uma agência do próprio governo, o país teme 14 desastres climáticos que causaram prejuízos na escala dos bilhões de dólares em 2018. A conta total foi de US$ 91 bilhões e 247 mortes.

Fonte: ENVOLVERDE