quinta-feira, 30 de agosto de 2018


Uma viagem para a maior criação da humanidade – a Mancha de Lixo do Pacífico Norte.

Apenas três semanas antes da maior ação cívica da história humana – o Dia Mundial da Limpeza em 15 de setembro – o pesquisador de poluição plástica PhD e membro da equipe de conhecimento do Dia Mundial da Limpeza Win Cowger, passou duas semanas no mar a bordo do navio de pesquisa ‘Alguita’ sob comando do Capitão Moore, estudando os efeitos do plástico no oceano. A equipe de Moore navegou a 2000 km da costa da Califórnia até o que é conhecido como o “Giro do Pacífico Norte”, onde correntes e ondas juntaram enormes faixas de plástico.

A embarcação de pesquisa oceânica ‘Alguita’ e sua tripulação zarparam para as águas costeiras do México para coletar dados sobre a concentração de plástico no oceano, seus efeitos nos peixes e testar previsões de modelos oceanográficos de onde o “Giro” está localizado. Além do capitão Charles Moore e do próprio Cowger, a tripulação do navio era formada por Raquelle De Vine; Marty Klein, Engenheiro Portuário da Universidade de Columbia; Janine Rodriguez, pesquisadora da Pacific Coast Environmental Conservancy, e pela artista Lindsey Kruse.

Apesar de todos terem amplo conhecimento sobre a situação dos resíduos nos oceanos, a equipe ficou chocada com a visão. Cowger aponta que o plástico e suas partículas no oceano são densos, mas pequenos e espalhados como chuviscos na superfície. “A água tem o hábito de dificultar a coleta de coisas desse tipo. É uma área de acumulação, mas não é como uma massa de terra ou pilha. Se você arrastar uma rede na água, encontrará centenas de fragmentos pequenos. Quando essas peças chegam ao “Giro”, o plástico é mastigado por organismos, corroído pelo sol e quebrado pela ação das ondas. Apenas fragmentos permanecem”.

Algumas amostras podem ter até 10% de seu conteúdo em plástico, o resto é plâncton. Cowger desenha uma imagem imaginária: “Imagine um plâncton filtrante de peixe ou baleia – 10% do que obtêm pode ser plástico. Aves marinhas estão comendo também. E esta realidade existe em terra. A atenção para a questão começou nos oceanos, mas agora estamos percebendo que o enorme problema no oceano precisa ser combatido em sua origem – que é exatamente em terra”.

“O produto mais encontrado nas praias é embalagem de alimentos”, aponta Cowger, e nos convida a refletir sobre isso. “Embalagens de doces, pacotes de batatas fritas, nós fabricamos toneladas disso – tudo parece que tem que ter sua própria embalagem. Vamos começar por aí – não precisamos de cada pedaço de fruta embrulhado em plástico. Nós até temos plástico embrulhado em plástico”. De acordo com o relatório de 2016 da Fundação Ellen MacArthur, a quantidade de lixo despejado no oceano a cada minuto equivale ao conteúdo de um caminhão de lixo. Se nenhuma ação for tomada, espera-se que ela aumente para dois por minuto até 2030 e quatro por minuto até 2050.

“Bem, agora está claro que os animais em terra também estão sofrendo. Precisamos fazer algo sobre isso. Agora. Todos nós! Primeiro, comece com as limpezas para aumentar a conscientização enquanto enfrenta os sintomas do problema. É por isso que faço parte do Dia Mundial da Limpeza e espero que milhões de pessoas em todo o mundo se juntem a mim no dia 15 de setembro”, convida Cowger. O Dia Mundial da Limpeza reunirá milhões de voluntários em 150 países para se unirem com sua energia, boa vontade e preocupação com o meio ambiente, para limpar seus países de poluição de resíduos em um único dia. O Dia Mundial da Limpeza está sendo impulsionado pelo movimento cívico “Let´s do it! World, que iniciou ações de limpeza em 113 países ao longo da última década, com mais de 20 milhões de voluntários participando do total. O movimento começou no pequeno país da Estônia, no norte da Europa, em 2008, quando 50.000 pessoas se reuniram para limpar o país inteiro em apenas cinco horas.

Cowger admite que as limpezas não representa solução a longo prazo, mas mais um band-aid nos sintomas. “Nós limpamos, removemos os efeitos residuais atuais, mas esse não é o problema real. O sucesso em criar um mundo sem desperdício acontecerá quando ensinarmos às pessoas do mundo todo como viver um estilo de vida sustentável e sem desperdício, e construir e inovar sistemas de desperdício zero. Isso é crítico agora. A maioria de nós nasceu em um mundo com plástico, tem seus usos, mas também pode prejudicar o que nos preocupa se for mal administrado, e agora precisamos trabalhar juntos para nos salvar dos danos que nos causou.” No dia 4 de setembro, às 18h (fuso horário UTC +3), o @letsdoitworld mantém um bate-papo no Twitter para abrir o tópico sobre a situação dos resíduos nos oceanos, discutir a situação atual e debater sobre o futuro. Por favor, junte-se a nós. Juntos podemos fazer isso melhor!

O ano de 2018 marca 100 anos desde a fundação da República da Estônia. O Dia Mundial da Limpeza 2018 é o maior presente da Estônia para o mundo no seu 100º aniversário. Aqui no país, o Limpa Brasil é o responsável por organizar e coordenar as ações em território nacional (www.limpabrasil.org). A organização conta com o apoio fundamental da Neoenergia, por meio de suas subsidiárias Coelba (Bahia) e Celpe (Pernambuco) possuem o programa Vale Luz que incentiva a troca de materiais recicláveis por descontos na conta de luz.

Limpa Brasil

 O Instituto Limpa Brasil é uma organização sem fins lucrativos que tem como objetivo promover a conscientização da população brasileira para o problema do descarte irregular do lixo urbano por meio da realização de projetos integrados que envolvem a sociedade civil, o setor privado e os órgãos do governo.

A proposta para o Dia Mundial de Limpeza #WorldCleanUpDay é criar uma nova cultura com relação ao descarte correto do lixo, além de incentivar a sociedade a limpar e manter as cidades limpas. Por esse motivo, um dos pontos mais importantes do evento é o envolvimento das escolas, com a realização de palestras e seminários, dinâmicas de grupo e gincanas, capacitação de professores e a estruturação dos pontos de coleta de materiais recicláveis durante a semana de mobilização. Esse movimento gera um engajamento da comunidade local e incentiva a transformação de alunos, pais, parentes e profissionais envolvidos em agentes de mobilização, que alertam sobre os malefícios do descarte incorreto do lixo.



Fonte: ENVOLVERDE

Pacto Mundial de Prefeito pelo Clima ganha adeptos.

A cidade de São José dos Campos busca avançar na Agenda 2030 das Nações Unidas, que prevê maior sustentabilidade e comprometimento ambiental nas cidades. Depois de adoção de carros elétricos na frota da guarda municipal e de lâmpadas de led e o uso de imagens de satélites para evitar a devastação de áreas preservadas, a  prefeitura local comprometeu-se com a Pacto Mundial de Prefeitos pelo Clima e a Energia.

Esse tratado é uma coalizão global de líderes municipais dedicada à  reduzir emissões de gases de efeito estufa, tornando as comunidades mais resistentes às mudanças climáticas. O nível de resiliência das cidades quanto às mudanças climáticas e seus eventos extremos tem sido uma das grandes preocupações do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), órgão científico e consultivo da ONU.

A assinatura do documento ocorreu durante a abertura do Workshop Mover – Mobilização para Ordenação e Viabilização de Espaços Urbanos Resilientes. Realizado pela prefeitura em parceria com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o evento foi realizado na cidade durante essa semana.

Segundo o prefeito, Felício Ramuth, ao participar do Pacto Global de Prefeitos, São José dos Campos reforça o compromisso com a ação climática, avaliando as emissões de gases de efeito estufa e as consequências atuais das mudanças climáticas em âmbito local. A intenção é criar um plano de atividades que tenham por objetivos de reduzir as emissões e implementar um sistema comum para monitorar riscos climáticos.

