segunda-feira, 30 de julho de 2018


A acidificação dos oceanos é um desafio para a ciência, governos e comunidades.


University of Tasmania*

Um novo estudo do Instituto de Estudos Marinhos e Antárticos (IMAS), publicado na revista científica Nature Climate Change , destacou os desafios enfrentados por cientistas, governos e comunidades, à medida que níveis crescentes de CO2 são absorvidos pelos oceanos do mundo.

Pesquisadores descobriram que nos últimos séculos o pH da superfície do oceano caiu dez vezes mais rápido do que nos últimos 300 milhões de anos e que os impactos estão sendo sentidos em todo o mundo.

Estima-se que o custo econômico para os recifes de corais, pesca silvestre e aqüicultura do processo conhecido como acidificação dos oceanos chegue a mais de US $ 300 bilhões por ano.

A professora-associada Catriona Hurd, principal autora do estudo, que também incluiu pesquisadores da CSIRO Oceans and Atmosphere e ACE CRC , disse que a acidificação dos oceanos representa uma série de desafios significativos.

“Estudar como os oceanos vão mudar, à medida que absorvem mais CO2 da atmosfera, é um campo relativamente recente da ciência”, disse o professor associado Hurd.

“Quanto mais os cientistas olham para a acidificação dos oceanos, mais estamos chegando para entender como ela é complexa e quão amplos e diversos serão os impactos.

“O processo não está acontecendo a taxas uniformes em todo o mundo, e os cientistas descobriram uma grande variabilidade regional e local, impulsionada por diferenças físicas, químicas e biológicas nos oceanos”, disse o professor Hurd.

“A detecção de tendências e mudanças no pH também é complicada pela ampla gama de outros processos dinâmicos que estão afetando os oceanos, incluindo a circulação, temperatura, ciclagem de carbono e ecossistemas locais.

“Em algumas partes do mundo, como o Chile e a costa oeste dos EUA, algumas áreas de pesca já estão se adaptando à acidificação dos oceanos por meio de parcerias entre cientistas, indústria e governo.

“Outros impactos globais provavelmente exigirão colaboração e ação semelhantes em nível internacional”.

O Professor Associado Hurd disse que uma questão importante para os cientistas e formuladores de políticas é se os humanos devem tentar mitigar a acidificação dos oceanos alterando a química dos oceanos, ou se as comunidades devem simplesmente se adaptar.

“Mesmo que as emissões globais de carbono parassem hoje, espera-se que as futuras mudanças na acidificação do oceano sejam muito duradouras devido à quantidade de CO2 já presente na atmosfera e nos oceanos.

“Nosso desafio como cientistas é aumentar nossas observações e modelar as mudanças no pH dos oceanos em todo o mundo.

“Estaremos então em melhor posição para trabalhar com governos e comunidades para aumentar a conscientização sobre a ameaça da acidificação oceânica e para ajudar a desenvolver respostas”, disse o professor Hurd.

Referência:
Current understanding and challenges for oceans in a higher-CO2 world
Catriona L. Hurd, Andrew Lenton, Bronte Tilbrook & Philip W. Boyd
Nature Climate Change (2018)
https://www.nature.com/articles/s41558-018-0211-0


Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate

Fonte: EcoDebate

Desenvolvidos e Em Desenvolvimento: uma classificação ultrapassada para países?

Estudo da Fiocruz publicado pelo periódico PLOS Neglected Tropical Diseases questiona divisão de países entre desenvolvidos e em desenvolvimento.

Um estudo do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), publicado hoje (12/7) na revista PLOS Neglected Tropical Diseases – uma das mais respeitadas do mundo na área de doenças negligenciadas – questiona a divisão de países entre industrializados, em desenvolvimento e subdesenvolvidos.

Segundo a pesquisa, o conceito de Países em Desenvolvimento Inovadores (IDCs), para definir um grupo de nações com programas científicos de impacto, seria uma alternativa à tradicional segmentação.

A discussão acerca do papel dos IDCs no controle e prevenção de epidemias foi realizada com base nas redes de colaboração em pesquisa sobre zika e ebola. O papel central do Brasil, qualificado no estudo dentro do conceito de IDC, na rede de pesquisa em zika, se refletiu na liderança de instituições brasileiras nos trabalhos sobre a epidemia e na capacidade de controle do surto. Em contraste, os países africanos que não são definidos como IDCs, afetados pela epidemia de ebola, participaram de maneira menos expressiva na rede de pesquisa sobre a doença e contaram predominantemente com especialistas externos para controlar a epidemia.

Proposto pela primeira vez em 2005, o termo IDC desafiou o senso comum de que os países em desenvolvimento não teriam capacidade de inovação. Originalmente, o conceito era definido a partir de uma classificação global dos países com maior número de patentes depositadas nos Estados Unidos.

No novo trabalho, a proposta foi incluir o número de patentes depositadas internacionalmente. Desta forma, segundo os resultados da pesquisa, a lista atualizada de IDCs tem como primeiro lugar a China, ultrapassando EUA, Índia e Japão. O Brasil perde três posições no ranking e passa a ocupar o 15º lugar.

A pesquisa examina, ainda, a contribuição dos IDCs em temas de interesse nacional. Para isso, os pesquisadores analisaram publicações científicas de autores afiliados a IDCs para mostrar que esses países investem acima da média mundial em pesquisa e desenvolvimento em Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs). “A capacidade de pesquisa e inovação que os IDCs já dispõem e suas significativas participações nas redes de produção de conhecimento poderão contribuir expressivamente para que a humanidade alcance mais rapidamente os objetivos do desenvolvimento sustentável”, afirma Carlos Morel um dos pesquisadores da Fiocruz que participou do estudo.

“Nossa pesquisa mostra claramente um papel proeminente dos IDCs na inovação em saúde, pesquisa e desenvolvimento em doenças tropicais negligenciadas (DTNs) e em preparação, prevenção e controle de epidemias”, ressalta o pesquisador. De acordo com Morel, o conceito de IDCs, desde a sua criação, tem impacto positivo na análise de inovação dos países.

Além disso, pontua o pesquisador, ao levar em consideração a resposta das nações às epidemias de zika e ebola, mostra a importância de haver uma infraestrutura sólida na área de saúde e redes de colaboração em pesquisa para que haja uma resposta rápida e efetiva nos casos de crises na área de saúde.

Em uma comparação entre três índices de inovação, os resultados se mostram diversos. Quando o índice considerado é o Bloomberg – um dos principais provedores mundiais de informação para o mercado financeiro – os três primeiros países do ranking são Coreia do Sul, Suécia e Alemanha. Já o índice global de inovação mostra nas primeiras colocações Suíça, Suécia e Holanda. De acordo com o índice desenvolvido pelos pesquisadores do INPI e Fiocruz, China, Japão e Estados Unidos são os líderes de inovação mundial.

A pesquisa completa está disponível no link: http://journals.plos.org/plosntds/article?id=10.1371/journal.pntd.0006469.


Fonte: EcoDebate
Obesidade em crianças e adolescentes atinge índices alarmantes, alerta especialista.

124 milhões de crianças e adolescentes no mundo são obesos

Por Luana Moreira

Dados revelados por um estudo realizado pela Imperial College de Londres em parceria com a Organização Mundial de Saúde (OMS) revelaram que a obesidade infantil atinge atualmente dez vezes mais crianças e adolescentes do que na década de 1970. Isso significa que nos últimos quarenta anos o número de crianças e adolescentes obesos – entre 5 e 19 anos – aumentou dez vezes, correspondendo a 124 milhões de pessoas. A Organização também estima que em 2022 existirão mais crianças obesas do que abaixo do peso em todo o mundo.

A estatística de crianças obesas no Brasil também é muito elevada. Um em cada três brasileiros apresenta sobrepeso ainda na infância. O Ministério da Saúde estima que 33% das crianças brasileiras entre 5 a 9 anos, hoje já estejam acima do peso. O índice de meninos obesos alcança 16,6% e dentre as meninas a taxa chega a 11,8%, segundo informações contidas nas Pesquisas de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE 2008-2009. Já entre os jovens com idades de 18 a 24 anos, o percentual de obesos aumentou em 110% nos últimos dez anos no país.

Os números são bastante preocupantes e apontam para uma grande possibilidade de que esses indivíduos se mantenham obesos ou com sobrepeso durante a vida adulta. O especialista em endoscopia digestiva e gastroenterologia, Henrique Eloy, explica que a obesidade na infância e adolescência é um assunto extremamente importante, pois, acomete pessoas que estão em um processo de formação de personalidade e desenvolvimento físico. “A obesidade nessa fase prejudica a saúde desses pacientes, não somente na área física, como a psíquica e a vida social. Com causas multifatoriais, a obesidade está sofrendo maior estímulo por parte de características socioculturais e comportamentais da sociedade atual, mas também pode ser causada por fatores genéticos e hereditários”, comenta.

No âmbito sociocultural, a obesidade nas crianças e adolescentes vem sendo impulsionada pelo aumento do consumo de alimentos industrializados – fast-food, comidas ricas em gordura e pobres em nutrientes –, aliado ao sedentarismo. “Com os avanços tecnológicos, as crianças passam mais tempo sentadas usando aparelhos eletrônicos e praticam pouca, ou nenhuma atividade física”, explica.

