Cidade
saudável requer comunidade rural próspera.
Por Josefina Stubbs e David Lewis*
Santo Domingo, República Dominicana e Londres,
Grã-Bretanha, 23/11/2016 – Agora que passou a Habitat III, vemos com maior
clareza como transformar nossas cidades em ambientes inclusivos, seguros e mais
produtivos, e contamos com um mapa do caminho concreto para conseguir isso.
Assentamentos precários na cidade portuária de
Karachi, no sul do Paquistão, interferem no planejamento urbano. Foto: Muhammad
Arshad/IPS
A Terceira Conferência das Nações Unidas sobre
Habitação e Desenvolvimento Urbano Sustentável (Habitat III) foi realizada em
Quito, capital do Equador, entre os dias 17 e 20 de outubro.
A Nova Agenda Urbana surgiu em um momento oportuno.
A urbanização está acelerada, em particular nas nações em desenvolvimento, onde
espera-se que a população urbana duplique até 2050.
Somente na Ásia meridional, esta aumentou em 130
milhões de pessoas entre 2001 e 2011, segundo o último estudo do Banco Mundial.
Além disso, projeta-se outro aumento de 250 milhões de pessoas até 2030.
Os habitantes das cidades necessitam de acesso mais
equitativo a serviços básicos como água, saneamento, moradia, além de atenção
médica próxima e bairros mais verdes e seguros.
Uma mulher utiliza um lavadouro público em um
assentamento precário de Bangalore, capital do Estado indiano de Karnataka.
Foto: Malini Shankar/IPS
Não podemos reduzir a pobreza sem investir no
melhoramento dos assentamentos tanto formais quanto informais. Na Ásia
meridional há 130 milhões de pessoas vivendo em favelas, e provavelmente sejam
mais com o ritmo atual da urbanização.
Mas, para impulsionar uma mudança duradoura e a
prosperidade para todos, os investimentos nas cidades devem seguir juntos com
uma grande transformação das zonas rurais para que estejam parelhas, ou até
mesmo mais atraentes do que as cidades.
O crescimento exponencial das cidades se deve em
grande parte ao resultado da crescente brecha entre as realidades urbana e
rural, onde a falta endêmica de serviços básicos e oportunidades de emprego
expulsam a população rural para os centros urbanos. No apuro para enfrentar os
desafios da urbanização, não podemos perder de vista o meio rural.
As comunidades rurais já não estão isoladas do
resto do mundo. Os setores mais jovens têm telefones celulares inteligentes e
conexão com a internet, e sabem que há lugares onde existem serviços melhores,
empregos melhores e uma vida melhor do que a que podem ter onde vivem.
Os homens e as mulheres partem das zonas rurais em
grande quantidade, deixando as comunidades que deveriam fortalecer e
estruturar, e abandonam seus amigos, suas famílias e sua cultura.
Emigram para as grandes cidades em busca de
trabalho e de um futuro melhor, mas, sem educação formal nem qualificação,
muitos ficam à margem da sociedade a que aspiram pertencer.
Estima-se que no assentamento precário de Kisenyi,
na capital de Uganda, vivem muitos dos quase 12 mil imigrantes somalianos que
há neste país. Foto: Amy Fallon/IPS
O êxodo dos jovens põe em risco o tecido social das
comunidades rurais e exacerba os problemas que a Nova Agenda Urbana busca
atender: moradia precária e insalubre, falta de trabalho, insegurança e excesso
de pessoas.
As pessoas emigram quando as opções em sua
localidade são limitadas. Mas se houver investimento em sua capacitação, no
desenvolvimento de negócios rurais, em assistência técnica, e tiverem apoio
econômico, conectividade, boas estradas, serviços de saúde, eletricidade,
haverá ampliação de suas opções e redução da pressão sobre os centros urbanos.
Vimos que isso acontece em países onde a criação de
uma rede de universidades descentralizadas eleva o número de jovens formados e
capacitados nas comunidades rurais, e como contribuem para transformar centros
rurais abandonados em lugares animados.
Também observamos como em comunidades onde a
realização de pequenos investimentos para o desenvolvimento de negócios e o
acesso a serviços financeiros permitiram que alguns empresários rurais
começassem atividades econômicas viáveis e gerassem renda para suas famílias,
emprego para os vizinhos e serviços para suas comunidades.
Há outra razão pela qual as áreas rurais prósperas
são fundamentais para a prosperidade dos centros urbanos.
Os pequenos agricultores e pescadores são os
principais produtores de alimentos na maioria dos países em desenvolvimento. Na
Ásia, África e Caribe, produzem até 90% do que as populações locais comem
diariamente.
Com o crescimento da população mundial, será
necessário aumentar a quantidade e a qualidade dos alimentos produzidos pelas
comunidades rurais.
Crianças caminham em um assentamento precário no
Peru. Foto: Cortesia do jornal La República/IPS
Os alimentos frescos terão que chegar mais rápido
aos mercados e em melhores condições, e os agricultores terão que receber
preços mais justos para poderem investir para melhorar seus produtos, preservar
o ambiente e construir resiliência para enfrentar a variabilidade do clima.
As comunidades rurais e urbanas têm uma grande
interdependência para conseguir um crescimento sustentável. Vivemos em um mundo
interligado, mas onde as desigualdades entre pessoas, regiões e países expulsam
um número crescente de pessoas de suas comunidades de origem com destino às
cidades em busca de uma vida melhor.
Ao melhorar as condições de vida das populações
rurais pobres e dar-lhes oportunidade de crescimento, podemos reduzir a pressão
sobre as grandes metrópoles e criar sociedades mais equilibradas e prósperas.
*Josefina Stubbs é candidata a presidir o
Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), onde foi
vice-presidente adjunta para Estratégia e Conhecimento, entre 2014 e 2016. David
Lewis é professor de desenvolvimento e políticas sociais na Escola de
Economia e Ciências Políticas de Londres.
Fonte: ENVOLVERDE
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