A humanidade
perde na guerra contra os ecossistemas.
por Kanya
D’Almeida, da IPS
Campo ressecado no norte do distrito de Jaffna, no
Sri Lanka. Foto: Kanya D’Almeida.
Colombo, Sri Lanka, 7/10/2014 – Um informe da
Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o estado da biodiversidade mundial,
divulgado ontem, chama a atenção para as metas não cumpridas e os obstáculos à
frente. O informe Perspectivas da Diversidade Mundial 4 (GBO-4) pede o
“desmantelamento dos motores da perda da biodiversidade, que frequentemente
estão incorporados no profundo de nossos sistemas políticos, financeiros e nos
padrões de produção e consumo”.
O GBO-4 foi divulgado no contexto da 12ª reunião da
Conferência das Partes (COP 12) da Convenção da Diversidade Biológica, que
começou ontem em Pyeongchang, na Coreia do Sul, e terminará no dia 17. Em 2010,
com base na Convenção da Diversidade Biológica, dezenas de especialistas e
ativistas reunidos em Nagoya, no Japão, redigiram o Plano Estratégico para a
Diversidade Biológica 2011-2020, com 20 pontos conhecidos como Metas de Aichi,
que incluem da conservação da terra às práticas de pesca sustentáveis, entre
outras coisas.
Embora a Assembleia Geral da ONU tenha reafirmado
esses objetivos e os reiterado novamente na Cúpula da Terra Rio+20, realizada
em 2012 no Brasil, os cientistas afirmam que as perdas continuam superando os
avanços, porque o desmatamento continua destruindo as florestas, o lixo ainda é
lançado nos oceanos e os habitats dos animais caem à passagem do
desenvolvimento humano e da industrialização.
O planeta perdeu 52% de sua fauna silvestre nos
últimos 40 anos, o desmatamento derrubou quase 17% das florestas no último meio
século, a população animal dos ecossistemas de água doce diminuiu 75% desde
1970 e quase 95% dos arrecifes de coral sofrem a ameaça da contaminação, do
desenvolvimento costeiro e da pesca excessiva.
Segundo a versão mais recente do Planeta Vivo, um
informe do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), os seres humanos “usam os dons
da natureza como se tivéssemos mais de uma Terra à nossa disposição”. O índice
Planeta Vivo, baseado em estudos de mais de dez mil populações representativas
de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes, concluiu que a exploração dos
recursos naturais pelo ser humano é responsável pela grande maioria da perda de
vida silvestre nas últimas quatro décadas (37%), seguido da degradação do
habitat (31%), da perda de vida (13%) e da mudança climática (7%).
O mesmo informe revela que os impactos humanos,
como o aumento da contaminação e os projetos de construção, são em grande parte
responsáveis pela forte redução da fauna silvestre nos sistemas de água doce.
Cerca de 45 mil represas com altura superior a 15 metros impedem a livre
circulação de alguns dos rios mais importantes do mundo, a um custo enorme para
a biodiversidade. As populações de animais marinhos também caíram 40%.
E, mesmo assim, segundo o GBO-4 divulgado ontem,
“mais da metade das regiões marinhas têm apenas 5% de seu território
protegido”. Das cinco metas estratégicas do plano de biodiversidade de dez
anos, o GBO-4 destaca as ameaças aos recursos naturais que provocam o maior
consumo em todo o planeta (meta 4), a contaminação dos nutrientes que afetam a
biodiversidade aquática e terrestre, agravada pela crescente produção de
produtos químicos, fertilizantes e plásticos (meta 8). Também aponta para o
risco de extinção de aves, mamíferos e anfíbios (meta 12) e para a falta de
capacidade para mobilizar os cidadãos preocupados em todo o mundo (meta 19).
“A questão da agricultura e da segurança alimentar
provavelmente seja um dos maiores desafios que enfrentamos”, apontou David
Ainsworth, funcionário de informação da Secretaria do Convênio da Diversidade
Biológica. “Como sabemos que haverá um substancial aumento da população até o
final da década, que provavelmente será acompanhada por uma mudança nos hábitos
alimentares, tais como maior consumo de carne, é provável que experimentemos
uma tremenda pressão sobre a biodiversidade simplesmente no que diz respeito à
agricultura”, acrescentou à IPS.
Grande parte desses problemas poderia ser resolvida
com alteração dos sistemas de produção alimentar, promoção de um modelo
diferente da típica dieta da América do Norte e luta contra o desperdício de
alimentos em todas as etapas de produção, ressaltou Ainsworth.
Numerosos problemas afetam a biodiversidade da Ásia,
que tem população superior a 4,2 bilhões de habitantes. Segundo Scott Perkin,
chefe do Grupo de Recursos Naturais da União Internacional para a Conservação
da Natureza, a região “deu alguns passos importantes para atingir as Metas de
Aichi”.
“A maioria dos países da região revisou e reforçou suas estratégias e
seus planos de ação nacionais em matéria de biodiversidade (meta 17), e um
número importante ratificou o Protocolo de Nagoya (meta 16)”, informou à IPS
via e-mail. No entanto, a região em seu conjunto segue com uma enorme pressão,
acrescentou.
Segundo Perkin, “o crescimento demográfico e o
rápido desenvolvimento econômico seguem alimentando a perda e a degradação dos
habitats naturais, e será necessário um esforço muito maior para cumprir a meta
5 e reduzir pela metade a taxa de perda das florestas e de outros habitats até
2020”.
A Indonésia teve uma taxa de desmatamento de um
milhão de hectares ao ano entre 2000 e 2003, enquanto um estudo recente indica
que no ano passado o país desmatou 840 mil hectares de floresta primária, acima
inclusive do Brasil, que cortou 460 mil hectares em 2012. Pekin pontuou que
outro tema fundamental é o tráfico de vida silvestre na Ásia, o que dificultará
atingir a meta 12: a prevenção da extinção das espécies conhecidas.
A região Ásia Pacífico também oferece um claro
exemplo dos vínculos entre diversidade biológica e benefícios econômicos, um
ponto que também é destacado no informe divulgado ontem. Calcula-se que a
redução das taxas de desmatamento gerou um beneficio anual de US$ 183 milhões
em serviços dos ecossistemas, segundo o GBO-4. Envolverde/IPS
Fonte: ENVOLVERDE
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