Já em relação a hereditariedade, Henrique Eloy aponta que vários estudos comprovam que se uma criança tem um pai obeso, ela terá 40% de chance de vir a se tornar um adulto obeso. “Se os dois pais são obesos, essa possibilidade dobra, assim essa criança terá 80% de chance de se tornar um adulto obeso, contra 10% de possibilidade, caso nenhum dos pais forem obesos. Portanto, a carga genética é muito importante para essas crianças. Em um estudo recente divulgado pelo ‘The BMJ’ (Briths Medical Journal) foi revelado que filhos de mulheres que levem um estilo de vida saudável contam com 75% menos probabilidade de serem obesos. Este é um dado muito importante, pois, evidencia que a influência da família na adoção de bons hábitos físicos e alimentares, podem ser essenciais para a prevenção da obesidade infanto-juvenil”, elucida.

Segundo Henrique Eloy, é muito raro encontrar alguma síndrome hereditária que possa explicar uma obesidade acentuada nas crianças, mas quando isso acontece, na maioria dos casos o problema pode ser provocado pela síndrome de Prader- Willi.

De acordo com Henrique Eloy, a obesidade na infância é ainda mais preocupante no que se refere às doenças que podem ser desencadeadas por esta condição. “Crianças obesas podem desenvolver hipertensão arterial, dislipidemia (aumento do colesterol triglicérides), diabetes, apneia, depressão, asma brônquica e problemas osteoarticulares, cardiovasculares, ortopédicos e hepáticos. Entre as meninas, a obesidade pode causar um amadurecimento físico precoce, ocasionando uma puberdade antecipada e ciclos menstruais irregulares”, aponta.

O médico aponta que todas as alterações causadas pela obesidade em crianças podem levar a uma queda da capacidade física destes pacientes, assim como a um declínio em seus rendimentos escolares. “Estes fatores fazem com que essa criança sofra com comportamentos discriminatórios por parte dos colegas de colégio, levando a casos de bullying, que nós tanto conhecemos, e que quando acontecem, podem agravar ainda mais todas essas alterações, principalmente, no âmbito psíquico”, explica.

Henrique Eloy orienta que o tratamento da obesidade em crianças e adolescentes deve ser multidisciplinar, contando com o acompanhamento obrigatório de uma equipe formada por um pediatra, nutricionista pediátrico, endocrinologista, psicólogo, psiquiatra – quando for necessário o uso de algum medicamento –, e até mesmo de um instrutor de esportes. “A principal ferramenta terapêutica é a mudança comportamental de toda a família. Não adianta direcionar o tratamento somente a criança ou adolescente, pois a família inteira tem que se comprometer com esse tratamento”, afirma.

O tratamento medicamentoso e cirúrgico em crianças é totalmente contraindicado, já em adolescentes, a prática deve ser realizada somente em casos excepcionais, com a indicação formal de toda a equipe multidisciplinar. “É de suma importância nestes casos, que antes da realização de uma cirurgia, seja avaliada a maturação óssea destes pacientes, pois caso ela não esteja completa, a operação não pode ser autorizada. Para evitar o uso da cirurgia, os procedimentos endoscópicos – como o Balão intragástrico – pode ser uma indicação eficaz para o tratamento da obesidade em adolescentes”, conclui.

Fonte: EcoDebate
Pesquisa Akatu 2018 traça Panorama do Consumo Consciente no Brasil.

Levantamento do Instituto Akatu revela que estamos no momento de recrutar consumidores em nível iniciante para o caminho do consumo sustentável.

Arte: Ale Kalko


Qual é o nível de consciência e de comportamento dos brasileiros rumo ao consumo consciente? Quais são as barreiras e motivações para as práticas mais sustentáveis? Qual é a percepção e a expectativa do brasileiro em relação à responsabilidade social e ambiental das empresas? Essas foram algumas das questões respondidas pela “Pesquisa Akatu 2018 – Panorama do Consumo Consciente no Brasil: desafios, barreiras e motivações”, lançada no dia 25 de julho no Sesc Consolação, em São Paulo.

A pesquisa está em sua quinta edição e investiga a evolução do grau de consciência dos brasileiros no comportamento de consumo, além de indicar os principais desafios, motivações e barreiras à prática do consumo consciente.

A partir do Teste do Consumo Consciente (TCC), que envolve 13 comportamentos, a pesquisa analisou o quanto algumas atitudes fazem parte da rotina dos entrevistados, além dos hábitos de compras deles. O grau de consciência dos consumidores brasileiros é dividido nos seguintes perfis: indiferente, iniciante, engajado e consciente. São avaliados 13 comportamentos de consumo consciente na pesquisa que servem de base para os resultados relativos à consciência no consumo. A partir deles, considera-se: “indiferentes” aqueles que aderiram a até 4 comportamentos, “iniciantes” de 5 a 7, “engajados” de 8 a 10 e “conscientes” de 11 a 13. Importante ressaltar que estes 13 comportamentos foram escolhidos com base estatística por representarem / se correlacionarem com um número enorme de outros comportamentos e por serem capazes de fazerem a segmentação dos consumidores nesses quatro perfis.

Para fazer a pesquisa, foram entrevistadas 1.090 pessoas, homens e mulheres, com mais de 16 anos, de todas as classes sociais e de 12 capitais e/ou regiões metropolitanas de todo o País, entre 9 de março e 2 de abril deste ano.

Uma das conclusões da pesquisa é que houve um crescimento significativo no segmento do consumidor “iniciante”, de 32%, em 2012, para 38%, em 2018 – o que mostra que o momento é de recrutamento dos consumidores indiferentes para hábitos mais sustentáveis de consumo.

A pesquisa aponta que são 76% os menos conscientes (“indiferentes” e “iniciantes”) em relação ao consumo e que o maior nível de consciência tem viés de idade, de qualificação social e educacional: 24% dos mais conscientes têm mais de 65 anos, 52% são da classe AB e 40% possuem ensino superior.

O segmento de consumidores mais conscientes (“engajados” e “conscientes”) é majoritariamente feminino e mais velho. Já o segmento dos “indiferentes”, o grupo menos consciente de todos, é majoritariamente mais jovem e masculino.

Comportamentos de consumo consciente

Foi feita também uma segunda análise considerando 19 comportamentos indicadores de consumo consciente, adicionando portanto 6 comportamentos à lista inicial. Em uma análise fatorial, os resultados da pesquisa mostraram um gradiente que vai da consciência dentro de casa, onde a adesão é mais forte, até a consciência de alcance público, onde é mais fraca. A consciência em casa, que inclui o comportamento de evitar deixar a lâmpada acesa à toa, por exemplo, é o estágio dos “indiferentes” e “iniciantes”, que estão no estágio “do bolso”, onde a questão financeira ainda é o principal fator a leva-los a aderir a comportamentos conscientes. Já os “engajados” estão no estágio do planejamento, uma vez que suas práticas sustentáveis incluem o planejamento de compra de roupas e de alimentos. Os conscientes, por sua vez, têm comportamentos mais ativos, que vão além da casa, incluindo por exemplo votar em um político que defende temas sociais ou ambientais.

No caminho da sustentabilidade

O brasileiro prefere claramente o caminho da sustentabilidade ao do consumo. Em um conjunto de alternativas oferecidas aos entrevistados em 10 temas distintos, ao expressar os seus dez principais desejos dos brasileiros, estão entre os sete primeiros uma clara expressão de preferência por alternativas que caminham para a sustentabilidade. Enquanto o primeiro lugar é ocupado pelo desejo de “estilo de vida saudável”o segundo lugar indica o desejo pelo “carro próprio” (consumo). Os três itens seguintes indicam preferência por caminhos da sustentabilidade: “água limpa, preservando fontes”, “alimentos saudáveis, frescos e nutritivos” “tempo para pessoas que gosto”.

O aumento da preocupação por uma alimentação saudável e pela água limpa e preservada, apontado na Pesquisa Akatu 2018, provavelmente tem relação com o contexto socioambiental nos últimos anos. “A preocupação com a água, por exemplo, pode ser reflexo da crise hídrica que se propagou em diferentes áreas do país, justificando o desejo pela “água limpa” em terceira posição no ranking”, analisa Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu.

Por outro lado, ter o carro próprio surge como o principal obstáculo na liderança absoluta do caminho da sustentabilidade. Em cada um dos diferentes perfis de consumidor (indiferente, iniciante, engajado e consciente), o desejo por este bem está sempre entre os sete maiores desejos. Quando separado por regiões do país, o Sudeste é o único que apresenta o carro próprio como o primeiro desejo no ranking. 

A pesquisa também aponta que o desejo pelo carro próprio é o primeiro entre as classes C, D e E – justamente as que mais são impactadas pelos problemas do transporte público.

Barreiras e gatilhos para o consumo consciente 

O brasileiro deseja seguir pelo caminho da sustentabilidade, explicitando claramente seu desejo de bem-estar na forma de uma vida saudável. Se assim é, o percentual de consumidores “mais conscientes” não deveria ser muito maior que 24%? Por que não é? Para identificar a resposta a essa pergunta, a Pesquisa Akatu investigou o que as pessoas consideram como obstáculos para práticas de consumo consciente.