Representantes de diversos outras prefeituras do Estado de São Paulo destacaram já estarem colocando em curso algumas das ações propostas dentro do novo pacto. Como trabalhos  para a construção da Política Municipal de Adaptação e Mitigação às Mudanças Climáticas.  No caso de São José dos Campos, outros instrumentos de planejamento e gestão estão sendo elaborados, como o Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável e o Plano de Macrodrenagem.

A cidade também foi uma das pioneiras na captação do gás metano emitida no aterro sanitário, que ocorre desde 2006, e utilizar para a geração de energia que passou a ser utilizada em prédios públicos, como escolas.


Fonte: ENVOLVERDE

Impacto das mudanças climáticas nas cidades foi tema de evento.


O impacto das mudanças climáticas numa agenda urbana para as cidades do Estado de São Paulo foi discutido nos dias 21, 22 e 23 de agosto em  São José dos Campos, no Workshop Mover – Mobilização para Ordenação e Viabilização de Espaços Urbanos Resilientes. O evento ocorrerá num dos maiores espaços públicos da cidade, o Centro de Formação de Educação Professora Leny Bevilacqua (Cefe).

O workshop teve por objetivo alinhar ações básicas e necessários para  ações no espaço ocupado pelas cidades, nas quais são consideradas questões sobre riscos de desastres ambientais, adaptação e resiliência no planejamento das cidades paulistas. O estado mais populoso da federação tem um contingente urbano de mais 39 milhões de pessoas.

Neste encontro estiveram  pesquisadores nacionais e internacionais, membros de instituições públicas e privadas, universidades, profissionais de prefeituras e de órgãos de Defesa Civil do Estado de São Paulo. Esse é o primeiro grande intercâmbio de conhecimento e informações e o estabelecimento de ações comuns para prevenção de desastres ocorrido no Brasil. O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) tem acelerado esse tipo de interação entre administração pública, centros de pesquisa e a academia.

O evento foi realizado pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e prefeitura de São José dos Campos, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas – Fase 2 .

Estiveram presentes no evento pesquisadores convidados da Universidade do Norte do Texas (EUA), da Pontifícia Universidade Católica e Centro Ceres (Chile), da Defesa Civil de Dublin (Irlanda), da Griffith Universidade (Austrália), do ICLEI (Local Governments for Sustainability), representantes do Cemaden Pesquisa e Desenvolvimento e alunos da Universidade Federal do ABC. Além das prefeituras de São José dos Campos, São Paulo,  Sorocaba, Campinas e de Santo André.


Fonte: ENVOLVERDE

Pesquisa mostra que poluição atmosférica afeta drasticamente alimentos.

Níveis crescentes de dióxido de carbono (CO2) da atividade humana estão tornando culturas básicas, como arroz e trigo, menos nutritivos e poderiam levar 175 milhões de pessoas à deficiência em zinco e 122 milhões de pessoas deficientes em proteína até 2050, de acordo com pesquisa liderada pela Harvard T.H. Chan School of Public Health. O estudo também descobriu que mais de 1 bilhão de mulheres e crianças podem perder uma grande quantidade de sua ingestão dietética de ferro, o que as colocaria em maior risco de anemia e outras doenças.

“Nossa pesquisa deixa claro que as decisões que estamos tomando todos os dias – o que comemos, como nos movimentamos, o que escolhemos comprar – estão tornando nossos alimentos menos nutritivos e pondo em perigo a saúde de outras populações e gerações futuras”, disse Sam Myers, principal autor do estudo e principal pesquisador da Harvard Chan School. O estudo foi publicado on-line em 27 de agosto de 2018 na Nature Climate Change.

Atualmente, estima-se que mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo sejam deficientes em um ou mais nutrientes. Em geral, os seres humanos tendem a obter a maioria dos principais nutrientes a partir de plantas: 63% da proteína da dieta humana vem de fontes vegetais, bem como 81% do ferro e 68% do zinco. Foi mostrado que níveis atmosféricos mais elevados de CO2 resultam em colheitas menos nutritivas, com concentrações de proteína, ferro e zinco 3% -17% menores quando as lavouras são cultivadas em ambientes onde a concentração de CO2 é de 550 partes por milhão (ppm), na comparação com lavouras cultivadas em condições atmosféricas nas quais os níveis de CO2 estão pouco acima das 400 ppm.

Para este novo estudo, os pesquisadores procuraram desenvolver a análise mais robusta e precisa da carga global para a saúde de mudanças nutricionais causadas pelo CO2 em lavouras em 151 países. Para fazer isso, eles criaram um conjunto unificado de premissas em todos os nutrientes e usaram dados mais detalhados do fornecimento de alimentos de acordo com idade e sexo para obter estimativas mais precisas dos impactos em 225 diferentes alimentos. O estudo baseou-se em análises prévias dos pesquisadores sobre deficiências nutricionais relacionadas ao CO2, que analisaram um número menor de alimentos e de países.

O estudo mostrou que em meados deste século, quando as concentrações de CO2 na atmosfera devem atingir cerca de 550 ppm, 1,9% da população global – ou cerca de 175 milhões pessoas, com base em estimativas da população para 2050 – poderiam ter deficiência em zinco e que 1,3% da população global, ou 122 milhões de pessoas, pode se tornar deficiente em proteína. Além disso, 1,4 bilhão de mulheres em idade fértil e crianças menores de 5 anos que já se encontram atualmente em alto risco de deficiência de ferro, poderiam ter sua ingestão de ferro na dieta reduzida em 4% ou mais. Os pesquisadores também enfatizaram que bilhões de pessoas atualmente vivem com deficiências nutricionais provavelmente veriam suas condições piorarem como resultado de lavouras menos nutritivas.

Segundo o estudo, o maior impacto seria na Índia, onde estima-se que 50 milhões de pessoas se tornariam deficientes em zinco, 38 milhões em proteínas e 502 milhões de mulheres e crianças tornando-se vulneráveis a doenças associadas à deficiência de ferro. Outros países no sul da Ásia, sudeste da Ásia, África e Oriente Médio também seriam significativamente impactados.

“Uma coisa que esta pesquisa ilustra é um princípio fundamental do campo emergente da saúde planetária”, disse Myers, que dirige a Planetary Health Alliance, co-alocada na Harvard Chan School e no Centro Universitário de Harvard para o Meio Ambiente. “Não podemos alterar a maior parte das condições biofísicas às quais nos adaptamos ao longo de milhões de anos sem causar impactos imprevistos sobre nossa própria saúde e bem-estar.”

“O risco de aumento do CO2 atmosférico na adequação nutricional humana”, Matthew R. Smith, Samuel S. Myers, on-line 27 de agosto de 2018, Nature Climate Change, DOI: 10.1038 / s41558-018-0253-3

Fonte: ENVOLVERDE

Governo pede propostas de longo prazo zerar emissões líquidas de gases.


Por Léo Rodrigues – Repórter da Agência Brasil –

O Fórum Brasileiro de Mudança do Clima (FBMC) deverá apresentar, até novembro, uma proposta com medidas a serem tomadas para que o país consiga zerar as emissões líquidas de gases até 2060. O pedido de elaboração da proposta foi feito pelo governo federal no dia 10 deste mês, em ofício assinado pelo presidente Michel Temer. O documento estabelece prazo de 120 dias.

“As mudanças climática impactam a todos e, em particular, as futuras gerações. A preocupação é de toda a sociedade. E, pela primeira vez, o governo brasileiro indica um posicionamento em relação a uma estratégia de longo prazo”, disse o coordenador executivo do fórum, Alfredo Sirkis.

Segundo Sirkis, para zerar as emissões líquidas, é preciso garantir que, a cada ano, todo o gás emitido será compensado pelo que for absorvido. Ele disse que diversos países estão discutindo medidas para alcançar esse cenário e que alguns estão estabelecendo como limite uma data mais próxima, como 2050 e 2030.

