Energia
solar no campus universitário.
As residências estudantis da Universidade de
Dodoma, na Tanzânia, terão eletricidade sem cortes graças a um projeto de energia
solar. Foto: Kizito Makoye/IPS.
Por Kizito Makoye, da IPS –
Dodoma, Tanzânia, 24/11/2015 – A falta de
eletricidade causa estragos na vida cotidiana da população da Tanzânia. E,
quando se é um estudante que precisa se preparar para uma prova no dia seguinte,
sem luz os problemas se agravam e as consequências são nefastas. Mas os escuros
tempos estão para ser coisa do passado para muitos universitários.
Um grande empreendimento conjunto entre a
Universidade de Dodoma (Udom) e a Hecate Energy, uma das principais empresas
dos Estados Unidos que desenvolve projetos de energia renovável em grande
escala, se propõe a iluminar o campus universitário. O eixo do projeto é
a construção de uma enorme fazenda solar, a primeira em um terreno
universitário, com capacidade de 55 megawatts (MW) de energia elétrica para o
centro de estudos da capital da Tanzânia e seus arredores.
“É um dos maiores investimentos que já fizemos para
atender a necessidade de eletricidade da Universidade e seu entorno”, declarou
à IPS o vice-reitor da Udom, Idris Kikula. O projeto, implantado pela Udom
junto com a Universidade do Estado de Ohio, dos Estados Unidos, tem duas
etapas, uma das quais fornecerá energia solar às residências estudantis, às
salas de aula, aos centros de pesquisa e médicos até meados do próximo ano,
explicou.
No principal campus da Udom, os estudantes
costumam sofrer cortes de energia, o que prejudica seus estudos e coloca em
risco seu futuro acadêmico. Além disso, o aumento dos cortes de eletricidade
pode significar uma alta no número de crimes, e a população, especialmente as
mulheres, ficaria vulnerável a abusos físicos. Por outro lado, a luz permite um
entorno mais seguro para todos.
“É muito difícil estudar à noite quando não tem
eletricidade. Às vezes, ficamos sem luz em meio a um grupo de estudos ou quando
estamos correndo contra o relógio preparando um trabalho”, contou Rukia Hamisi.
Esta jovem, de 22 anos, estudante de engenharia de minas, muitas vezes tem que
recorrer à claridade proporcionada por seu celular para estudar à noite, o que
prejudica seu rendimento acadêmico.
“Procuro terminar rápido meus trabalhos porque, se
não entrego no prazo, muitas vezes o professor não o aceita”, afirmou Hamisi.
Ela é uma entre muitos universitários cujos estudos foram afetados pela falta
de eletricidade, quando a estatal Tanesco anunciou, em outubro, um cronograma
de cortes programados para enfrentar o crescente déficit energético.
Localizada no ensolarado terreno montanhoso da
localidade de Chimwaga, um dos distritos da região onde fica a capital, a
universidade é uma das várias instituições públicas da Tanzânia que sofrem os
frequentes apagões causados pelo minguante nível de água na central
hidrelétrica. As usinas hidráulicas, que geram quase 50% da eletricidade do
país, ultimamente estão paradas pela escassez de água decorrente da prolongada
seca.
“É quase impossível fazer qualquer coisa sem
eletricidade. Preciso usar meu computador para fazer meus desenhos gráficos”,
queixou-se Rashid Athumani, estudante de engenharia civil.
Apesar de impulsionar seu enorme potencial em
matéria de energias renováveis não convencionais, a Tanzânia tem dificuldades
para conseguir um equilíbrio em sua matriz elétrica, que se tornou
imprevisível.
Em uma desesperada tentativa de conseguir um fornecimento
elétrico confiável, a Udom lançou o projeto de energia solar, que também faz
parte de seus esforços para ser uma das primeiras instituições acadêmicas da
África em matéria de energia renovável. “Estou muito feliz por esse projeto,
porque após ser concluído creio que não teremos mais cortes de eletricidade”,
disse Hamizi, cheia de esperança.
A Udom gasta cerca de US$ 68 mil por ano com
eletricidade. O vice-reitor Kikula destacou que, com o novo projeto de energia
solar, os custos serão reduzidos enormemente. O projeto faz parte da estratégia
universitária para apresentar-se como um centro global de excelência em matéria
de energias renováveis e sustentabilidade. Está previsto que a segunda fase da
iniciativa, que, espera-se, fornecerá energia solar a várias áreas de Dodoma,
esteja terminada até o final de 2016.
A Tanzânia tem um enorme potencial em matéria de
energias renováveis não convencionais, como eólica, solar, biomassa e
geotérmica, mas os analistas afirmam que o governo não sabe aproveitá-lo.
Cerca
de 36,4% da população da Tanzânia tem eletricidade, dos quais 7% estão em zonas
rurais. A demanda por eletricidade aumenta entre 10% e 15% ao ano, segundo
dados do Ministério de Energia e Mineração.
O diretor do Instituto Global de Água, da
Universidade de Ohio, Marty Kress, destacou que o projeto da Udom melhorará a
disponibilidade de energia no campus universitário e arredores, o que
repercutirá em melhor qualidade de vida para todos. “Estamos honrados por nos
associarmos à Udom para tornar realidade esse projeto”, afirmou Kress na
cerimônia de apresentação do projeto, realizada em outubro.
As duas universidades apostam em instalar 125
sistemas de água de poço em Dodoma, cujas bombas funcionarão com energia solar,
tornando possível distribuir água potável e melhorar a saúde e o saneamento da
população de zonas rurais.
A Tanzânia está entre os principais países com
maior radiação solar do mundo. Numerosos especialistas concordam que projetos
como o da Udom poderão ter um papel importante para atender as crescentes
necessidades energéticas das comunidades rurais. Numerosas localidades já se
mostraram encantadas diante da possibilidade de o novo projeto acabar com as
dificuldades que sofrem os clientes do serviço de água.
“Como se vê, é uma zona árida, é muito difícil
encontrar água. Temos que nos deslocar por grandes distâncias para buscá-la,
mas, se essas bombas forem instaladas, nos ajudarão muito”, afirmou Salima
Farijala, morador em Bahi, um dos distritos da região de Dodoma, onde fica a
capital.
Fonte: ENVOLVERDE
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