A principal barreira para hábitos mais sustentáveis é a necessidade de esforço, contemplando os seguintes itens: “exige muitas mudanças nos hábitos da família”, “exige muitas mudanças nos hábitos”, “custam caro”, “exige mais informação sobre as questões/impactos ambientais e sociais”, “é mais trabalhoso” e “são mais difíceis de encontrar para comprar”. Dentre os que concordam que o esforço é a maior barreira, a percepção de que os produtos sustentáveis são mais caros se destaca.

Quanto aos gatilhos que levariam à adoção de hábitos mais sustentáveis, os consumidores valorizam mais aqueles que impactam o mundo, a sociedade. Por isso, a pesquisa classificou os gatilhos em dois grupos: os emocionais (com benefício para os outros, o mundo, a sociedade) e os concretos (com benefícios para mim). O item mais votado da primeira categoria foi “contribui para um futuro melhor para filhos/netos”, enquanto na segunda categoria foi “traz benefícios à minha saúde”.

O Sudeste foi o mais sensibilizado pelos gatilhos emocionais (96,9%), o Nordeste pelos gatilhos concretos (89,8%) e o Norte e Centro-oeste pelos gatilhos concretos (85%).

De modo geral, o alto preço percebido dos produtos sustentáveis e a falta de informação e indisponibilidade de produtos são questões-chave que representam barreiras para o consumidor brasileiro. “Nota-se que o consumidor quer e precisa saber mais sobre tais produtos, para derrubar barreiras e para acionar gatilhos”, diz Mattar.

Responsabilidade social empresarial

Os consumidores valorizam, segundo a pesquisa, empresas que cuidam mais das pessoas. Entre as oito principais causas que mais mobilizam o consumidor a comprar um produto de determinada marca, cinco estão ligadas ao cuidado com pessoas: atuar no combate ao trabalho infantil; tratar funcionários da mesma forma, independentemente de raça, religião, sexo, identidade de gênero ou orientação sexual; investir em programas de contratação de pessoas com deficiência; contribuir para o bem-estar da comunidade onde está localizada; e oferecer boas condições de trabalho.

Por outro lado, existe uma força maior na desmobilização do que na mobilização, isto é, são mais presentes na população os fatores que diminuiriam muito a disposição de comprar um produto do que os fatores que levariam a aumentar muito ou nem aumentar nem diminuir essa disposição. Assim, provocar problemas de saúde ou ferimentos e denúncia de concorrência desleal são os principais detonadores de reputação dos produtos de uma empresa.

Em tempos de fakenews, a credibilidade da fonte da informação é tão relevante quanto a empresa que divulga suas ações. Segundo a pesquisa, 32% dos brasileiros confiam na informação divulgada pela própria empresa;  31% afirmam que a confiança depende de onde veio a notícia.

Já como posicionamento mais geral, 59% acreditam que as empresas deveriam fazer mais do que está nas leis e trazer mais benefícios para a sociedade.

Clique aqui para acessar a apresentação da Pesquisa Akatu 2018.



Cidades carentes de habitações saudáveis são as mais impactadas por doenças que se alimentam da desigualdade social, como a tuberculose.

Foto: José Cruz / Agência Brasil

Sem moradia, não há saúde


Por Katia Machado – EPSJV/Fiocruz

Ainda que ratificado na Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), da qual o Brasil é signatário, e garantido na Constituição Federal, .o direito à moradia não é uma realidade para a maioria dos brasileiros. Legalmente, ele está definido no artigo da Carta de 1988 que trata dos direitos sociais, junto com a educação, a saúde e a segurança, além de legislações posteriores, com detaque para o Estatuto da Cidade, de 2001.

Mas, segundo a Fundação João Pinheiro, orientada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o déficit habitacional brasileiro subiu para 6,2 milhões de domicílios em 2015, num crescimento de 2% em relação a 2014 e de 5,8% em dois anos. O cálculo considera a soma de habitações precárias, casas compartilhadas por mais de uma família, residências com mais de três moradores em média por cômodo, além das situações em que famílias com rendimento de até três salários mínimos gastam mais de 30% da renda com aluguel.

Esse descompasso, segundo o Censo 2010, realizado a cada dez anos pelo IBGE, levou nesta última década cerca de 11,4 milhões de pessoas às 6.329 favelas brasileiras – ou comunidades, vilas, palafitas, cortiços, grotões e mocambos, como também são conhecidas as habitações precárias, carentes de serviços básicos como saneamento, abastecimento de água potável e infraestrutura em geral.

Quando não traduzido na prática, o direito à moradia tem impacto direto sobre a saúde das populações. A cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, que tem 22% da população residindo em favelas, ocupa também os primeiros lugares no ranking de doenças que se alimentam da pobreza e da vulnerabilidade social, como a tuberculose. Segundo o Ministério da Saúde, o Rio apresentou, em 2017, uma média de 88,5 casos de tuberculose a cada cem mil habitantes, ao lado de Recife, em Pernambuco, com 85,5 casos, perdendo apenas para Manaus, no Amazonas, com quase 105 casos, e superando bastante o coeficiente nacional de 33,5 casos por cem mil habitantes. Foi, também, a segunda capital do Brasil com maior taxa de óbitos por essa doença: 6,2 por cem mil habitantes no ano passado, atrás da capital pernambucana, com 7,7 por cem mil. E, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio, são nas adensadas favelas cariocas – onde as condições de moradia e alimentação das pessoas são ainda piores e a ausência de serviços básicos, como saneamento, é marcante – que a doença atinge taxas recordes: em Manguinhos, território onde está localizada a Fundação Oswaldo Cruz, no ano de 2017, foram registrados 337,4; na vizinha Jacarezinho, 332,9; e na Rocinha, antes conhecida como o maior foco de tuberculose do país, com 455 casos por 100 mil moradores em 2001, foram diagnosticados não muito menos, cerca de 300 casos por 100 mil habitantes. Cidade que acompanha o Rio lado a lado quanto aos números da tuberculose, Recife tem 22,9% da população morando em favelas, reunindo 40% das 1.075 comunidades do estado de Pernambuco. O mesmo é observado quanto à cidade líder do ranking da doença no país: Manaus tem 50 favelas, que abrigam 72.762 domicílios, quase 16% das habitações, o que torna a capital do Amazonas a oitava do país em maior número de habitações em comunidades desse tipo. É em Manaus, também, que está a décima maior favela do Brasil, no bairro Cidade de Deus, com 10.559 domicílios ocupados. Todo este cenário permite, portanto, uma afirmação: moradia adequada é determinante social da saúde.

Dívida social

Pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), Rosely Magalhães esclarece que doenças transmissíveis como a tuberculose são históricas e estão relacionadas diretamente às taxas de contato social, ou seja, ao número de pessoas aglomeradas em domicílios precários, onde a luz é escassa e o ar circula mal. “E são nas favelas onde encontramos as maiores densidades populacionais e as piores situações de moradia”, realça. Trata-se, neste caso, segundo Rosely, de uma doença de transmissão direta, altamente contagiosa, transmitida pelo ar, saliva ou contato com secreções, afetando principalmente os pulmões, mas com raízes sociais profundas, fruto de um processo histórico de desigualdade e iniquidade sociais. “Assim, a aglomeração de pessoas é condicionante importante para a sua difusão”, reforça. Segundo Rosely, estão mais vulneráveis a contrair a doença os indivíduos que, além da situação de aglomeração populacional e fatores que geram baixa resistência orgânica, como o alcoolismo, vivem também em condições precárias de moradia e nutricional. “Eu conheço um pouco da história da ocupação do município do Rio de Janeiro. Quando trabalhei com o professor Victor Valla [o pesquisador da Ensp/Fiocruz faleceu em setembro de 2009, aos 72 anos] na região da Leopoldina (RJ), no início dos anos 1990, entrevistei uma senhora que acreditava que a tuberculose era hereditária, porque seu pai e seu irmão contraíram a doença. Na verdade, hereditárias eram as condições de vida e moradia, sua situação de pobreza e desigualdade social”, denuncia. Ela ressalta que, por afetar especialmente as populações pobres, a incidência da doença normalmente é vinculada à pobreza. Mas a pesquisadora corrige: “Não se trata de uma doença da pobreza. A tuberculose é resultado de uma dívida social importante, da não resolução, principalmente, das questões habitacionais no país”. E recorda outro estudioso do tema, Antônio Rufino Neto, que diz que se trata de uma doença “ficante”. “A tuberculose nunca saiu do seu lugar, porque as condições sociais desiguais nunca deixaram de existir”, sentencia.

Sem teto, sem serviço?

O mesmo observa José Vanilson Torres, que foi morador de rua durante 27 anos e hoje ocupa uma cadeira do Conselho Nacional de Saúde, representando o Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNPR). Essas  populações, garante, que em geral vivem em situação de pobreza e invisibilizadas, são as mais vulneráveis à tuberculose. O frio, a umidade e as dificuldades de acesso aos serviços de saúde são alguns dos fatores que colocam em risco um número considerável de moradores de rua – quase 102 mil pessoas vivem nessa situação no país inteiro, das quais 40,1% em municípios com mais de 900 mil habitantes e 77,02% em cidades com mais de 100 mil pessoas.