Acordo de Paris

No ofício encaminhado ao Fórum, o presidente Temer destaca que “vários países já definiram estratégias de longo prazo” e pede que a proposta brasileira seja “baseada em estudos e debates entre os diversos setores da sociedade civil, do terceiro setor e da academia”.

O Brasil já assumiu alguns compromissos no âmbito do Acordo de Paris, no qual a redução da emissão de gases foi pactuada pelos países signatários. Esses países concordaram com a meta de manter o aumento da temperatura média global abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais”. O acordo prevê ainda que os signatários se empenhem em limitar o crescimento dessa temperatura a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais e que cada país entregasse a chamada Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), com medidas a serem tomadas.

O documento brasileiro foi entregue em setembro de 2015 e estabelece o compromisso do país de chegar em 2025 com níveis de emissão de gases de efeito estufa 37% abaixo do verificado em 2005. Em 2030, o percentual deverá ser de 43%. Para atingir essas metas, o Brasil deverá garantir que sua matriz energética seja composta por 18% de bioenergia sustentável e 45% de energias renováveis. Outro compromisso é o de restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas.

Parceria

“Mesmo se as NDCs de todos os países forem religiosamente cumpridas até 2030, do que não há a menor garantia, nós estaríamos ainda assim em uma trajetória de aumento de 3°C no final do século.’ Para Sirkis, trata-se de um crescimento “catastrófico”. Ele ressaltou que as NDCs não podem ser um ponto final de chegada, mas um marco para 2030, e que os países precisam de ir além disso. “Daí a importância da estratégia de longo prazo. O que nós vamos apresentar em novembro será apenas um primeiro esboço em relação a essa estratégia, porque trata-se de uma questão da maior complexidade. Não sabemos como será o mundo em 2060”, enfatizou.

Sirkis informou que existem diversos estudos que vão subsidiar a proposta. Em parceria com o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), o Fórum desenvolve o projeto IES Brasil 2030, focado na identificação das implicações econômicas e sociais decorrentes da emissão dos gases de efeito estufa. Tal pesquisa também serviu de base para a elaboração de uma proposta inicial de implementação da NDC, publicada em maio deste ano.

Fórum

O Fórum Brasileiro de Mudança do Clima foi criado em 2000, com o objetivo de conscientizar e mobilizar a sociedade para a discussão e tomada de posição sobre os problemas decorrentes da mudança do clima. Posteriormente, passou a integrar a Política Nacional de Mudanças Climáticas, instituída pela Lei Federal 12.187/2009. Atualmente, o Fórum é responsável pela produção de orientações estratégicas que permitam ao país lidar com as questões climáticas.

Dividido em nove câmaras temáticas, o Fórum é composto tanto por integrantes do governo como por pessoas da sociedade civil com notório conhecimento sobre o assunto, nomeadas pelo presidente da República. A composição deve garantir a presença de representantes do terceiro setor, do setor empresarial e da academia.

Fonte: ENVOLVERDE

segunda-feira, 27 de agosto de 2018


Carrefour se compromete com comercialização exclusiva de ovos em sistema livre de gaiolas no Brasil.

A companhia irá trabalhar junto aos seus fornecedores e consumidores para que, até 2028, todos os ovos comercializados pela rede, incluindo suas marcas próprias, sejam provenientes do sistema que garante maiores níveis de bem-estar animal a galinhas poedeiras.

O Grupo Carrefour anuncia no Brasil novo compromisso que vai garantir que todos os ovos comercializados pela rede no país sejam provenientes do sistema livre de gaiolas, conhecido como cage-free, promovendo o bem-estar animal na criação e manejo das galinhas poedeiras. Este compromisso, que representa um marco para o setor, será cumprido em duas etapas. Até 2025 todos os ovos das marcas próprias Carrefour serão produzidos a partir deste sistema. Ao colaborar com os produtores de ovos no país, a empresa vai convidar seus fornecedores de diversas marcas a integrar esse compromisso, possibilitando que, a partir de 2028, 100% dos ovos comercializados pelo Carrefour sejam provenientes do sistema livre de gaiolas. Para isso, a rede vai trabalhar junto a esses fornecedores e na conscientização dos seus milhares de consumidores, a fim de mostrar a importância dessa nova política.

 O compromisso conta com o apoio das organizações de defesa animal, que integram a discussão sobre a adoção desse sistema em todo o país, comoAnimal Equality, Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, Humane Society International e Mercy For Animals. “Com este compromisso, damos mais um importante passo para promover a sustentabilidade junto à nossa cadeia de fornecimento. 

Entendemos que, como varejista, temos o papel de criar um elo valioso entre o consumidor e a cadeia produtiva, colaborando para promover mudanças significativas nos hábitos de consumo”, destaca Paulo Pianez, diretor de Sustentabilidade do Carrefour Brasil.

Pesquisa da organização World Animal Protection, divulgada em 2016, já mostrava que 64% dos brasileiros ouviram falar sobre o tema e 82% deles afirmaram que comprariam produtos com critérios de bem-estar animal que assegurassem que não houve crueldade ou maus tratos ao longo da sua produção. Além disso, para 91% dos entrevistados, animais produzidos com bem-estar dão origem a produtos de maior qualidade.

Apesar desse cenário, atualmente, o mercado enfrenta diversos desafios para estabelecer uma produção de larga escala, sustentável e que garanta o bem-estar animal. A ausência de regulação específica, falta de clareza quanto às especificações técnicas, dificuldade de acesso a informações e o alto investimento necessário para transição de modelos dificultam a implementação desse sistema. “A partir do apoio fundamental de todos os setores envolvidos, além da iniciativa pública e da sociedade civil, queremos garantir meios pelos quais esses desafios sejam enfrentados colaborativamente, sempre sob a perspectiva de assegurar as condições necessárias ao bem estar animal”, conclui Pianez. 

Paralelamente, o Grupo Carrefour dará seguimento à proposta de constituição de um Grupo de Trabalho sobre ovos no âmbito da Comissão de Bem-Estar Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), com participação do comércio, produtores e associações. Além disso, a companhia vai trabalhar para constituir outro Grupo de Trabalho envolvendo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a fim de elaborar de um protocolo com as diretrizes para a produção de ovos em sistema livre de gaiolas.

Na Europa, mais precisamente na França, Itália, Polônia, Bélgica, Espanha e Romênia, o Grupo Carrefour também se comprometeu com a venda de ovos produzidos em sistema livre de gaiolas até 2025, começando pela sua marca própria e, a partir do diálogo com seus fornecedores, ampliando para todas as demais marcas que comercializa nesses países. Para conhecer esse projeto em andamento fora do país, comitiva convocada pela companhia irá realizar uma expedição de aprendizado sobre a transição para sistemas de criação de galinhas poedeiras livre de gaiolas. 

Realizada na França com o apoio técnico da Humane Society International, diferentes membros desta cadeia provenientes do Brasil e de outros países poderão conhecer a transição desse modelo de produção a partir das boas práticas já implementadas com sucesso no mercado francês.

Carrefour 2022

O compromisso nacional, assim como o compromisso global pela comercialização de ovos em sistema livre de gaiolas, estão alinhados ao plano de transformação global, o ‘Carrefour 2022’, anunciado em janeiro pelo Grupo Carrefour. Dentre os principais objetivos da nova estratégia está a liderança da chamada “transição alimentar”, isto é, permitir que seus clientes consumam melhor, produtos de mais qualidade, com segurança alimentar e responsabilidade socioambiental a preços justos. Esse compromisso marca mais uma importante etapa da estratégia do Grupo Carrefour para que suas cadeias de fornecimento sejam cada vez mais sustentáveis.

