Desmatamento
dispara na Amazônia.
Foto: André Villas Bôas/ISA
Por Claudio Angelo, do OC –
Em 2016, 7.989 km2 de floresta viraram cinza na
Amazônia, causando emissão de carbono equivalente a dois Portugais; governo
reage aumentando transparência de cadastro rural.
O desmatamento na Amazônia subiu pelo segundo ano
consecutivo em 2016. E que subida: a taxa de devastação foi de 7.989
quilômetros quadrados, 29% superior à de 2015 – que, por sua vez, já havia sido
24% maior que no ano anterior.
É o maior aumento na velocidade do desmatamento
desde 2008, ano em que um pico de devastação fez o governo endurecer a
vigilância e cortar crédito de fazendeiros nos municípios mais críticos. É também
o maior aumento percentual desde 2001, empatado com 2013. A área perdida
equivale a 5,3 vezes a cidade de São Paulo. No acumulado, somente nesta década
a Amazônia perdeu o equivalente a meio Panamá.
A estimativa anual do Prodes, o sistema de
monitoramento por satélite que calcula a taxa oficial, foi postada no site do
Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) no fim da tarde de terça-feira
(29). Diferentemente dos anos anteriores, não houve anúncio formal em
entrevista coletiva. Pela manhã, o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho
(PV-MA) chegou a anunciar que divulgaria o número, mas recuou na sequência,
limitando-se depois a dizer a jornalistas que aguardassem a publicação das
informações pelo Inpe.
Segundo o OC apurou, o número estava na mesa do
ministro Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) desde
pelo menos a conferência do clima de Marrakesh. Embora o aumento viesse sendo
antecipado há meses pelos técnicos do governo, a estimativa final da taxa
levantou sobrancelhas em Brasília – as apostas giravam em torno de 7.000 km2, e
o dado final chegou a quase 8.000 km2.
O Pará respondeu sozinho por quase 40% da área de
floresta perdida no bioma Amazônia entre agosto de 2015 e julho de 2016 (o “ano
fiscal” do desmatamento é medido nos 12 meses de agosto a julho seguinte):
foram 3.015 quilômetros quadrados, ou duas cidades de São Paulo. Mato Grosso
ficou em segundo, como de praxe, com 1.508 quilômetros quadrados – uma queda de
6% em relação ao ano anterior. O maior salto na devastação ocorreu no Estado do
Amazonas: 54% de aumento, deixando o Estado em quarto lugar entre os campeões
da motosserra em 2016.
Série histórica dos dados de desmatamento, com os
últimos dois anos de subida
O novo pico no corte raso na Amazônia terá
implicações diretas sobre as metas brasileiras contra as mudanças climáticas.
Segundo Tasso Azevedo, coordenador do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissão de
Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima), o desmatamento deste ano
acrescenta 130 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente às emissões do
Brasil. “É o mesmo que o Estado de São Paulo, o mais populoso do país, emitiu
em todo o ano de 2015, ou duas vezes a emissão anual de Portugal”, compara
Azevedo.
Em 2009, o Brasil lançou o compromisso
internacional de reduzir o desmatamento na Amazônia em 80% até 2020. As duas
altas consecutivas desviam o país da trajetória. “O número deste ano é duas vezes
maior que a meta assumida para 2020, que é de 3.925 quilômetros quadrados”,
prossegue o coordenador do SEEG.
“O número é a colheita do que se plantou nas
políticas nos últimos anos: anistia a desmatadores no Código Florestal,
abandono da criação de áreas protegidas e demarcação de terras indígenas e o
passa-vergonha da meta para florestas do Brasil na ONU”, disse Marcio Astrini,
coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace. A meta à qual ele se refere é
a NDC, de 2015, que prevê eliminar apenas o desmatamento ilegal – e apenas até
2030.
Segundo Sarney Filho, “uma série de elementos”
colaborou para a elevação: “Tivemos problemas de gestão, uma transição de
governo e a repercussão de três anos de mudança no Código Florestal”, afirmou.
É a primeira vez que um ministro reputa ao código, enfraquecido por pressão da
bancada ruralista durante o governo Dilma, a elevação na velocidade de
destruição da maior floresta tropical do mundo.
Para tentar conter a sangria, o Ministério do Meio
Ambiente anunciou nesta terça-feira uma medida que deve aumentar ainda mais a
fúria dos ruralistas contra Sarney: a interface pública do CAR (Cadastro
Ambiental Rural), instrumento criado justamente pelo Código Florestal para
permitir o monitoramento das áreas de vegetação nativa em propriedades
particulares (leia mais aqui).
O cadastro é pré-requisito para a anistia de multas
para quem desmatou de forma irregular antes de 2008. Também só com ele é
possível aderir aos PRA (programas de regularização ambiental), por meio dos
quais a multa é convertida em recuperação das áreas devastadas ilegalmente.
Pela plataforma do CAR anunciada nesta terça,
qualquer cidadão com acesso à internet em casa poderá saber como o desmatamento
evolui em mais de 3 milhões de propriedades rurais do país inteiro. No caso do
Pará, hoje já é possível saber até mesmo o CPF do proprietário. “Além de um
instrumento de desenvolvimento, o CAR é um instrumento de monitoramento. Vai
servir muito bem para o controle social do desmatamento”, disse o ministro.
Fonte: Observatório do Clima
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