Segundo Vanilson, as pessoas em situação de rua, por serem vítimas cotidianas do preconceito e do negligenciamento por parte do Estado, estão mais vulneráveis não apenas à tuberculose, como também a doenças sexualmente transmissíveis (DST), como HIV/aids, à gravidez de alto risco, às doenças crônicas, aos problemas relacionados ao consumo de álcool e drogas e a problemas de saúde bucal. “Apesar da portaria 940/2011, do Ministério da Saúde, que trata do Cartão Nacional de Saúde, e da estratégia Consultório na Rua, criada também em 2011 pelo Ministério da Saúde, por pressão dos movimentos sociais, visando ampliar a atenção às pessoas em situação de rua, esse grupo populacional tem ainda muita dificuldade em acessar os serviços de saúde”, garante Vanilson. A primeira iniciativa, que regulamenta o Sistema Cartão Nacional de Saúde, permite a identificação dos usuários das ações e serviços de saúde, com atribuição de um número único válido em todo o território nacional, sem que, para isso se precise de um endereço fixo como referência no cuidado. Já a estratégia do Consultório na Rua, que busca ampliar o acesso da população em situação de rua aos serviços de saúde, através de equipes multiprofissionais – formadas por enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, médicos, agentes sociais, técnicos e auxiliares em enfermagem e técnicos em saúde bucal –, se organiza como um serviço de atenção à saúde de forma itinerante. “Mas o que observamos é um grande preconceito no atendimento oferecido às populações em situação de rua”, denuncia Vanilson.

Arboviroses

O professor-pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), especialista em saneamento e controle ambiental, Alexandre Pessoa, destaca também outros problemas de saúde relacionados às condições de moradia, como a doença de Chagas e as arboviroses, entre elas dengue, zika vírus, febre chikungunya e febre amarela. “A discussão sobre controle de certas doenças passa pelas condições de moradia e capacidade de a comunidade organizar o seu território. Para isso, se fazem necessárias e urgentes políticas públicas saudáveis”, afirma.

De acordo com o pesquisador, as arboviroses, que vêm se tornando um importante problema de saúde pública mundial, principalmente em regiões tropicais, como o Brasil, recrudescem em virtude das constantes alterações climáticas, dos desmatamentos, do êxodo rural, mas também, principalmente, face às precárias condições das habitações. “A produção de certas doenças está diretamente relacionada às condições de moradia. São doenças que se alimentam da precariedade dos domicílios”, explica. Segundo Pessoa, isso significa ausência de abastecimento contínuo de água, tratamento do esgoto sanitário, coleta de lixo e manejo adequado de resíduos sólidos. E, em casas que não têm abastecimento de água, por exemplo, as pessoas são obrigadas a armazenar água em baldes e outros recipientes, que podem se tornar ambientes propícios à reprodução do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, do zika vírus e da chikungunya. Segundo a Pnad 2015, cerca de 18,7 milhões de domicílios urbanos não contam ainda com pelos menos um dos três serviços básicos de saneamento – conexão à rede de esgoto, coleta de lixo e água encanada –, e os três estados brasileiros com as menores proporções de domicílios urbanos com acesso a esses serviços são Amapá (3,7%), Piauí (11,9%) e Rondônia (13,2%).

Pessoa realça que deste debate sobre a moradia como determinação social da saúde fazem ainda parte os processos de remoções que ocorrem no país, a exemplo dos megaempreendimentos esportivos que geraram diversas realocações da população para áreas mais distantes. “As pessoas não habitam simplesmente um território, elas têm relações de cooperação e de conflito, ou seja, no lugar de sua habitação há um processo de sociabilidade. Portanto, remover uma população de seu território implica impactos sobre a saúde física e mental e sobre o ambiente”, explica, citando também as remoções para a instalação de indústrias e complexos logísticos no litoral brasileiro. Neste caso, afirma o professor da EPSJV/Fiocruz, estão implicados processos de poluição do ar, impactos ambientais, contaminação do solo e das águas, que provocam problemas agudos de saúde. “E quando não expulsas, dando lugar a megaempreendimentos imobiliários, resorts e grandes condomínios, as pessoas são impactadas pela valorização do território e pelo aumento do custo de vida”, acrescenta.

Moradia digna

Bandeira atual de luta do Movimento Nacional da População em Situação de Rua, como também revela Vanilson Torres, a moradia adequada – ou digna – não se resume à disponibilidade de um teto e, portanto, deve incluir uma condição de ocupação estável, sem medo de remoção ou de ameaças indevidas ou inesperadas, bem como acesso a serviços e bens públicos e infraestrutura, a bens ambientais, como terra e água, e a um meio ambiente equilibrado. Segundo a legislação brasileira, entende-se ainda como moradia adequada aquela que é financeiramente acessível – baixo custo ou acessível mediante a concessão de subsídios –, com dimensões minimamente compatíveis, isenta de riscos estruturais, protegida contra o frio, o calor, a chuva, o vento e outras ameaças à saúde, seja em áreas urbanas ou rurais, com acesso a serviços de saúde, escolas, creches e transporte público.  

“Significa ter uma habitação com infraestrutura necessária, que tenha saneamento, infraestrutura, um número adequado de pessoas que nela habitam, sem adensamento excessivo, que dialogue com outras políticas públicas, de transporte, por exemplo”, sublinha Pessoa.

Ele observa que a luta por moradia digna faz parte de um debate sobre a construção das cidades, destacando neste contexto o Estatuto das Cidades (Lei 10.257/2001), que regulamenta o capítulo ‘Política urbana’ da Constituição, cujos princípios básicos são o planejamento participativo e a função social da propriedade. “Tratam-se de prerrogativas de regulamentação e desocupação do solo, fazendo valer a função social da terra, que entende que a terra não pode ficar em desuso para fim único e exclusivo de especulação imobiliária”, explica.

Coordenadora estadual do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) em São Paulo, a infectologista Érika Fontana faz a mesma constatação. Para ela, o déficit habitacional brasileiro, que retira de milhares de pessoas o direito à moradia digna, tem relação com o “jeito como as cidades foram pensadas”. “Esta questão se relaciona com o processo de urbanização brasileiro atabalhoado, sem planejamento, que sempre privilegiou os bens, a economia, uma população com alta renda, em detrimento da grande maioria da população”, observa. Segundo a representante do MTST, hoje no Brasil há mais de sete milhões de imóveis abandonados, entre terrenos e construções, contando as áreas rurais, enquanto o déficit habitacional é de mais de seis milhões de famílias.

Fator que contribui para isso é o alto custo com aluguel. De acordo com Érika, boa parte das famílias brasileiras chegam a gastar 50% ou mais da sua renda mensal com aluguel. “Segundo dados da Pnad 2015, quase 85% das famílias sem moradia ganham até três salários mínimos e são as que mais sofrem com o gasto excessivo com aluguel. Essas famílias precisam decidir todo mês entre pagar o aluguel ou sustentar seus filhos”, revela, acrescentando que esse quadro explicaria a necessidade e legitimidade de ocupações de prédios abandonados, muitos deles em condições precárias de habitação. “Não estamos falando de moradores de rua, estamos falando de trabalhadores e trabalhadoras que têm parte de seu salário comprometido com aluguel, coabitam um mesmo espaço, são expulsos para as periferias dos grandes centros, moram de favor, que passam muitas necessidades”, caracteriza.


Extensão global de manguezais foi reduzida pela metade em 40 anos, alerta UNESCO.

A destruição de manguezais põe em risco a biodiversidade e a produção de alimentos em zonas costeiras.

ONU
Formação de mangue em Cuba. Foto: Flickr (CC)/Anusa Kreft


Em mensagem para o Dia Internacional de Conservação do Ecossistema de Mangues, lembrado em 26 de julho, a diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, alerta que manguezais estão ameaçados, sobretudo por conta do desenvolvimento das zonas costeiras. “Estima-se que, em 40 anos, a cobertura global de mangues foi reduzida pela metade”, afirmou a chefe da agência da ONU. Destruição ambiental põe em risco a biodiversidade e o ser humano.

“Os mangues constituem uma proteção contra tempestades, tsunamis e o aumento do nível do mar. 

Eles impedem a erosão da costa, regulam a qualidade da água costeira, mantêm áreas de pesca e contribuem para melhorar a segurança alimentar de muitas comunidades costeiras”, ressaltou a dirigente.

Audrey disse ainda que esses ecossistemas “também fornecem um habitat para espécies marinhas em perigo”. “Além disso, seus mecanismos naturais para armazenar o carbono da atmosfera, conhecidos como ‘estoques de carbono azul’, que realizam o sequestro de carbono e auxiliam a mitigar os efeitos dos distúrbios climáticos ao longo das costas”, completou a chefe da UNESCO.

Algumas das reservas da biosfera e geoparques da agência da ONU contam com mangues em seus territórios. Nessas localidades, o organismo internacional trabalha para acumular conhecimento sobre essas formações naturais, além de melhorar sua gestão e preservação. A UNESCO também visa criar estratégias para promover o desenvolvimento sustentável de tribos indígenas instaladas nesses ecossistemas.