Sustentabilidade

Como parte desta ambição, o Grupo Carrefour se comprometeu também a trabalhar conjuntamente com fornecedores, parceiros e o próprio setor, na busca por soluções para promover a sustentabilidade das suas operações, sobretudo da sua cadeia de abastecimento. No Brasil, o Carrefour já apoia iniciativas setoriais, como o Grupo de trabalho da Soja (GTS), o Grupo de Trabalho do Cerrado (GTC), o Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS), dentre outras. A empresa também é membro fundador do InPacto – Instituto Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo. Em 2013, foi pioneira no lançamento da carne bovina com certificação Rainforest Alliance, selo atesta que a carne é proveniente de fazendas que seguem rigorosas normas internacionais de conservação ambiental.

A partir do compromisso global de oferecer produtos livres de desmatamento até 2020, quando uma política florestal foi desenvolvida para enfrentar os desafios de cada país, o Grupo Carrefour lançou em 2016 sua ‘Plataforma de Pecuária Sustentável’. A partir de uma política nacional específica para a compra de carne bovina in natura, adotou um sistema para monitorar os processos produtivos e práticas socioambientais de todos os seus fornecedores no país. Em julho deste ano, anunciou ainda o investimento no projeto ‘Produção Sustentável de Bezerros’, por meio da qual irá fomentar ao lado de importantes parceiros a criação sustentável de gado em centenas de pequenas propriedades situadas no bioma Amazônico do Mato Grosso, contribuindo para desenvolver uma produção sustentável sob os aspectos financeiro e socioambiental.

Sabor & Qualidade

Lançada em junho, a marca ‘Sabor & Qualidade’ integra o portfólio de marcas próprias do Carrefour no país. A partir de cinco critérios – sabor, qualidade, autenticidade, preço justo e sustentabilidade – oferece alimentos frescos, de qualidade e com sabor autêntico e natural, além de certificar a segurança, a procedência e monitorar os processos produtivos, adotando rigorosos conceitos de responsabilidade socioambiental. O bem-estar animal é um dos principais conceitos adotados, por meio do qual garante, por exemplo, que a produção de carne bovina e suína, aves e peixes conte com alimentação controlada e balanceada, a base de ração de origem vegetal e sem aplicação de antibióticos, e, no caso dos pescados, sem o uso de pigmentação artificial. Atualmente, dentre os 13 produtos que integram a nova marca, estão frutas, carnes bovinas e suínas, presunto serrano, aves, peixes, camarão e ovos, estes já produzidos a partir do sistema livre de gaiolas.

Sobre o Grupo Carrefour Brasil

Há mais de 40 anos no país, o Grupo Carrefour Brasil é líder de mercado de distribuição de alimentos. A partir de uma plataforma omnicanal e multiformato, reúne operações de varejo e cash&carry, além do Banco Carrefour e sua divisão imobiliária, o Carrefour Property.  Atualmente, conta com os formatos Carrefour (hipermercado), Carrefour Bairro e Carrefour Market (supermercado), Carrefour Express (varejo de proximidade), Carrefour.com (e-commerce), Atacadão (atacado e atacado de autosserviço) e Supeco (atacado de autosserviço de proximidade), além de postos de combustíveis e drogarias. Presente em todos os Estados e Distrito Federal, sua operação já abrange 644 pontos de vendas. Com faturamento bruto de R$ 52,4 bilhões em 2017 e mais de 81 mil colaboradores no Brasil, a empresa é a segunda maior operação dentre os países nos quais o Grupo Carrefour opera. A companhia se destaca ainda por ser um dos maiores empregadores privados do país, a maior distribuidora de alimentos, o maior varejista de capital aberto e umas das 20 maiores empresas listadas na bolsa brasileira (B3). No mundo, o Grupo Carrefour atua em mais de 30 países e, nos próximos cinco anos, implementa estratégia prevista no plano Carrefour 2022, por meio da qual lidera intenso movimento de omnicanalidade, transformação digital e transição alimentar para que seus clientes consumam ainda melhor em qualquer lugar. Com mais de 374 mil colaboradores e 12 mil lojas espalhadas pela Europa, Ásia e América Latina, está presente na vida de mais de 100 milhões de clientes. Em 2017, as vendas globais da companhia totalizaram € 88,2 bilhões.

Fonte: ENVOLVERDE

Corrupção Verde: aqui começa a prática criminosa que contaminou o país.


por Clóvis Borges e Caetano Fischer Ranzi* –

A existência de um bem que possa ser usurpado de maneira ilícita, gerando lucro para quem busca vantagens fora de preceitos legais ou em detrimento de terceiros, representa a fórmula que garantiu uma exploração descontrolada sobre o patrimônio natural brasileiro ao longo dos últimos séculos.

A exploração sem limites do período em que éramos ligados a Portugal já aponta para a existência de uma cultura pragmática de busca pelo enriquecimento a qualquer custo. Com vistas, inclusive, a buscar o desfrute desses ganhos em outras paragens, muito distantes do Novo Mundo.

Os ciclos econômicos que se seguiram à época do descobrimento foram eminentemente extrativistas espoliativos. Tanto que o final desses ciclos, reiteradamente, deu-se pela exaustão desses produtos, ocasionada pela exploração desenfreada. Seguiram as práticas agrícolas e de pecuária, subsequentes à devastação da vegetação nativa. Sempre em busca do uso máximo do território, desrespeitando encostas, beiras de rios ou mesmo a existência de remanescentes naturais em alguma proporção nas regiões exploradas.

A prática de troca de favores entre o privado e o público para obtenção de permissões para avanços exacerbados no uso da natureza foi, portanto, a maneira como uma significativa fração de nossa sociedade acumulou vantagens e enriqueceu indevidamente em nosso país. E, em boa parte, esse entendimento de ajustar acordos ilícitos para garantir vantagens continua em plena atividade.

O ciclo da madeira no sul do Brasil, ocorrido em décadas passadas, gerou um grupo de famílias abastadas que até hoje desfruta do resultado da empreitada destruidora que assumiu ser a maneira de desenvolver suas atividades, sempre com um aval conivente dos governantes. Mudam os negócios, pelo fim da madeira nativa, mas fica a origem dúbia e o péssimo exemplo de como esse processo de geração de riquezas foi executado.

Somente há poucas décadas, as leis ambientais começaram a ser estabelecidas em nosso país. E não foi a falta de inteligência e de qualidade que impediu a nossa passagem para uma condição mais iluminada. O exímio contexto estabelecido pelo Código Florestal de 1965 – talvez o maior marco de evolução na compreensão do interesse público sobre a propriedade privada – nunca obteve um entendimento pleno de parte da sociedade. Falou mais alto a garantia de impunidade e a expectativa de ganho maior, em detrimento do resto da sociedade.

O descompasso entre o que o Código Florestal preconizava e o arrebatador descompromisso leviano da sociedade rural em cumprir o que se estabeleceu como limite ao uso da terra, gerou o verdadeiro desmonte desse arcabouço legal , em 2012. E que foi vergonhosamente referendado pelo Supremo Tribunal Federal em 2018. O poder quase ilimitado de grupos setoriais, que avança na estruturação de uma legislação de conveniências, é uma das maiores e mais perversas demonstrações de corrupção que podemos oferecer nos dias atuais, contaminando todas as esferas de poder.

Portanto, a corrupção endêmica e amplamente espalhada em nosso meio, pode-se afirmar, começa com práticas ilícitas envolvendo a sina de destruição da natureza, com amplas e variadas modalidades. E continua muito ativa na forma de excessos conscientes e negociados em troca de vantagens. São atividades de mineração, silvicultura, pecuária, agricultura, implantação de indústrias e até ações envolvendo infinitas iniciativas mais pontuais.

Como uma farsa programada para não atender à sua missão primordial, delimita-se um complexo de estruturas frágeis e suscetíveis a todo o tipo de pressões, chamadas formalmente de órgãos ambientais. É de conhecimento amplo a prática de licenciamentos ilícitos, facilitados para o atendimento aos amigos do rei. Uma moeda de troca na forma de favores políticos e repasses de recursos sem procedência. Evidencia-se a garantia para campanhas eleitorais ou postos estratégicos em estruturas de governo para os elementos coniventes com o crime.

