Pesquisadores descobrem maior painel de arte rupestre de São Paulo.
por Manuela Ferraro, do
Jornal da USP
Gravuras do painel serão
transformadas em modelo 3D.
Na cidade de Ribeirão Bonito,
região central do Estado de São Paulo, pesquisadores da USP, da
Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp) escavaram um painel de 80 metros de comprimento,
dos quais 50 metros lineares apresentam figuras esculpidas. As
gravuras seguem um padrão observado em outros sítios arqueológicos
da região e lembram pegadas de pássaros, chamadas por arqueólogos
de “tridígitos”. Segundo Astolfo Araujo, professor do Museu de
Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP e coordenador da escavação, o
painel é o maior já encontrado em território paulista. Além das
figuras, foram encontradas pedras lascadas, ossos de animais e carvão
queimado no local.
Da USP, participaram professores do
MAE, do Instituto de Biociências (IB) e da Escola Politécnica
(Poli). A equipe explora a região desde 2014, em um projeto
financiado pela Fapesp com o objetivo de estudar a ocupação
Paleoíndia do Estado de São Paulo – povos que viveram no início
do período geológico atual, o Holoceno. Em 2015, os pesquisadores
localizaram o sítio arqueológico mais antigo do Estado, no
município de Dourado, a menos de 20 km de Ribeirão Bonito. Batizado
de Bastos, o lugar continha vestígios com mais de 12,5 mil anos de
idade. Moradores locais indicaram, então, a localização do novo
painel.
O Sudeste
brasileiro é peça chave no entendimento dos movimentos
populacionais no leste da América do Sul. E a diversidade de arte
rupestre que tem sido encontrada pelos pesquisadores pode ajudar a
revelar quem passou pelo região. “A impressão que a gente tem é
que São Paulo era um ponto de encontro de populações vindas do
norte, do leste, via Pantanal, e do sul, pelo Pampas”, diz o
arqueólogo. De acordo com o pesquisador, acreditava-se que a
região não possuía arte rupestre em abundância, e o painel de
Ribeirão Bonito contribui para a contestação dessa crença.
“As
amostras ainda não foram enviadas para a datação, mas achamos
material até 1,70 m de profundidade, o que sugere que o painel tenha
uma idade bastante antiga” .
Astolfo
Araujo
Os pesquisadores estão
desenvolvendo modelos virtuais dos sítios encontrados em parceria
com o Centro Interdisciplinar de Tecnologias Interativas (CITI),
ligado à Escola Politécnica (Poli) da USP. Marcelo Zuffo, professor
do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Poli e
coordenador do CITI, explica que no abrigo de Ribeirão Bonito foram
usadas três técnicas de recolhimento de dados: o escaneamento a
laser, o escaneamento via fotogrametria – dezenas de milhares de
fotos feitas por drones – e a fotogrametria com câmeras de 360
graus.
Marcelo Zuffo diz que a criação de
protótipos 3D tem uma série de vantagens. “As equipes
interdisciplinares que trabalham com arqueologia podem analisar as
informações sem as condições estressantes do trabalho em campo. E
as restrições físicas e temporais também são eliminadas, já que
os pesquisadores podem acessar, nos acervos da Universidade, sítios
com até 500 km de distância da capital paulista”. Segundo Zuffo,
o escaneamento intensivo pode eventualmente detectar padrões que o
olho humano não consegue enxergar. Outra vantagem é que, se os
sítios forem alvo de vandalismo ou interferências da natureza, há
um modelo digital que preserva suas informações.
“O método usado pela equipe do
professor Zuffo permite a reprodução 3D com precisão milimétrica,
sendo possível preservar as gravuras para as gerações futuras,
além de permitir a análise das mesmas por pesquisadores em qualquer
parte do mundo. Basta, para isso, enviar os dados pela internet, e
alguém poderá ‘fazer o download’ do sítio arqueológico e
reproduzi-lo”, confirma Araujo.
O próximo passo da pesquisa,
segundo Marcelo Zuffo, será a análise icônica das gravuras que têm
sido encontradas no Estado de São Paulo, em parceria com a Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
Mais informações: e-mails
astwolfo@usp.br e mkzuffo@usp.br
Fonte:
ICV
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