Outra frente de atuação da instituição é a Iniciativa Carbono Azul, que tem a participação da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO. Realizado em conjunto com a ONG Conservation International e a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), o projeto busca combater as mudanças climáticas, protegendo e recuperando ecossistemas marinhos. Um dos focos do programa são os mangues, pântanos-de-maré e os prados marinhos.

Em 2018, o Equador sedia as comemorações globais da data em prol da proteção dos mangues, que estão presentes na Reserva da Biosfera do Arquipélago de Colón, em Galápagos. Audrey convidou a comunidade internacional a se inspirar no país latino-americano e a “renovar os nossos esforços para apoiar a preservação de um ecossistema que é essencial para o nosso planeta e para seus habitantes”.

Fonte: UNESCO

quinta-feira, 26 de julho de 2018


Líder 2030 Talks – Gente que faz a sustentabilidade no dia a dia.


Por Reinaldo Canto, da Envolverde, especial para a Plataforma Liderança Sustentável* – 

Em duas décadas, a Consultoria Ideia Sustentável, criadora da Plataforma Liderança Sustentável, tem buscado o protagonismo de pessoas que trabalham pelo desenvolvimento sustentável nas organizações.  Prova disso são os quatro milhões de pessoas que já assistiram aos cerca de 120 vídeos educacionais e mais de 500 eventos desenvolvidos pela Plataforma. Portanto, nada mais natural, que o encontro realizado no auditório da Fundação Getúlio Vargas na sexta-feira, 29 de junho tenha destacado o papel da área de Recursos Humanos. Afinal, são as pessoas que transformam a realidade e trabalham pela sustentabilidade nas empresas. É muito difícil falar de desenvolvimento sustentável sem o foco no desenvolvimento das pessoas.

Ricardo Voltolini, principal executivo, idealizador da Plataforma e também diretor de sustentabilidade da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), disse que apesar de parecer óbvio, essa relação entre RH e Sustentabilidade nem sempre é bem compreendida. Chegar nas 10 palestras apresentadas no encontro foi um desafio. “Muitas empresas disseram que não tinham cases para indicar”, explicou Voltolini.  Segundo ele, inicialmente foram reunidos 80 cases, depois por falta de evidências esse número foi reduzido para 30 apenas. ”Não dá para considerar um projeto de sustentabilidade uma palestra realizada há nove anos para seis pessoas”, ironizou.

O certo é que os esforços foram recompensados, pois os cases selecionados trouxeram experiências reveladoras e inspiradoras em que recursos humanos exercem verdadeiramente a liderança em projetos sustentáveis e não apenas o de mero executor.  Além, é claro, de mostrar o quanto o envolvimento do RH é determinante para o sucesso em ações de sustentabilidade.

Área fundamental nos projetos de Sustentabilidade

O RH pode e deve ser o grande fiador em projetos como os que envolvem a redução de desperdícios, contribuindo para o aprofundamento das discussões e dividindo experiências com seus colaboradores.

É preciso a participação de todos para atingir esses objetivos e a área de recursos humanos possui as ferramentas para direcionar os diversos setores da empresa no mesmo caminho. Um bom exemplo é a criação de uma estrutura de comitês que discutem as prioridades em sustentabilidade em cada área da empresa levando em conta as suas especificidades.
Conscientização

Conseguir o engajamento dos colaboradores por meio do conhecimento dos impactos ligados ao negócio da empresa, mas também que trazem consequências para a sociedade como um todo, foi destacado em diversos cases pela capacidade que tem de conscientizar para os enormes desafios ligados a temas como escassez hídrica, mudanças climáticas e esgotamento de recursos naturais.

Capacitar multiplicadores para envolver, inclusive, as famílias nesse esforço tem resultado no compartilhamento de experiências e conhecimentos, alcançando benefícios que vão além da empresa e atingem positivamente as comunidades.

Rodas de conversa com colaboradores e pessoas da comunidade, além de ações de voluntariado em organizações com atuação local, exercem papel importante no processo de humanização e encaminhamento para a solução de problemas comuns a todos.

DNA Sustentável

É comum, mas nem sempre verdadeiro, dizer que as empresas possuem a sustentabilidade em seu DNA. Mas raras são aquelas que podem provar isso e que, diante de crises, enxergam a sustentabilidade como custo dispensável e jogam por terra projetos no setor.

Existem maneiras de provar o contrário, ou seja, um real compromisso com o desenvolvimento sustentável.  Conforme apresentado por algumas empresas no Líder 2030 Talks, uma delas é a remuneração variável de seus executivos que levem em conta metas sustentáveis monitoradas pela área de recursos humanos.

A troca de experiências, os bons resultados e a emoção dos executivos de RH das empresas apresentadas no Líder 2030 Talks, já seriam suficientes para contagiar e engajar a maioria dos mais de 300 profissionais para a sustentabilidade presentes, mas o evento ainda foi palco para o lançamento do Guia RH e Sustentabilidade: 10 Desafios,com dicas importantes para uma gestão sustentável e fortemente alicerçado nos princípios do triple bottom line que levam em conta os impactos sociais, ambientais e, claro os resultados financeiros da empresa.

Idealizado pela consultoria Ideia Sustentável e a ABRH Brasil, o guia é assinado por Ricardo Voltolini e destaca os valores da sustentabilidade que devem ser levados em conta na hora de contratar um profissional e fornece ótimas dicas sobre como ampliar à atuação e o engajamento da empresa e de seus profissionais na adoção de políticas sustentáveis.

Tendo como premissas básicas a consciência, a responsabilidade e o cuidado, o Guia destaca o fator humano como preponderante para se alcançar resultados que extrapolam os negócios e chegam à própria sociedade que recebe de maneira abrangente os benefícios da atividade empresarial.

Tudo foi realizado para que não sobrem dúvidas quanto à importância dos recursos humanos para o sucesso dos negócios, a realização pessoal e o futuro do planeta.

*Série de artigos produzidos por jornalistas especializados nos diversos campos da sustentabilidade, coordenada pelo editor Dal Marcondes, em uma parceria entre a Envolverde e a Plataforma Liderança Sustentável.


Fonte: ENVOLVERDE

Líder 2030 Talks – A revolução ‘passa pelo RH’.

Por Ana Carolina Amaral, da Envolverde, especial para a Plataforma Ideia Sustentável* – 

Mudanças em gigantes como Itaú, Coca-Cola e Duratex miram na fidelidade do funcionário

Sobreviver às transformações do século XXI, complexas e cada vez mais velozes, tem exigido uma profunda revisão nos valores e práticas empresariais. Mas o real nível de abertura à inovação só começa a se mostrar quando o espírito de mudança sai do departamento de marketing e passa no RH. Na sexta-feira (29\06), diretores de Recursos Humanos de quase uma dezena de grandes empresas compartilharam suas experiências no Lider 2030 Talks, promovido pela Ideia Sustentável em São Paulo. Dentre elas, as experiências de Itaú, Coca-Cola e Duratex indicam caminhos concretos para uma gestão inovadora e adaptada aos valores das novas gerações.

“Onde vai parar essa juventude?”

Desde que a geração Y (nascidos nos anos 80 e início dos 90) começou a entrar no mercado de trabalho, tem sido comum ouvir empresas reclamarem de uma juventude “pouco comprometida”: troca de emprego em pouco tempo, não se prende por planos de carreira e não vê problemas em questionar seus chefes, trazendo preocupações outras do que o salário. Criados em um cenário de mais estabilidade econômica que seus pais, a geração Y exige mais dos seus empregos, como senso de propósito e de alguma contribuição para o mundo.

O grupo Itaú Unibanco parece ter captado a mensagem. Para muito além da abolição do código de vestimenta – o banco trocou o dress code pelo “vou como sou”; o RH tem emprestado da gestão de clientes o cuidado com a fidelidade, só que do funcionário. “Assim como olhamos para a jornada do cliente; agora pensamos na jornada do colaborador conosco”, compara a VP de Recursos Humanos do banco, Claudia Politanski. “Só quem se identifica com nossos valores fica na empresa no longo prazo”, conclui.

Ainda no paralelo entre cliente e colaborador, a diversidade na composição dos quadros passou a ser considerada no nível estratégico. “Temos 70 milhões de clientes. Dá para imaginar um público mais diverso? Então, precisamos de diversidade para nossos colaboradores interagirem com nossos clientes de maneira verdadeira, lidar com vieses inconscientes, preconceitos, etc. Isso traz benefícios para clientes e melhor qualidade de interação e experiência”, defende Claudia.

No entanto, não é nada simples abraçar a diversidade e investir em relações de longo prazo com os colaboradores; o compromisso exige mudanças estruturais. “As nossas áreas de RH têm quase que se reinventar”, admite a gestora. “Temos que abandonar modelos tradicionais, como estruturas rígidas de comando e controle e buscar modelos de relacionamento em rede, mais horizontais e colaborativos, baseados em relacionamentos”. Claudia conta que o banco está experimentando o trabalho baseado em comunidades, com grupos formados por várias áreas – “é mais ágil”. Para que sejam levadas a sério, as inovações vêm acompanhadas de novas métricas de avaliação. “[Nas comunidades] a performance passa a ser medida por resultados coletivos e não individuais”, revela.