O desenvolvimento a qualquer custo, assim pontuado como uma forma de exploração que não atende ao respeito aos limites da natureza, ou mesmo aos preceitos estabelecidos em lei, é uma atividade intimamente ligada à corrupção. Gera resultados econômicos abusivos e imorais. E consolida um comportamento que, nos dias de hoje, todos percebemos, tomou conta da nação.

Incorporamos na pele esse comportamento, na forma de uma cultura institucionalizada, crônica e patológica. De nada importa o prejuízo coletivizado, nem a perda irreversível de recursos que poderiam ser usados de maneira contínua. Agimos em apoio cego em prol da destruição da natureza por meio de ações sem nenhuma coerência estratégica, impostas a partir de atos inconsequentes e criminosos.

Somos hoje, de fato, uma sociedade de corruptos. Um povo que cultua um profundo e irresponsável descompromisso com o futuro de todas as gerações que nos seguirão logo mais, por tratar a natureza como um bem descartável e que é visto como simples forma de usura. Depois de tantas Marianas, o que ainda precisamos viver para que uma virada aconteça? Ou estamos diante de uma condição inexorável que assume a mediocridade como uma sina sem volta?

*Clóvis Borges é diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.

*Caetano Fischer Ranzi é psicólogo e Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento.


Fonte: ENVOLVERDE

Pesquisa inédita vai mapear startups de tecnologias limpas em todo o Brasil.

Empreendedores com empresas em operação ou em fase de concepção podem responder o questionário até 13 de setembro. Participantes poderão se aproximar de investidores e de companhias consolidadas do setor elétrico, além de compor banco de dados de tecnologias limpas.

Com o objetivo de compreender o ecossistema de startups do segmento de tecnologias limpas no Brasil, está no ar uma pesquisa que terá como resultado o mapeamento de empresas que atuam nesse mercado, chamado de cleantech. Realizado pela EDP, companhia que opera em toda a cadeia de valor do setor elétrico, Coppe/UFRJ, Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV (FGVces) e Associação Brasileira de Startups (ABStartups), o levantamento será feito por meio de questionário online (clique aqui).

Representantes de empresas de todo o País têm até o dia 13 de setembro para responder à pesquisa, que é contemplada pelo Programa de P&D da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Podem participar do mapeamento startups em todos os níveis de maturidade, desde aquelas que estão em fase de concepção/ideia até as que já estão em operação e em fase de crescimento.

A partir dos resultados obtidos por meio desse questionário, pesquisadores do projeto identificarão as principais tecnologias, perfil dos empreendedores, modelos de financiamento, redes de colaboração e desafios enfrentados por essa categoria de negócio. Além disso, será constituído um Observatório de Tecnologias Limpas, que disponibilizará informações autorizadas para uso público. Os resultados poderão servir como subsídio para o desenvolvimento de políticas públicas para o fomento do setor no Brasil.

O mapeamento contribuirá, ainda, para conectar grandes organizações e investidores a startups para dar escala às inovações. O estudo também irá analisar o impacto dessas empresas no setor elétrico brasileiro, identificando tecnologias e modelos de negócio com potencial de transformá-lo.

Os empreendedores que preencherem o questionário terão como benefícios:
  • Recebimento de relatório com resultados gerais do mapeamento e sua posição no ecossistema;
  • Visibilidade no ecossistema de startups, uma vez que farão parte da base de conteúdo que será gerida por um Observatório de Tecnologias Limpas;
  • Integrar a rede de relacionamento da ABStartups, da FGV, da COPPE/UFRJ e da EDP Brasil;
  • Participação em sorteio para ganhar 3 ingressos para o CASE, maior evento para startups da América Latina.
As empresas respondentes que se relacionam direta ou indiretamente com o setor de energia poderão ter os seguintes benefícios adicionais, mediante análise da equipe do projeto:
  • Participação da etapa de construção de um modelo de cooperação entre startups e grandes empresas do setor elétrico, junto à EDP;
  • Participação dos programas de inovação aberta conduzidos pela EDP.


Fonte: ENVOLVERDE

Últimos dias: Fundo Brasil seleciona projetos de combate ao racismo até 31 de agosto.


Cada grupo selecionado receberá até R$ 70 mil

As organizações interessadas em apresentar projetos para o edital “Enfrentando o racismo a partir da base: mobilização para defesa de direitos” têm até o dia 31 de agosto para fazer a inscrição.

O Fundo Brasil de Direitos Humanos vai doar R$ 490 mil para iniciativas que combatem o racismo vivenciado pela população negra. O edital é um apoio a organizações que promovem ações voltadas à luta contra a discriminação racial no país.

Os projetos apoiados pela iniciativa, promovida em parceria com a Fundação Open Society, receberão até R$ 70 mil para a realização de atividades em um prazo de até 18 meses. As inscrições podem ser feitas pela internet (a partir do link do edital). Os selecionados serão divulgados até o dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra.

“Serão apoiadas iniciativas que tenham por objetivo o enfrentamento ao racismo e suas mais diversas decorrências sociais, tais como discriminação, preconceito, criminalização, ausência de perspectivas, violência, feminicídio e genocídio”, afirma Maíra Junqueira, coordenadora executiva adjunta do Fundo Brasil.

Ao apoiar esse tipo de projeto, o Fundo Brasil fortalece organizações e iniciativas que buscam transformar a realidade de desigualdades gritantes, comprovada em recentes pesquisas:
  • De todas as pessoas assassinadas no Brasil em 2016, 71,5% eram negras (Atlas da Violência 2018, Ipea)
  • De 2006 a 2016, o número de negros vítimas de homicídio aumentou 23%, enquanto o de não-negros diminuiu 6,8% (Atlas da Violência 2018, Ipea)
  • Entre 2003 e 2013, o número de mulheres negras assassinadas cresceu 54% enquanto o índice de feminicídios de brancas caiu 10% (Mapa da Violência 2015, Faculdade Latino-Americana de Estudos Sociais)
  • Mais da metade das 622 mil pessoas encarceradas no Brasil são negras (Infopen – Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias)
  • Em 2015, brasileiros brancos ganhavam em 2015 o dobro do que os negros (“A distância que nos une – Um retrato das desigualdades brasileiras”, Oxfam)
“Há uma diversidade, radicalidade e uma quantidade muito significativa de iniciativas de resistência ao racismo”, comenta Douglas Belchior, consultor da fundação nos temas Justiça Criminal, Violência de Estado e Encarceramento, que percorreu oito estados brasileiros para mapear os projetos que atuam no enfrentamento ao racismo. Para ele, essas iniciativas ganham ainda mais força a partir de apoios como o oferecido pelo edital, permitindo que organizações e coletivos possam resistir e crescer.

SOBRE O FUNDO BRASIL DE DIREITOS HUMANOS

O Fundo Brasil de Direitos Humanos é uma organização independente, sem fins lucrativos e com a proposta inovadora de criar meios sustentáveis para destinar recursos a organizações sociais que lutam pela defesa dos direitos humanos. A partir do apoio financeiro e técnico oferecido a essas organizações, o Fundo Brasil viabiliza o desenvolvimento de projetos de defesa e promoção de direitos humanos em todas as regiões do país, impactando positivamente no dia a dia de milhares de pessoas. Em atividade desde 2006, o Fundo já apoiou mais de 400 projetos.


Fonte: ENVOLVERDE

Refugiados: os diversos contextos das fronteiras humanitárias.

