Uganda sem dinheiro para
adaptar-se à mudança climática.
por
Prossy Nandudu, da IPS
Os ugandenses Michael Kusolo e sua mulher Mary
perderam os quatro filhos nos deslizamentos de terra ocorridos em 2012 no monte
Elgon. Foto: Wambi Michael/IPS.
Kampala, Uganda, 6/11/2014 – Até outubro deste ano,
a única fonte de renda da agricultora Allen Nambozo eram couves, cenouras e
bananas, que cultivava nas ladeiras do monte Elgon, no distrito ugandense de
Bulambuli. Entretanto, desde que as chuvas arrasaram sua pequena propriedade,
não tem ideia de como ganhará a vida. As chuvas não destruíram apenas cultivos.
A rede viária que ligava Bulambuli com os vizinhos distritos de Mbale e
Kapchorwa, também ficou devastada.
Nambozo e seus vizinhos vendem o que produzem nos
mercados locais desses distritos aldeões. “Agora não tenho onde cultivar
alimentos. Tenho que esperar as chuvas pararem para poder recomeçar”, explicou
à IPS. Bulambuli fica perto das ladeiras do fértil monte Elgon, que é um vulcão
inativo. Apesar do risco que implica cultivar nesse lugar, muitos dos vizinhos
de Nambozo optaram por fazê-lo pela produtividade de seu solo. As autoridades
distritais pediram aos moradores que se mudem para áreas mais seguras, por medo
de que as contínuas chuvas causem deslizamentos de terra e possíveis mortes.
Atualmente as chuvas fazem com que as pessoas de
cerca de 500 residências corram risco caso não se mudem, disse à IPS Sam
Wamukota, membro do comitê local de desastres. Mas muitos resistem porque não
há instalações adequadas para abrigá-los e porque querem permanecer perto de
suas férteis hortas. “Mesmo indo para a escola em busca de abrigo, não teremos
onde dormir nem o que comer. É inútil. Penso que deveriam nos deixar em nossas
casas, porque ali temos elementos para usar em lugar de sofrer em grupo”, disse
à IPS o marido de Nambozo, Mugonyi.
Festus Bagoora, especialista no manejo de recursos
naturais da Autoridade Nacional de Manejo Ambiental, afirmou que os esforços da
entidade, para que a população se mude para lugares mais seguros, foram
frustrados por políticos que querem manter os eleitores em seu distrito.
A contínua prática da agricultura no monte Elgon e
nas áreas próximas fez com que fossem cortadas árvores em suas encostas. “Foi
eliminada a vegetação que deveria reduzir a velocidade da água que vem da
montanha. É por isso que cada vez que ocorre um deslizamento de terra,
especialmente no Elgon, é severo, porque esses líquidos arrastam muito
material, pedras, por exemplo, que é perigoso para as comunidades”, apontou
Bagoora.
De acordo com esse especialista, a Autoridade vigia
a área há tempos, mas os conselhos do governo às comunidades de áreas propensas
a desastres foram inúteis. É provável que os deslizamentos de terra continuem
devido à mudança climática, acrescentou. Uganda é um dos países da África
oriental com probabilidade de experimentar maiores chuvas e secas nos próximos
anos, e é preciso que implante práticas adequadas de manejo ambiental.
Segundo o quinto e recente informe do Grupo
Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC), algumas
áreas do sul e leste da África experimentarão em cada década um aumento de
cinco a 50 milímetros na média anual de precipitações.
Algumas avaliações sugerem que as temporadas úmidas
serão mais intensas, como ocorre atualmente em Uganda. O informe acrescenta que
a maioria dos países que experimenta essas mudanças de clima carece de
suficientes dados que lhes permitam elaborar planos adequados para
enfrentá-las. É o caso de Uganda, que atualmente não possui os recursos
necessários para responder às emergências de um clima variável.
O presidente do distrito de Bulambuli, Simon Peter
Wananzofu, culpou o governo por demorar muito para responder ao desastre.
“Estamos suplicando ao governo que instale um acampamento para reassentar a
população em perigo, assim, enquanto esperamos que implante planos para
melhorar a infraestrutura, estaríamos seguros em alguma parte. Mas não
respondeu ao nosso pedido”, contou por telefone à IPS.
“Enquanto falamos, há duas grandes rachaduras na
montanha, já há tempos. É provável que afetem cinco subcondados de Bulambuli
superior. A rede de estradas do baixo Bulambuli também ficou cortada pelas
inundações. Assim, a situação está ficando patética”, afirmou.
Porém, o Ministério de Água e Ambiente, por meio de
sua política de mudança climática, elaborou pautas para incluir atividades
relativas a esse fenômeno em seu orçamento, segundo disse à IPS o secretário
permanente dessa pasta, David Ebong. “Começando pelos processos orçamentários
de 2015-2016, queremos que essas pautas integrem o ciclo orçamentário, para que
cada setor seja obrigado a criar em seu orçamento um item dedicado à mudança
climática, de modo que, coletivamente, possamos mobilizar recursos de todos os
setores”, explicou.
Ebong considera que o país ainda não conta com os recursos
financeiros adequados para enfrentar os problemas relacionados com a mudança
climática. “Além do financiamento nacional, devemos nos fixar em outras opções,
como o financiamento bilateral e o realizado sob a órbita da Organização das
Nações Unidas (ONU), como o Fundo Verde para o Clima, entre outros”, ressaltou.
Ambientalistas como Bagoora veem isso com bons
olhos. “Criar um fundo para a mudança climática é uma boa medida; a maneira com
reagimos é muito ineficiente. Deveríamos estar preparados em lugar de reagir.
Quando ocorre um desastre, se começa a buscar dinheiro em todos os lados em
lugar de agir imediatamente. E quando esse dinheiro demora a chegar, a
população sofre e o problema piora”, enfatizou.
Fonte: ENVOLVERDE
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