Por falar em novos critérios

“Quer ser CEO? Vai ter que aprender de verdade o que é esse tema [da sustentabilidade]”. A nova regra da Coca-Cola foi implantada pela presidência em 2015, conta a diretora sênior de sustentabilidade da empresa, Andrea Mota. A decisão partiu da pergunta “como a gente faz para isso [a sustentabilidade] deixar de ser um valor, o orgulho da empresa, e passe a ser o projeto? ” Ela revela que os “treinamentos, comitês multifuncionais, critérios de inovação baseados na sustentabilidade, vivências e trabalho voluntário geravam engajamento e orgulho, mas as pessoas voltavam ao trabalho e a sustentabilidade continuava sendo de cinco pessoas”.  A partir dessa percepção, veio a decisão de condicionar a ascensão na empresa à experiência na diretoria de sustentabilidade.

“É ousado, não é fácil”, admite Andrea. “Nosso VP [de sustentabilidade] veio de operações, tem vendas na veia, teve dificuldades e agora está arrasando. A que era da sustentabilidade, Claudia Lorenzo, agora é de negócios, uma das áreas mais estratégicas da empresa. A pessoa vem, fica de dois a três anos, a gente instala o ‘chip da sustentabilidade’ e ela vai para outras áreas estratégicas”, descreve.

O fiador da mudança

Desde que resolveu mudar a cultura da companhia, em 2015, a Duratex colocou a mudança da percepção sobre sustentabilidade entre suas metas para os próximos dez anos. O conceito deveria passar a ser encarado como “drive de resultado, que ajuda a agregar valor para o acionista e eliminar custos de desperdício”, segundo definição de Luciana Alvarez, gerente de sustentabilidade e comunicação da empresa. Para ela, “o RH é o fiador do processo; o garantidor da sua perenidade”.

Luciana conta que o engajamento dos colaboradores começou com rodas de conversa nas 22 unidades industriais e florestais da empresa pelo país. “A partir de fotos, fazíamos as conexões com questões da empresa e atitudes diárias; um funcionário, por exemplo, pegou uma foto de uma enchente e identificou que ela tinha acontecido na sua rua; daí fizemos a conexão com as mudanças do clima”, ela narra, apontando resultados. “90% [dos colaboradores] começava falando que sustentabilidade era coleta seletiva. Ao final de uma hora e meia de roda, admitiam uma visão sistêmica, com questões sociais e ambientais”. Após os diálogos, uma pesquisa de retenção de conteúdo entre os colaboradores apontou: o orgulho de pertencer à empresa estava ligado à sua estratégia de sustentabilidade.

*Série de artigos produzidos por jornalistas especializados nos diversos campos da sustentabilidade, coordenada pelo editor Dal Marcondes, em uma parceria entre a Envolverde e a Plataforma Liderança Sustentável.


Fonte: ENVOLVERDE

Líder 2030 Talks – Caminhos para que RH ajude na incorporação da sustentabilidade.

Por Caroline Ligório, da Envolverde, especial para a Plataforma Liderança Sustentável* – 

No Líder 2030 Talks, promovido pela Plataforma Liderança Sustentável, empresas apontaram caminhos para que a área de recursos humanos das companhias ajude na construção de cultura de sustentabilidade. De forma unânime, comunicação, educação, treinamento e voluntariado são apostas para que tenham êxito nessa empreitada.

Nespresso – A empresa assinou, em 2014, o compromisso The Positive Cup, cujo objetivo é que cada xícara de café gere um impacto positivo tanto na sociedade quanto no meio ambiente que permeia o processo produtivo. O compromisso com a sustentabilidade tem quatro pilares: café, alumínio, clima e companhia. Em relação ao café, a empresa tem na sua estratégia o treinamento dos agrônomos que prestam consultoria para os produtores de café para que a colheita seja sustentável.

O pilar companhia tem foco nos colaboradores, tanto na construção de um ambiente seguro de trabalho, como também na missão de engajá-los para que possam vivenciar na prática os valores de sustentabilidade. O trabalho de comunicação interna e os treinamentos buscam atingir os 600 funcionários. Na primeira semana de integração, um dia é voltado exclusivamente para o conhecimento teórico sobre o The Positive Cup e a visita ao centro de reciclagem.

Com 70% dos funcionários atuando em contato direto com os clientes nas lojas, a empresa identificou multiplicadores que recebem um investimento maior de conhecimento e visitam o campo para conhecer como é o programa. Essa experiência é posteriormente compartilhada com os demais colaboradores. O engajamento e conhecimento são perpetuados por meio de um relacionamento em rede, no qual todos são agentes ativos para que a sustentabilidade seja incorporada ao negócio da empresa.

Vale – Investir no treinamento e educação é também o caminho que a Vale segue. A Valer, universidade corporativa da empresa, tem o compromisso com a educação e formação de pessoas para geração de emprego e renda nas comunidades onde a empresa atua. O Programa de Formação Profissional oferece educação, em parceria com universidades e escolas técnicas, para que trainees  possam ser admitidos nas operações. Em 2017, foram 900 trainees admitidos na Vale. O Programa de Especialização Profissional implementa formações em engenharia portuária, engenharia ambiental e engenharia de minas.

O trabalho junto à liderança ocorreu em 2003 no Fórum de Liderança Empreendedora, o qual permitiu a construção de gestão e liderança da companhia. Em contato com antropólogos, sociólogos e empreendedores sociais, a liderança foi formada para lidar com a diversidade no dia a dia.

Ambev – Para que seus colaboradores percebessem a sustentabilidade como centro do negócio e nas atividades executada na jornada de trabalho, a Ambev optou por três frentes de atuação. A comunicação interna sistêmica passou a dar visibilidade para ações que já eram realizadas, como redução do consumo de água na cervejaria, reciclagem, voluntariado e  adoção de bacias hidrográficas. Ainda com o foco na comunicação, a reconstrução da agenda de integração da companhia coloca o funcionário desde o primeiro dia em contato com a pauta de sustentabilidade.

A segunda frente relaciona-se com os processos internos. A empresa, pautada em resultados, metas e objetivos, atribuiu ao RH, o qual tem o papel de defini-los, a integração da temática nas metas para todos os níveis da companhia. A terceira frente canaliza a atividade do time para ações com impacto social positivo.  O Programa Voa, lançado em 2018, é resultado da ação do voluntariado dos funcionários de compartilhar, na plataforma, as ferramentas de gestão da empresa com ONGs espalhadas pelo Brasil, para ampliar o escopo de atuação da ONG e o impacto positivo que elas têm na sociedade, garantindo que o projeto seja perene.

Coca-Cola – Com o propósito de englobar o todo e fazer com que sustentabilidade não fosse apenas admirada pelos colaboradores, mas um projeto da empresa, a Coca-Cola, por meio de treinamentos, comitês multifuncionais, trabalhos voluntários e critérios de sustentabilidade para a inovação, incorporou a temática aos negócios. Em 2015, o presidente da Coca-Cola do Brasil apontou, como passo significativo do processo, o conhecimento aprofundado do negócio. Dessa forma, para ser um funcionário de destaque na empresa e uma liderança, tornou-se uma exigência o conhecimento sobre sustentabilidade.

Pessoas de diversas áreas passam a trabalhar por cerca de dois a três anos com a equipe voltada exclusivamente para a temática constituída por cinco funcionários, absorvem esse conhecimento e voltam para suas áreas com um olhar mais cuidadoso e capaz de identificar o impacto e o valor das decisões.

Braskem – Desde o seu surgimento em 2002 a  Braskem, por meio do lançamento do Manifesto público, comprometeu-se em se firmar no mercado de forma sustentável. Em 2014, os integrantes foram convidados a pensar sobre a nova crença e propósito da empresa. A capacitação em sustentabilidade abrange 100% dos funcionários e o trabalho de voluntariado, em seu segundo ano, expressa resultados positivos em relação à adesão, saltando de 4% para 10%.

Os caminhos adotados por cada empresa são diversos e refletem a realidade e o impacto enfrentados por cada uma. Porém, através do compartilhamento de informações e conhecimento como os cases apresentados no evento Líder 2030 Talks, pode-se levar adiante um trabalho que vem sendo feito para engajar todos os níveis colaborativos das empresas.

Sustentabilidade corporativa, uma mudança cultural

Duratex – A empresa iniciou esse processo em 2015, por meio da estratégia Duratex 2025. Antonio Joaquim, CEO da companhia, explica o papel do RH. “Isso não poderia ser feito sem o RH, o garantidor da perenidade. Afinal mudar a cultura de sustentabilidade não é algo estanque, como uma campanha de comunicação, é uma mudança de um processo”.

O primeiro passo foi realizar rodas de diálogos com os colaboradores para abordar a sustentabilidade. Diante de fotos que tratavam de temas mundiais como mudança do clima, direitos humanos e escassez de recursos naturais, os colaboradores refletiam sobre como suas atitudes diárias impactavam positiva ou negativamente o ambiente. Após o lançamento da estratégia Duratex 2025, um jogo lúdico formou mais de 400 líderes para que pudessem disseminá-lo para os colaboradores.