Por Sucena Shkrada Resk*, especial para Envolverde – 

As relações humanas trafegam em linhas tênues que reúnem processos culturais centenários, questões socioeconômicas, religiosas e limites geográficos, que integram a geopolítica, que ora se fundem, e ora segregam. Historicamente é isto que vimos em diferentes partes do mundo e começamos a ter exemplos mais cotidianos aqui no Brasil, com os episódios envolvendo grupos de brasileiros e venezuelanos, na fronteira dos dois países, em Roraima. Compreender a situação de “refúgio” é algo que exige se despir de “pré-conceitos” e o exercício de se colocar no lugar do outro. Tarefa fácil, longe disso, mas extremamente necessária para que sejam evitados conflitos civis, que mutilam qualquer regime democrático.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 2,3 milhões de venezuelanos partiram para destino incerto de seu país, ao longo dos últimos anos, sob regime do presidente Nicolás Maduro, onde vivem cerca de 30 milhões de habitantes. É um número bem maior de refugiados do que na Europa.

O país vive sob uma inflação, que deve chegar à casa dos 2.350%, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), sofre embargo dos EUA e de outros países e apesar de ser rico em combustível fóssil (petróleo), a carestia chegou de forma avassaladora à população. A violência também permeia a população de diferentes formas. O Observatório Venezuelano da Violência (OVV) registrou que 28.479 pessoas foram mortas em 2016 no país, que representa na ampliação da taxa de homicídios de 91,8 por cem mil habitantes. No ano de 2017, houve manifestações contra a crise humanitária. 

Segundo relatório das ONGs Human Rights Watch (HRW) e Fórum Penal, neste episódio ocorreram violações de direitos humanos cometidas pelas Forças Armadas venezuelanas.

Trata-se, sem dúvida, de uma crise humanitária. Além do Brasil, para onde já vieram mais de 58 mil (registrados), os principais destinos na América do Sul, são a Colômbia, o Equador e o Peru, como também o Chile e a Argentina.

Hoje a pergunta que permanece – O quanto nós e nossas nações estamos preparados para este fluxo de pessoas que estão vindo em diversas situações, desde quadros de miserabilidade aos de capacidade de formação e trabalho oriundas de suas trajetórias? No caso brasileiro, esta complexidade se soma também à situação da crise interna do país, que reflete diversos Brasis, que tem seus próprios “refugiados” internos e uma situação macro de 13 milhões de desempregados.

O Equador e o Peru já começaram a exigir passaportes dos venezuelanos. No caso do Equador, a Justiça do país deu um prazo de 45 dias de suspensão das medidas. O controle das fronteiras começa a ser mais severo. Já o Chile, por exemplo, está pedindo certificado de antecedentes criminais emitido na Venezuela, além de passaporte que não expire nos 18 meses após a entrada do refugiado.

No contexto das negociações regionais, a Organização dos Estados Americanos (OEA) não conseguiu encontrar uma via de solução para esta crise, que extrapola a autonomia governamental venezuelana. É um problema que vai muito além de polarizações entre “Direita” e “Esquerda” e se revela uma agenda de direitos humanos internacional.

No Brasil, as fronteiras ainda estão abertas aos refugiados, mas sob esse contexto de pressão e incertezas do encaminhamento das políticas a respeito, nesta fase de processo eleitoral. Fazendo parênteses, há outros componentes que devem ser observados. O próprio estado de Roraima é refém de uma situação que poucos sabem: 65% de sua energia são provenientes da Venezuela e o Brasil deve cerca de R$ 120 milhões à empresa de energia venezuelana, que estão sendo cobrados, com iminência de corte. A Eletrobras alegou que conseguirá cobrir esse corte caso ocorra, em 15 municípios, e detalhe – com termoelétricas, já que o estado não integra o Sistema Interligado Nacional (SIN) de energia. São panos de fundo a serem considerados nesta complexidade.

Voltando ao processo migratório de venezuelanos, são famílias inteiras, que se veem nos últimos anos, reféns de um sistema político e econômico conturbado, de condições insalubres de vida e tentam encontrar guarida nos “países” hipoteticamente irmãos, no sentido simbólico. É como se houvesse uma mensagem subliminar – ‘somos sul-americanos, ainda há esperança’. Já pararam para pensar como a maioria destas pessoas se sente humilhada e, por muitas vezes, deprimida? Como para qualquer um de nós, passar fome, ser privado de um emprego, de serviços de saúde e estar exposto a violências físicas e psicológicas de todo tipo, é algo que exige extrema resiliência.

História em movimento

No guarda-chuva histórico, mais um ponto de reflexão é lembrar que o Brasil, como os demais países do mundo, é formado por povos originários e imigrantes, que aqui vieram por meio das mais diferentes circunstâncias. Entre elas, na contemporaneidade, sob a lente de aumento sobre as motivações e resultados das Primeira e Segunda Guerras Mundiais e de conflitos presentes entre Israel e Palestina, das situações na Síria, no Haiti, em países como Somália, Sudão do Sul, Paquistão e Nicarágua. Todos esses processos históricos não são números e informes frios quaisquer. O que vivenciamos aqui está no contexto destas crises humanitárias pelo planeta.

Sempre há a parte do “copo cheio”, nestas grandes crises humanitárias, com exemplos que agregam princípios de boa governança, de pacifismo, comunicação não-violenta, de humanidade e equilíbrio democrático. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), a Cruz Vermelha e a Human Rights Watch (HRW), entre outras organizações atuam nestas retaguardas mais organizadas internacionalmente, mas não têm dado conta de um fluxo e periodicidade incerta desses períodos de refúgio. Especificamente em Roraima, cerca de 40 organizações que integram o chamado Comitê para Migrações de Roraima chegaram a fazer uma nota de repúdio à situação de violência que ocorreu em Pacaraima recentemente (https://www.conectas.org/wp/wp-content/uploads/2018/08/COMIRR-Nota-01-2018-Final-6.pdf). São alertas oportunos.

O fantasma da xenofobia

O que vimos na realidade, no entanto, é que um conjunto de fatores tem revelado que o paradigma da amplitude do significado de ‘humanidade’ está sendo fragilizado também por um “medo” por parte de coletivos dos países fronteiriços aos que estão em crise e inoperância sistematizada dos governos. 

Essa desagregação se transforma em raízes da formação de estereótipos preconceituosos, pelos quais se alicerçam guetos, cisões e segregações. O fantasma da palavra xenofobia aparece nesta atmosfera desequilibrada.

O termômetro de que a desconstrução da relação humanitária está em vigor aparece quando movimentos em massa de violência exacerbam o ódio e o ranço pelo fato da existência próxima de um outro semelhante que fala uma língua diferente, ter nascido em outro país, seja ele, criança, adulto ou idoso. De uma hora para outra, esse agrupamento de seres humanos “refugiados” se torna de forma infundada um “inimigo” e ponto final.  Neste processo conturbado, que integra os diferentes vértices da psicologia social, todas estas pessoas em estado de vulnerabilidade acabam sendo rotuladas como personagens que representam um perigo hipoteticamente iminente à segurança e à empregabilidade, no lugar de poucos que possam ter praticado algum ato ilícito.

Enquanto a situação de crise da Venezuela ou de outro país é simplesmente pauta de noticiários, a solidariedade remota funciona, mas quando se faz parte da crise, aí é que o equilíbrio emocional e a racionalidade de se cobrar ações dos governantes, e de exercitar a solidariedade prática, se tornam os desafios presentes. É um esforço que exige a participação multidisciplinar dos governos federal, estadual e municipal, dos poderes judiciário e legislativo, desde o âmbito das relações internacionais à retaguarda de vigilância epidemiológica. Nós, como parte da sociedade civil, somos constituintes desta engrenagem e fazemos a diferença entre a contribuição para a paz ou para o conflito.

Sucena Shkrada Resk é jornalista, formada há 26 anos, pela PUC-SP, com especializações lato sensu em Meio Ambiente e Sociedade e em Política Internacional, pela FESPSP, e autora do Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk (https://www.cidadaosdomundo.webnode.com), desde 2007, voltado às áreas de cidadania, socioambientalismo e sustentabilidade.


Fonte: ENVOLVERDE

quinta-feira, 23 de agosto de 2018


Parque Nacional dos Abrolhos pede socorro.