Novelis – Assim como a Duratex, a Novelis em 2015 percebeu a necessidade da transformação cultural. “Cultura é a maneira como as pessoas pensam e agem dentro da empresa. Para fortalecer essa cultura você precisa criar experiências fortes. Experiências nos levam às crenças, que nos levam às nossas ações, que nos levam aos resultados”. Para Glaucia Teixeira, VP de RH da Novelis, essa experiência foi permitida pela cultura de se portar como dono do negócio.

Portanto, elaborou-se uma estratégia seguida mundialmente com 5 focos: segurança, qualidade, foco do cliente, excelência operacional e retorno sobre o capital empregado. Com a estratégia definida, 150 líderes globais definiram as crenças culturais que permitiriam que essa estratégia fosse alcançada, tendo como base os princípios: faça o certo, fale abertamente, atue como dono, tenha foco e vença com o time. Com a estratégia e os meios para alcançá-la definidos, seguiu-se a elaboração do propósito. A contribuição de mais de 400 funcionários levou à questão da sustentabilidade e assim estabeleceu-se o propósito: Juntos, criamos um mundo sustentável.

Algar – A participação coletiva e o engajamento de todos é o que busca fazer o RH como ator principal da temática. A Algar Telecom, como primeira medida, implementou recursos em prol da sustentabilidade e entendeu que a temática não é uma missão apenas de uma assessoria, mas de toda a empresa. O comitê, criado com 49 integrantes de diversas áreas, se reúne periodicamente a cada dois meses e discute as principais metas, objetivos e prioridades de sustentabilidade.

O treinamento customizado, levando em consideração as especificidades de cada área e os impactos sociais e ambientais diferentes gerados, dissemina e engaja os outros colaboradores da organização. O engajamento dos líderes se dá por meio da remuneração variável semestral, a qual tem objetivos ligados ao tema. “Tente transformar os resultados de sustentabilidade na linguagem corporativa que todos estão habituados, tente transformar os resultados monetariamente”. Para Cristiana Heluy, Head de Sustentabilidade e Comunicação da Algar Telecom, esse é um passo importante nessa transformação para uma cultura sustentável.

Itaú-Unbanco – A aposta do Itaú Unibanco é enaltecer o propósito e a experiência dos colaboradores. Segundo Claudia Politanski, VP de RH do Itaú Unibanco, o propósito do banco é estimular o poder de transformação das pessoas. “Somos gente que move gente. O mundo de hoje mostra que precisamos que os nossos colaboradores tenham experiências diferentes, especiais e com muito significado.”

O relacionamento com os clientes motivou a mudança no relacionamento com os colaboradores. Deixou-se de ter uma visão sob a lógica de produto de RH, para se pensar na jornada de cada um. 

Consequentemente, essa mudança refletiu na forma de medição dos resultados. A qualidade da venda e interação do colaborador com o cliente tem prioridade em detrimento do volume de vendas.

Diante de mais 70 milhões de clientes, um público muito diverso, a diversidade se mostrou como um grande desafio para a empresa. O Itaú-Unibanco percebeu a relevância de colaboradores diversos para que possam se conectar com os clientes de uma forma verdadeira. Realizaram uma série de ações internas e externas, firmaram compromissos públicos e mobilizaram a liderança em prol do tema. Para incentivar o empreendedorismo de suas equipes, essas deixarão de ser fixas e o trabalho passará a ser feito em comunidade, de modo mais ágil e com mais abertura para autonomia e colaboração.

Na opinião de Claudia Politanski, a mudança cultural da empresa determina sua perenidade. “A gente tem o desafio de permanecer na escolha das pessoas. São as pessoas que escolhem vir trabalhar conosco, são as pessoas que escolhem fazer negócios conosco. O desafio de fazer com que a escolha dessas pessoas seja a nossa empresa é o que vai possibilitar que a gente continue a existir e ter um papel relevante na sociedade.”

*Série de artigos produzidos por jornalistas especializados nos diversos campos da sustentabilidade, coordenada pelo editor Dal Marcondes, em uma parceria entre a Envolverde e a Plataforma Liderança Sustentável.


Fonte: ENVOLVERDE

Entidade inédita usa ODS e cobra Estado brasileiro em crimes contra a mulher.

Estado brasileiro está entre os maiores incentivadores da violência de gênero e entidade inédita cobrará eficiência das esferas envolvidas em crimes contra a mulher. Ação é baseada nas ODS da ONU.

O combate a violência contra a mulher ganhou um forte aliado, a Organização da Sociedade Civil (OSC) MULHER SEM MEDO. O projeto, inédito no país, é ligado ao Conselho da Mulher Empreendedora (CME) e tem por finalidade fiscalizar e pressionar as esferas públicas do Estado a fiscalizar e punir agressores. Para a presidente do MULHER SEM MEDO, a economista e empresária Janaína Dias, a omissão e negligência do Estado brasileiro são os principais aliados dos agressores das mulheres.

“Apenas 5% dos processos de crimes contra a mulher estão em trâmite na Justiça e apenas 1% dos estupradores estão presos. Vamos cobrar que a polícia, Ministério Público e a Justiça tenham uma maior eficácia e rigor nestes casos. Hoje temos um Estado que está privilegiando o agressor e a impunidade “, salientou a presidente da entidade.

O Brasil tem cerca de 1,5 milhão de processos desta natureza de acordo com o Departamento de Pesquisas Judiciárias.
Janaína Dias, presidente da entidade, economista e empresária. “O Estado negligente e moroso se torna o grande aliado dos agressores”.

Segundo Janaína Dias, o projeto MULHER SEM MEDO segue a Agenda 2030 das Nações Unidas, da qual o Brasil é signatário. E se concentra em três dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), a ODS 5 Igualdade de Gênero, a ODS 16 Paz, Justiça e Instituições Eficazes e a ODS 17 Parcerias e Meios de Implementação.

O projeto MULHER SEM MEDO está sediado em São José dos Campos e inicialmente atuará no Vale do Paraíba e no Alto Tietê. A entidade está em contato com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)- SP e outras entidades que possam se unir às ações.

No município de Ferraz de Vasconcelos, na região do Alto Tietê, o MULHER SEM MEDO entrará com petições no MP e na prefeitura local cobrando investigações e posicionamentos públicos sobre dois advogados e procuradores do município, que juntos tem uma série de Boletins de Ocorrência registrados na Polícia Civil por crimes que vão desde ameaças, importunação ofensiva ao pudor, abuso sexual e agressão. Quase a totalidade dos abusos ocorreram dentro da sede da prefeitura.

Segundo o diretor jurídico do projeto, o advogado Fabrício Grellet, o prefeito de Ferraz está sujeito a perder o cargo caso não tome providências e dê satisfações públicas sobre o comportamento desses dois servidores. A imprensa da região noticiou que os procuradores Gabriel Nascimento de Oliveira e Marcus Vinicius Matos Lopes estão sendo alvo de uma ação da Corregedoria Pública, no entanto os crimes de gênero foram ignorados. “Esse é um caso tão gritante de abuso do próprio Estado e de acobertamento de possíveis ações criminosas contra mulheres que tomamos isso como emblemático e iniciamos as atividades por Ferraz de Vasconcelos”, comentou o diretor.

As denúncias podem ser feitas no site da entidade, o www.mulhersemmedo.com.br. De acordo com a direção do projeto, a pessoa também pode enviar seu relato pelo facebook Mulher Sem Medo. O objetivo é que esse modelo de cobrança ao Estado seja disseminado por várias regiões do país.


Fonte: ENVOLVERDE

Sítios com espécies sob risco terão políticas de conservação.

Os Sítios da Aliança Brasileira para Extinção Zero, chamados de Sítios BAZE (sigla em inglês), foram reconhecidos pela Portaria nº 287, do Ministério do Meio Ambiente (MMA). O dispositivo reconhece as áreas que abrigam os últimos refúgios de espécies ameaçadas de extinção, nas categorias “em perigo” ou “criticamente em perigo”, e cuja distribuição geográfica seja restrita a um ou poucos locais muito próximos entre si.

O objetivo é auxiliar no direcionamento de políticas públicas e esforços de conservação para essas áreas, frente ao risco iminente de extinção das espécies. O próximo passo será a publicação do mapa de Sítios BAZE, atualizado em 2017 a partir da Lista Oficial de Espécies da Fauna e Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção. Entre elas, está o entufado baiano (Merulaxis stresemanni), classificado como criticamente em perigo.

A Portaria internaliza essa estratégia de conservação na legislação do país e fortalece, assim, a Aliança Brasileira para Extinção Zero, iniciada em 2006 e inspirada em uma iniciativa global criada seis anos antes, a Aliança para Extinção Zero (AZE). A AZE reúne instituições que identificam e protegem os últimos refúgios de espécies ameaçadas e subsidia o estabelecimento de estratégias e políticas de conservação da biodiversidade em diversos países.

A iniciativa contribui para o alcance das Metas de Aichi da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), em especial as de número 11, voltada para a conservação de áreas de particular importância para a biodiversidade, e de número 12, com foco em evitar a extinção de espécies. Essas metas foram definidas em nível global, no âmbito da CDB, e devem ser atingidas até 2020.

O Brasil também tem conduzido discussão com outros países megadiversos, em busca do reconhecimento dos esforços da Aliança para Extinção Zero como ferramenta para acelerar o cumprimento das Metas de Aichi. No início do mês, em Montreal, a delegação brasileira conseguiu que a iniciativa fosse incluída na recomendação que será apreciada pelas nações signatárias da CDB na próxima Conferência das Partes, a COP 14, que ocorrerá em novembro, no Egito.

Fonte: MMA

segunda-feira, 23 de julho de 2018


Human Rights Watch: Relatório documenta intoxicações por agrotóxicos em Zonas Rurais.

Human Rights Watch

Moradores de zonas rurais no Brasil estão sofrendo intoxicações decorrentes da pulverização de agrotóxicos nas proximidades de suas casas, escolas e locais de trabalho, disse a Human Rights Watch em um relatório publicado hoje. Muitos membros de comunidades rurais temem sofrer represálias de grandes proprietários de terra com poder político e econômico caso denunciem as intoxicações ou defendam leis e regulamentações mais protetivas ao uso de agrotóxicos.

O relatório de 52 páginas, “Você não quer mais respirar veneno,” documenta casos de intoxicação aguda causada pela deriva de agrotóxicos em sete localidades em zonas rurais no Brasil, incluindo comunidades rurais,  indígenas, quilombolas e escolas rurais. A exposição das pessoas aos agrotóxicos acontece quando estes são pulverizados em plantações e se dispersam durante a aplicação ou quando evaporam e seguem para áreas adjacentes nos dias após a pulverização.

“Agrotóxicos pulverizados em grandes plantações intoxicam crianças em salas de aula e outras pessoas em seus quintais em zonas rurais espalhadas por todo Brasil,” afirmou Richard Pearshouse, diretor-adjunto da divisão de meio ambiente e direitos humanos da Human Rights Watch e autor do relatório. “As autoridades brasileiras devem acabar com a exposição tóxica aos agrotóxicos e garantir a segurança daqueles que denunciam ou se opõem aos danos causados pelos agrotóxicos às famílias e comunidades.”

A Human Rights Watch constatou que muitas pessoas em comunidades rurais expostas aos agrotóxicos temem sofrer represálias de grandes proprietários de terra. Em cinco dos sete locais visitados pela Human Rights Watch, membros das comunidades rurais afetadas afirmaram que receberam ameaças ou que temiam sofrer retaliações caso denunciassem a deriva de agrotóxicos que acreditavam ter causado suas intoxicações. Em 2010, um agricultor rural e ativista contra o uso de agrotóxicos foi morto a tiros após pressionar o governo local a proibir a pulverização aérea naquele ano.

Proprietários de grandes plantações frequentemente desrespeitam um regulamento nacional que estabelece uma “zona de segurança”, proibindo a pulverização aérea de agrotóxicos próxima a áreas habitadas. Não existe uma regulamentação nacional similar que estabeleça “zonas de segurança” para a pulverização terrestre. Dados oficiais sobre intoxicações causadas por agrotóxicos subestimam a gravidade do problema. O sistema governamental de monitoramento de resíduos de agrotóxicos em alimentos e água potável também é frágil.
20 julho 2018Report

“Você não quer mais respirar veneno”

As falhas do Brasil na proteção de comunidades rurais expostas à dispersão de agrotóxicos
Em casos de intoxicação aguda causada por agrotóxicos, os sintomas apresentados geralmente incluem vômitos, náusea, dor de cabeça e tontura durante ou imediatamente após a pulverização nas proximidades. A exposição crônica a agrotóxicos, mesmo em doses baixas, é associada à infertilidade, a impactos negativos no desenvolvimento fetal, ao câncer e a outras consequências graves à saúde. Mulheres grávidas, crianças e outras pessoas vulneráveis aos agrotóxicos podem enfrentar riscos maiores.

“Tive uma dor de cabeça forte, dor de barriga e a sensação de que ia vomitar,” disse uma garota de 10 anos que frequenta uma escola no município de Cascavel, no estado do Paraná. “[A professora] falou, ‘Vamos sair da sala porque o cheiro está muito ruim.’ Fomos para casa mais cedo. Cheguei em casa com enjoo, me sentindo mal, com uma forte dor de cabeça. Eu vomitei em casa duas vezes.”

O Brasil não deveria permitir a pulverização de agrotóxicos feita por aviões sobre as residências das pessoas ou por tratores próxima a janelas de salas de aula, disse a Human Rights Watch. Como medida de urgência, o Brasil deveria impor uma suspensão à pulverização aérea e criar zonas de segurança para a pulverização terrestre nas proximidades de locais sensíveis.

Nos próximos meses, o Congresso Nacional deve considerar um projeto de lei que enfraqueceria ainda mais a estrutura regulatória do país sobre agrotóxicos. Uma comissão parlamentar especial aprovou o projeto de lei em junho de 2018, e este precisa ser votado na Câmara dos Deputados antes de seguir para o Senado.

Entre suas muitas propostas, o projeto de lei propõe reduzir substancialmente o papel dos Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente, que são justamente os órgãos especializados nos impactos causados pelo uso de agrotóxicos. O projeto de lei também propõe a substituição do termo legal agrotóxicos por produtos fitossanitários, mascararando os perigos dos agrotóxicos à saúde e ao meio ambiente.

O Brasil é um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo: as vendas anuais no país giram em torno de 10 bilhões de dólares. A imensa quantidade de agrotóxicos no Brasil é resultado da expansão da agricultura de monocultura em grande escala. Cerca de 80 por cento dos agrotóxicos são usados em plantações de soja, milho, algodão e cana-de-açúcar. Muitos dos agrotóxicos utilizados no Brasil são altamente perigosos à saúde humana. Dentre os 10 agrotóxicos mais usados no Brasil no ano de 2016, quatro não são autorizados para uso na Europa, o que evidencia quão perigosos eles são para outros governos.

“Em vez de enfraquecer ainda mais as leis existentes, o Brasil precisa de regulamentações mais rígidas e de um plano de ação nacional para diminuir o uso de agrotóxicos,” disse Pearshouse. “O Congresso deveria rejeitar o PL 6.299/2002e pressionar os ministérios competentes para que elaborem um estudo detalhado e imediato sobre os impactos à saúde e ao meio ambiente do atual tratamento dispensado aos agrotóxicos.”

Depoimentos selecionados:

“Eu me senti mal, com enjoo e dor de cabeça. Eu vomitei muito, depois que comecei eu não conseguia parar. Eu tive que ligar para o meu marido pedindo ajuda. Estou grávida e minha principal preocupação era com meu filho, eu estava preocupada que isso pudesse afetar sua saúde.” – Eduarda, uma mulher grávida de 20 e poucos anos, moradora de uma comunidade rural a algumas horas de carro da cidade de Santarém, no estado do Pará.

“O avião estava jogando do lado da escola e o vento trazia para a escola. Não dava para sentir o cheiro, mas dava para sentir a nebline, o vapor [de agrotóxicos] entrando pela janela. As crianças, entre 4 e 7 anos reclamavam que suas gengivas e olhos estavam ardendo.” – Marelaine, uma mulher de 20 e poucos anos, professora em uma comunidade rural no sul da Bahia.

“Eu comecei a me sentir mal, enjoada. Eu tentei beber água para melhorar, mas não ajudou. Eu comecei a vomitar várias vezes, até que vomitei tudo que tinha no estômago”. – Carina, uma estudante adulta de uma escola rural no município de Primavera do Leste, no estado do Mato Grosso.

“Dava pra ver o líquido branco [no ar]. Mesmo cheirando, vai para o seu cérebro. Você sente uma amargura na garganta. Você não quer mais respirar veneno – você quer respirar outro tipo de ar – mas não tem nenhum.” – Jakaira, um homem Guarani-Kaiowá de 40 e poucos anos, que vive em uma comunidade indígena a algumas horas de carro de Campo grande, no estado do Mato Grosso do Sul.

“Esta semana, um avião passou por cima da casa [de um vizinho] com o motor [de pulverização] ligado. A gente sente [os agrotóxicos] caindo na pele. Toda vez que bate, tem isso. Nós temos problemas com aviões há uns 10 anos. Fizemos várias ocorrências no quartel, delegacia [de polícia civil]. Não resolve – não existe justiça.” – Bernardo, um homem de 30 e poucos anos de uma comunidade quilombola a algumas horas de carro de Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais.

“[A pulverização de agrotóxicos] incomoda e causa náuseas; me dá dor de cabeça. Eu tento me sentar do outro lado da sala de aula [do outro lado de onde eles pulverizam]. Nós temos um ventilador [na sala de aula], ele ajuda um pouco, mas o cheiro continua. Eu senti náusea, tontura. É ruim porque você quer vomitar, mas fica preso na garganta.” – Danilo, um garoto de 13 anos, estudante em uma escola rural a algumas horas de carro de Goiânia, capital do estado de Goiás.

***Todos os nomes foram alterados a fim de proteger a identidade dos entrevistados