Com processo de ampliação parado há seis anos, área marinha de importante valor ambiental para o Brasil ganha campanha.

Há anos em discussão no Brasil, o processo de ampliação do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos ganhou novos capítulos nas últimas semanas. Hoje, a área que cobre apenas 1,8% do maior banco de corais do Atlântico Sul – refúgio da biodiversidade marinha brasileira, com espécies endêmicas, ameaçadas, vulneráveis e em recuperação, como a baleia-jubarte – luta também para ampliar a geração de emprego e renda por meio do ecoturismo, da manutenção de estoques pesqueiros e da garantia ao equilíbrio ambiental.
Parque Nacional dos Abrolhos conta hoje com somente 1,8% de área protegida
Crédito: Divulgação / Campanha #MaisAbrolhos.

Pela ampliação urgente do Parque Nacional, o Instituto Baleia Jubarte iniciou o movimento e articulou várias instituições ambientais em prol da campanha #MaisAbrolhos, lançada durante o IX Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), promovido no início do mês pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, em Florianópolis. Uma moção foi aprovada por unanimidade e será encaminhada para a Presidência da República, Ministério do Meio Ambiente (MMA) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O pedido considera que o Banco dos Abrolhos é uma das regiões de maior importância para a conservação da biodiversidade marinha do Brasil e do Atlântico Sul, o que tem sido reconhecido e reafirmado em sucessivos processos de avaliação de áreas prioritárias para a preservação de espécies animais e vegetais em território nacional.

Segundo o Presidente do Instituto Baleia Jubarte, Eduardo Camargo, o processo, que já teve diversas consultas regionais – uma delas específica com os pescadores artesanais este ano -, se arrasta há mais de uma década. “Várias instituições decidiram batalhar para que esse processo seja concluído ainda neste ano, com a realização das necessárias consultas públicas e encaminhamento de proposta de Decreto ao Presidente da República para efetivar essa ampliação. Estamos animados com o compromisso do Presidente do ICMBio, assumido publicamente durante o IX CBUC, de realizar as Consultas Públicas logo após as eleições de outubro. Pretendemos colaborar com ele e o MMA para conscientizar a sociedade e os demais órgãos de governo de que essa ampliação é boa para todos, dos pescadores artesanais ao setor de Turismo”, afirma.
Local é santuário de Baleias Jubarte
Crédito: Divulgação / Campanha #MaisAbrolhos

Luta pelos oceanos

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), existem mais de 15,3 mil áreas marinhas protegidas no mundo, cobrindo o equivalente a 7,2% da superfície total do oceano. Somente no Brasil, até 2020, deve-se proteger pelo menos 10% dos mais de 8,5 milhões de quilômetros de litoral, segundo a meta 11 de Aichi estabelecida pela Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB-ONU). “No início deste ano, superamos essa meta em termos quantitativos, mas não qualitativos. Ainda há muito o que fazer pelos oceanos brasileiros e a campanha de Abrolhos é mais um esforço que pode incentivar o cumprimento dessas metas”, analisa o coordenador de Ciência e Conservação da Fundação Grupo Boticário, Emerson Oliveira.

A Fundação Grupo Boticário também demandou a ampliação da mesma unidade de conservação anteriormente. Em outubro de 2017, em Brasília, a importância da região e a sua proteção foram ressaltadas durante evento que discutia propostas de criação de áreas marinhas protegidas. A região de Abrolhos é campo de muitos projetos de pesquisa, principalmente pela sua biodiversidade e necessidade de conservação. A Fundação Grupo Boticário tem em seu histórico 11 projetos apoiados no Parque Nacional dos Abrolhos, dos quais dois estão em andamento: um sobre corais e outro sobre esponjas.
Campanha pede o aumento da área de proteção do Parque
Crédito: Divulgação / Campanha #MaisAbrolhos
Sobre a Fundação Grupo Boticário

A Fundação Grupo Boticário é fruto da inspiração de Miguel Krigsner, fundador de O Boticário e atual presidente do Conselho de Administração do Grupo Boticário. A instituição foi criada em 1990, dois anos antes da Rio-92 ou Cúpula da Terra, evento que foi um marco para a conservação ambiental mundial. A Fundação Grupo Boticário apoia ações de conservação da natureza em todo o Brasil, totalizando mais de 1.500 iniciativas apoiadas financeiramente. Protege 11 mil hectares de Mata Atlântica e Cerrado, por meio da criação e manutenção de duas reservas naturais. Atua para que a conservação da biodiversidade seja priorizada nos negócios e nas políticas públicas, além de contribuir para que a natureza sirva de inspiração ou seja parte da solução para diversos problemas da sociedade. Também promove ações de mobilização, sensibilização e comunicação inovadoras, que aproximam a natureza do cotidiano das pessoas.

Fonte: ENVOLVERDE

Conservar a Amazônia é questão ambiental, social e econômica.

Por Maria Fernanda Ziegler, de Manaus Agência FAPESP

A Amazônia é única. É a maior extensão de floresta tropical e o único lugar onde a própria floresta controla seu clima interno, impactando o mundo todo. Com sua biodiversidade ímpar, a Amazônia possibilita a manutenção de serviços ecossistêmicos e limpa a atmosfera do planeta. Porém, para que haja um desenvolvimento social sustentável na região, é necessária uma forte base científica capaz de subsidiar políticas públicas que atendam questões relacionadas à população, biodiversidade, meio ambiente e economia.

É o que destacaram participantes no workshop “As dimensões científicas, sociais e econômicas do desenvolvimento da Amazônia”, realizado no dia 16 de agosto de 2018, em Manaus, pela FAPESP em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e com o Brazil Institute do Wilson Center, em Washington.

“É preciso ver a Amazônia a partir de vários aspectos diferentes. Ela não é um jardim botânico, pois não tem um funcionamento ou um impacto linear, e é chave para as mudanças climáticas globais”, disse Paulo Artaxo, professor no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais.
Pesquisadores defendem base científica capaz de subsidiar políticas públicas que atendam questões relacionadas à sociedade, biodiversidade, meio ambiente e economia da região (foto: Bergadder / Pixabay)

O funcionamento biológico da Floresta Amazônica regula o clima sobre a região. “A floresta controla o balanço de energia, o fluxo de calor latente e sensível, o vapor d’água e os núcleos de condensação de nuvem que vão intensificar o ciclo hidrológico. E isso só é possível se houver uma extensão muito grande de floresta. Quando ela é fragmentada, deixa de ter essa propriedade”, disse Artaxo, organizador do workshop, à Agência FAPESP.

Um exemplo do impacto da floresta está na sua capacidade de armazenar carbono da atmosfera, questão fundamental para as mudanças climáticas.

“Mas a capacidade da Floresta Amazônica em armazenar carbono e, de certa forma, limpar a atmosfera, está diminuindo. Há três décadas, era relativamente mais intensa que hoje. O problema é se a floresta passar a emitir mais dióxido de carbono que absorver, o que agravaria as mudanças climáticas. O que acontece com a Amazônia interfere no mundo inteiro”, disse Luiz Antonio Martinelli, professor do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP.

De acordo com Martinelli, a hipótese principal para a diminuição de estocagem de carbono tem relação com os eventos extremos, como a seca, que estão mais frequentes e intensos. Isso ocasiona a mortalidade das árvores e a consequente perda em estocar carbono.

“Talvez já estejamos vendo o efeito das mudanças climáticas na Amazônia. E um interfere no outro, ou seja, o evento extremo degrada mais a floresta, degradando a floresta ela emite mais CO2 e aumenta a intensidade e frequência dos eventos extremos”, disse Martinelli.

Serviços ecossistêmicos

Fora o evidente impacto ambiental das mudanças climáticas, há ainda consequências sociais e econômicas.

“Secas como as que tivemos em 2005 e 2010 provocaram um impacto social enorme. Municípios ficaram completamente isolados, sem água e alimentos, pois os rios são o transporte na região. Já as cheias extremas deslocam populações da beira de Manaus, por exemplo”, disse Artaxo.

Modelos climáticos têm previsto aumento significativo dos eventos extremos nas próximas décadas.

“O Brasil precisa ter um plano de adaptação para a Amazônia. O aumento da temperatura na região foi da ordem de 1,6 °C, enquanto a média no Brasil foi de 1,3 °C e a mundial de 1,1°C [desde o fim do século 19]. Então, a Amazônia, por estar em uma região tropical, por receber muita radiação solar, é uma região sensível ao aumento da temperatura e à redução da precipitação. Dá para imaginar o impacto socioeconômico de um dia de verão em Manaus com temperatura média aumentada em até 5 ºC. É o que pode acontecer no futuro”, disse Artaxo.

Um ponto a ser investigado é o dos diversos serviços ecossistêmicos da floresta, como o processamento de vapor d’água e a absorção de uma quantidade enorme de CO2 da atmosfera.

“O valor dos serviços ecossistêmicos que a Floresta Amazônica realiza equivale a US$ 14 trilhões. Atualmente, o preço da tonelada de CO2 no mercado internacional está em torno de US$ 100, e a Amazônia absorve uma quantidade gigantesca desse gás. Isso vale muito”, disse Artaxo.

Mas existe uma lista maior de serviços ecossistêmicos, como, por exemplo, o vapor d’água – essencial para a agricultura. Durante as apresentações no workshop, foi destacada a dependência da agricultura de todo o sul do Brasil e dos estados de Mato Grosso e Goiás pelo vapor d’ água processado pela Amazônia.

“Essa floresta é valorizada, é valorizável. Mas o seu modo de exploração atual, baseado em grandes projetos agropecuários, não beneficia necessariamente a população da região”, disse Artaxo.

Outro ponto destacado foi o crescimento nos últimos cinco anos do índice de desmatamento, que vinha decaindo consideravelmente nos últimos 30 anos.

“Não ter essa floresta em um cenário futuro de aquecimento significa não ter um ativo econômico que terá muita importância para prevenir grandes prejuízos no futuro. Fora isso, se o Brasil quer ter uma meta além dos 7% da produção mundial [do agronegócio], é bom valorizar a conservação. Pois sem esse sistema gigante de irrigação, não será possível atingir essa meta. É uma questão econômica”, disse Paulo Moutinho, pesquisador sênior do Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (Ipam).


Mau exemplo

A importância de conservar a biodiversidade também foi debatida no workshop. Para Maria Teresa Piedade, pesquisadora do Inpa, é preciso criar um desenvolvimento sustentável que seja compatível com a biodiversidade e não o contrário. “A biodiversidade está aqui muito antes da nossa vinda e da região se tornar a última fronteira de acesso a bens e produtos”, disse.

Piedade orienta estudos de impacto na hidrelétrica de Balbina, obra da década de 1980 no município de Presidente Figueiredo (AM) e que tem desdobramentos até hoje.

“A hidrelétrica de Balbina tem sido apontada há tempos como um péssimo exemplo de sustentabilidade. Ela deslocou populações tradicionais indígenas, gerou massiva mortalidade de peixes e vários outros problemas. Fora isso, tem baixa eficiência”, disse à Agência FAPESP.

“Houve um achatamento da variação de secas e cheias do rio. Estamos verificando a ocorrência de mortalidade em massa de árvores das porções mais baixas e a entrada de espécies de terra firme nas porções mais altas, anteriormente colonizadas por árvores das áreas úmidas. Isso altera a biodiversidade local, a composição florística e o banco de sementes para peixes que utilizam os rios da região para se alimentar”, disse Piedade.

O workshop “As dimensões científicas, sociais e econômicas do desenvolvimento da Amazônia” terá continuação no dia 24 de setembro, no Wilson Center, nos Estados Unidos.

No evento, a intenção também será debater que o entendimento físico, químico e biológico da Amazônia auxilia na compreensão de suas fragilidades e resiliências, e que é preciso olhar para as dimensões sociais e econômicas da região de maneira integrada.


Fonte: ENVOLVERDE

Desmatamento segue como vilão do clima no Brasil e em Mato Grosso.

Autor Assessoria de Comunicação - 29/06/2018
Método de análise brasileiro é destaque em revista internacional

Mais da metade das emissões de gases-estufa em 2016 vieram do setor de mudança do uso da terra (MUT) – e até agora nada indica que 2017 será diferente. O dado, que não chega a ser nenhuma surpresa, é resultado da análise do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG). O estudo, publicado pelo Observatório do Clima, conta com a colaboração de Paula Bernasconi, do Instituto Centro de Vida. 

Em 2016, este segmento emitiu 1,17 bilhão de toneladas brutas de CO2 equivalente (tCO2eq), o que representa 51% de todas as emissões brasileiras no ano. Mato Grosso foi o segundo estado que mais emitiu gases oriundos das mudanças do uso da terra – 13% do total. Ficou atrás do Pará, com quem há anos se reveza no triste primeiro lugar em taxa de desmatamento da Amazônia.

O setor de mudança do uso da terra (MUT) é uma das categorias estabelecidas internacionalmente para avaliação de emissões de gases-estufa. Engloba emissões de desmate, calagem de solos e queima de resíduos florestais.

>> Mais: baixe o estudo completo neste link 


As emissões do setor MUT em 2016 são as maiores desde 2008, contrastando com a tendência de estabilização no período de 2010 a 2015. De acordo com o estudo do Observatório do Clima, isso levanta a possibilidade de nova tendência de aumento das emissões, principalmente nos biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. E, como esperado, acompanham o aumento das taxas de desmatamento.

De acordo com as análises do ICV – que acompanha os dados do desmatamento há mais de 10 anos – entre 2011 e 2015 o desmatamento na Amazônia mato-grossense ficou estabilizado em torno de 1 mil km², mas, desde então vem aumentando.

Na última temporada, entre agosto de 2016 e julho de 2017, a taxa de desmatamento da área florestal na Amazônia, levantada pelo Prodes foi de mais de 6,6 mil quilômetros quadrados – 20% disso ocorreu em Mato Grosso: 1.341 km² de florestas desmatadas em corte raso.
Crédito: Ibama

>> Veja também: Análise do Desmatamento em Mato Grosso (Prodes/2017)

Ou seja, nada indica que quando forem feitos os cálculos de emissões de 2017 os números serão melhores do que em 2016. Com isto, Brasil está cada vez mais distante de cumprir seus compromissos de redução de emissões de gases-estufa por desmatamento. Tanto quando o Estado de Mato Grosso se distancia do compromisso de zerar o desmatamento ilegal até 2020.

Reconhecimento

A metodologia usada no Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa recebeu reconhecimento internacional no final de maio. Um artigo científico contendo o passo a passo completo do SEEG foi publicado no periódico Scientific Data. A revista integra o grupo Nature, que edita a principal revista científica do planeta.

Veja o artigo aqui (em inglês): https://www.nature.com/articles/sdata201845

O relatório do setor de Mudança de Uso da Terra integra a série de cinco documentos de análise que é publicada depois do lançamento dos dados do SEEG. Também foram analisadas as emissões dos setores de Resíduos, Energia e Processos Industriais e Agropecuária, além de um documento-síntese com recomendações para a governança climática do Brasil. 

SEEG

O Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) é uma iniciativa da sociedade civil através do Observatório do Clima que compreende a produção de estimativas anuais das emissões de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil, documentos analíticos sobre a evolução das emissões e um portal na internet para disponibilização de forma simples e clara dos métodos e dados do sistema.

As Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa são geradas segundo as diretrizes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), com base nos dados dos Inventários Brasileiros de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases do Efeito Estufa, elaborado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e em dados obtidos junto a relatórios governamentais, institutos, centros de pesquisa, entidades setoriais e organizações não governamentais.

Fonte: ICV